Delação indica que Mauro Cid repassou US$ 86 mil a Bolsonaro da venda de joias
Valores foram transferidos de forma fracionada entre 2022 e 2023
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Foto: EBC/Agência Brasil
A delação do tenente-coronel Mauro Cid, realizada em 2024 e que teve o sigilo derrubado nesta quarta-feira (19) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, indica que o ex-ajudante de ordens e seu pai, o general Lourena Cid, repassaram US$ 86 mil (R$ 489 mil, na atual cotação) a Jair Bolsonaro (PL) entre 2022 e 2023 após a venda de kits de joias e relógio recebidos pelo ex-presidente como presentes dados a ele enquanto representante do Estado brasileiro.
Segundo Mauro Cid, os relógios Rolex e Patek Philippe foram vendidos por R$ 68 mil e o kit de joias Chopard foi vendido por R$ 18 mil. As duas vendas foram realizadas nos Estados Unidos, em 2022.
Na delação, Mauro Cid detalhou repasses que somam US$ 78 mil ao ex-presidente em valores fracionados, e de forma direta ou indireta:
US$ 18 mil (R$ 103 mil) por Mauro Cid no Brasil, em junho de 2022;
US$ 30 mil (R$ 171 mil) por Lourena Cid em Nova York, em setembro de 2022;
US$ 10 mil (R$ 57 mil) por Lourena Cid no Brasil, no final de 2022;
US$ 20 mil (R$ 114 mil) por Lourena Cid em Miami, em fevereiro de 2023.
Ainda conforme o ex-ajudante de ordens, o restante dos US$ 86 mil foi repassado por Lourena Cid em março de 2023.
No primeiro caso, Cid viajou aos EUA para negociar parte das joias e retirou do valor final (US$ 18 mil) os gastos com passagens e aluguel de um automóvel. Tanto os US$ 30 mil quanto US$ 10 mil entregues por Lourena Cid para Bolsonaro foram entregues para o ajudante de ordens, que os repassou ao presidente, indica o documento. Já os US$ 20 mil foram entregues por Lourena Cid "em mãos" a Osmar Crivelatti, assessor que acompanhava Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos, entre o fim de 2022 e início de 2023.
Bolsonaro foi indiciado junto de 11 pessoas em julho de 2024 no inquérito das joias, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente é suspeito de ter cometido os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Bolsonaro sempre negou os crimes. Os primeiros indícios envolvendo o caso das joias surgiram em março de 2023. Na época, um kit de joias dado pela Arábia Saudita ao governo Bolsonaro ficou retido no Aeroporto de Guarulhos, na Receita Federal, desde o fim de 2021.