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Dia Mundial do Café: Um contexto histórico pelo produto símbolo do Brasil

Dia Mundial do Café: Um contexto histórico pelo produto símbolo do Brasil

Nesta segunda-feira, 14 de abril, comemora-se a segunda bebida mais consumida no país, atrás apenas da água

| Autor: Antonio Marzaro

Foto: Freepik

Neste primeiro trimestre de 2025, poucas coisas foram tão faladas quanto o aumento do preço do café. De acordo com dados divulgados pelo IBGE, por meio do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o produto teve uma alta de 77,78% nos últimos 12 meses, até março. O IPCA do último mês avançou 0,56%, um pouco acima das estimativas do mercado. A alta é de 5,47%, bem acima do teto da meta do Banco Central, que é de 4,5%. 

Todavia, o avanço nos preços não foi inesperado. A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), em fevereiro, já alertava que o valor dos grãos seguiria subindo pelos próximos dois meses. Já a Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que a alta deve seguir no mundo por pelo menos quatro anos. A principal causa é a diminuição na oferta do produto, uma vez que as condições climáticas mundiais estão completamente desfavoráveis para seu plantio.

Chega a ser curioso como o café, que sempre foi presente e abundante na cultura e na economia brasileira, está se tornando escasso. Você pode não acreditar (ou não gostar de beber), mas ele faz parte até do vocabulário nacional. Toda manhã, você acorda e toma o seu café da manhã, que não necessariamente terá uma xícara com o líquido presente. Quem gosta de história do Brasil, sabe que São Paulo se tornou o que é hoje por causa dos cafeicultores, é só lembrar das aulas de história e da “Política do Café com Leite”. Quem mandava no país eram os produtores de café.

Outro caso foi o Convênio de Taubaté que, em 1906, buscou controlar o preço do produto, uma vez que ele estava desvalorizado no mundo e o Brasil dependia de sua exportação. Ali ficou decidido que o Governo compraria o café a um preço mínimo, assegurando a renda dos cafeicultores caso o valor da saca ficasse abaixo do estipulado. Além disso, foi combinado o controle do volume exportado e a realização de empréstimos para manter a compra dos grãos excedentes, evitando uma baixa de preço no mercado internacional. 

O plano deu certo até 1929, quando a Bolsa de Valores de Nova Iorque quebrou. A crise tirou o poder dos cafeicultores e abriu espaço para outras oligarquias, o que foi consumado com a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas conquistou a presidência. O gaúcho não deixou totalmente de lado a política de valorização do café, mas foi preciso queimar diversos lotes para tornar o produto valioso no mercado (cerca de 78 milhões). Já os empréstimos realizados anteriormente, como não foram quitados, geraram alta da inflação e crescimento da dívida externa.

Hoje, mais de um século depois das primeiras tentativas de controle do mercado cafeeiro, o Brasil volta a enfrentar os desafios de um produto que, apesar de culturalmente enraizado, segue suscetível às condições climáticas adversas e à economia global. O aumento expressivo nos preços reacende discussões sobre a dependência histórica do país em relação ao café e evidencia como, mesmo diante de avanços tecnológicos e novas políticas econômicas, certos ciclos parecem inevitáveis. Enquanto isso, o consumidor sente no bolso o peso de uma bebida que, embora cotidiana, carrega em cada gole, uma longa e complexa trajetória.

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