Empresário diz que 'gabinete paralelo' do MEC cobrava propina em pneu
De acordo com Trindade, o acordo era pra que o dinheiro fosse pago em espécie e escondido na roda de uma caminhonete

Foto: Arquivo/Agência Brasil
Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, deu aval para que contratos de obras federais de escolas fossem negociados em troca de propina de R$ 5 milhões para os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. A afirmação foi dada ao Estadão pelo empresário do setor da construção civil Ailson Souto da Trindade, que é candidato a deputado estadual pelo PP no Pará.
De acordo com Trindade, o acordo era pra que o dinheiro fosse pago em espécie e escondido na roda de uma caminhonete para ser levado de Belém (PA) até Goiânia (GO), onde fica a sede da igreja dos pastores. Na denúncia são relatados elementos para o inquérito que tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) por indícios de interferência de Jair Bolsonaro (PL) na investigação contra o ex-ministro.
A ação foi aberta após o Estadão revelar a existência de um "gabinete paralelo" no MEC controlado por Gilmar e Arilton para facilitar o acesso à pasta. O caso resultou na prisão de Ribeiro e dos dois pastores.
À época, prefeitos chegaram a relatar que dois pastores cobravam propina em dinheiro e até em ouro para liberar verbas e acesso a Ribeiro, além de exigirem a compra de Bíblias com a foto do ministro.
"Funcionou assim: o ministro fez uma reunião com todos os prefeitos (no prédio do MEC, em 13 de janeiro de 2021). Depois houve o coquetel, num andar mais acima. Lá, a gente conversou, teve essa conversa com o ministro. Eu não sabia nem quem era o ministro. Ele se apresentou: Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca, você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso", disse o empresário