Corpo de Mãe Bernadete é sepultado na Quinta dos Lázaros, em Salvador
Ialorixá e líder quilombola foi assassinada a tiros na noite de quinta-feira (17), dentro de casa, em Simões Filho
Foto: Reprodução/Redes sociais
O corpo da líder quilombola Bernadete Pacífico, morta a tiros em Simões Filho (BA), foi sepultado por volta das 11h deste sábado (19), no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, em Salvador. No mesmo local está enterrado filho dela, Flávio Gabriel dos Santos, o Binho do Quilombo, executado em 2017.
A ialorixá de 72 anos, mais conhecida como Mãe Bernadete, foi assassinado na noite de quinta-feira (17) por homens armados que invadiram sua casa. No momento do crime, ela estava com os netos, que foram colocados em um quarto.
Na noite de sexta (19), o corpo de Mãe Bernadete foi velado no quilombo Pitanga dos Palmares, do qual era líder, em Simões Filho.
Filho de Bernadete Pacífico, Jurandir Wellington Pacífico afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que a sua mãe recebia ameaças havia pelo menos seis anos e disse acreditar que ela foi vítima de um crime de mando.
"Foi um crime de mando, não tem para onde correr. O cara foi pago para executar. Isso é notório, foi um crime de execução. Executaram meu irmão em 2017, agora executaram minha mãe. Isso me faz pensar que eu sou o próximo", declarou Jurandir.
Líder quilombola relatou sofrer ameaças de fazendeiros
Em um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, Bernadete Pacífico relatou as ameaças que sofria e violência contra a comunidade quilombola.
À época do evento, a comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, ela falou sobre a falta de respostas na investigação do assassinato do filho, Flávio Gabriel dos Santos, o Binho do Quilombo, em 2017.
O crime ocorreu no território quilombola de Pitanga dos Palmares, na zona rural do município. Em dezembro daquele ano, um homem chegou a ser preso temporariamente sob suspeita de ter cometido o crime. O caso, no entanto, ainda não foi elucidado.
"Para a senhora ter uma ideia, até hoje não sei o resultado do assassinato de meu filho. Abalou todo mundo. Foi no mesmo período em que aconteceu a morte de Marielle (Franco). Inclusive eu fui em diversos encontros com a mãe de Marielle. É injusto. Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em um quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região", disse Bernadete em trecho do discurso durante o encontro com a presidente do STF.
"Hoje eu vivo assim, que eu não posso sair, que estou sendo revistada, minha casa toda cheia de câmeras, me sinto até mal, mas é o que acontece", acrescentou a quilombola naquela ocasião.