Páscoa de 2025 terá menos ovos, chocolate mais caro e queda nas vendas
Alta recorde do cacau, redução na produção e impacto cambial encarecem produtos típicos da data e mudam o cenário do mercado brasileiro

Foto: Alf Ribeiro/Fotoarena
A Páscoa de 2025 chega com um sabor mais amargo para o bolso do consumidor. A disparada nos preços do cacau no mercado internacional — que acumula alta de 190% em dois anos — tem provocado efeitos em cadeia: chocolate mais caro, redução na oferta de ovos e estratégias de fabricantes para conter o impacto nas prateleiras.
Em dezembro de 2024, o preço da tonelada de cacau atingiu US$ 11.040 na Bolsa de Nova York, representando um aumento de 163% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Essa valorização é consequência direta de adversidades climáticas em plantações africanas — continente que concentra 70% da produção global da amêndoa. A Costa do Marfim, sozinha, responde por 45% desse volume.
Como o cacau é uma commodity, seu preço segue padrões internacionais, afetando diretamente a indústria brasileira. Mesmo com manobras para amenizar o impacto — como embalagens menores e maior variedade de produtos —, as empresas devem sentir mais dificuldade na Páscoa, já que a matéria-prima usada no período foi adquirida no segundo semestre do ano passado, justamente durante o pico dos preços.
Produção menor e estratégias de contenção
De acordo com a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), a produção de ovos de chocolate será 22,4% menor este ano. A estimativa é de 45 milhões de unidades, contra os 58 milhões produzidos em 2024.
O cenário internacional também pesa: 2024 foi o terceiro ano seguido em que a produção global de cacau ficou abaixo da demanda, segundo a ICCO (Organização Internacional do Cacau). Desde a safra 2021/2022, o déficit acumulado já soma 758 mil toneladas. No Brasil, que responde por apenas 4% da produção mundial, a colheita de 2024 foi de 179.431 toneladas, frente a uma demanda interna de 229 mil — uma queda de 18,5% em relação a 2023.
Além disso, a moagem também caiu, refletindo a retração no consumo causada pelo aumento no preço final do chocolate, segundo a AIPC (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau).
Aumento nos preços e variação no comércio
Dados do Procon de Sarandi (PR), que realizou um levantamento em sete supermercados da cidade no dia 14 de abril, mostram variações expressivas nos preços dos ovos de Páscoa. O ovo Trakinas de 190g, por exemplo, apresentou variação de 55,99%, podendo ser encontrado entre R$ 49,99 e R$ 77,98. Já o ovo Ouro Branco de 359g variou 38,15%, e o tradicional Diamante Negro de 163g teve diferença de até 35,70%.
Segundo o coordenador do Procon, Dr. Emerson Rogério Farias, a pesquisa tem como objetivo orientar os consumidores sobre como economizar na data, reforçando a importância de comparar preços antes da compra.
Vendas em queda e cenário econômico
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta uma queda de 1,4% nas vendas para esta Páscoa, totalizando R$ 3,36 bilhões, já descontada a inflação. O chocolate, carro-chefe da data, deve ter aumento médio de 18,9% — o maior reajuste dos últimos 13 anos.
Segundo a CNC, o encarecimento do cacau e a desvalorização do real frente ao dólar (de R$ 5 para R$ 5,80 em um ano) são os principais fatores que pressionam os preços. A cesta de produtos ligados à Páscoa também deve sofrer reajustes, com destaque para o bacalhau (alta de 9,6%) e o azeite de oliva (9%).
“O atual momento econômico, marcado por pressões externas e volatilidade cambial, tem afetado o varejo em datas importantes como a Páscoa. Isso obriga o setor a rever suas estratégias de curto e longo prazo”, afirma José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac.
O economista da CNC, Fabio Bentes, complementa que o recuo nas importações também aponta para um cenário de desaceleração. Em março, o volume de chocolate importado caiu 17,6%, enquanto o bacalhau teve retração de 11,7%.