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Morre aos 94 anos a artista plástica Lygia Sampaio

Soteropolitana foi contemporânea e elogiada por outros grandes nomes como Carybé, Mário Cravo, Rubem Valentim, Genaro de Carvalho e Carlos Bastos.

| Autor: Redação

Foto: Gervasio Batista/Divulgação

A artista plástica baiana Lygia Sampaio morreu aos 94 anos, em Salvador, mesma cidade em que nasceu, na manhã de sábado (15). Contemporânea e elogiada por outros grandes nomes da arte baiana, como Carybé, Mário Cravo e Rubem Valentim, ela faleceu em casa, de causas naturais. As informações são do g1

Entre as décadas de 1940 e 1950, Lygia Sampaio revolucionou as artes visuais, ao se tornar a única mulher a participar do movimento que deu o experimentalismo estético do modernismo na Bahia, ao lado dos companheiros de tela.

Suas obras são marcadas pela presença forte de mulheres, como em “Menina de Plataforma” e “Pequena Bordadeira”, e pela inclusão da vida urbana de Salvador, como em “Palma”. As telas foram expostas nos Salões Baianos de Belas Artes, além do Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

A artista também foi a responsável pela implementação do Museu de Imprensa da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e trabalhou por 30 anos no Arquivo da Prefeitura de Salvador, depois de forma-se em Museologia pela Universidade Federal da Bahia em 1975.

Em 2006, Lygia publicou o livro “De Sam Payo a Sampaio”, fruto de pesquisa genealógica e ilustrado com desenhos em bico de pena de sua autoria, que ganharam exposição no Museu de Arte da Bahia. A última exposição da artista foi realizada em 2014, no Museu de Arte Sacra de Salvador.

A pioneira, elogiada por outros grandes
Diversos artistas plásticos foram a público, em suas épocas, para elogiar Lygia Sampaio. Confira os principais deles:

  • Carybé (Salvador, 1984)

"Lygia Sampaio: uma presença feminina na retomada da arte que se deu na Bahia na década de 40. Os seus trabalhos eram tirados da vida que vivia, óleos cheios de emoção nos devolviam ruas, becos e gente, numa pintura carnuda e meiga, porque ela era - e é - meiga como as linhas e cores de seu trabalho. No desenho, se sente que suas figuras são feitas com carinho, diria com ternura".

  • Mário Cravo (Salvador, 1984)

"Rever os recentes desenhos de Lygia representa uma retomada de experiências e sensações. Companheira e amiga de tantos anos, possui ainda fresca sua visão do mundo, através do seu desenho levemente colorido, onde os temas de personagens, naturezas-mortas e retratos permanecem estimulantes e vivos".

  • Carlos Bastos (Salvador, 1984)

"Na época em que Lygia Sampaio passou a pertencer ao grupo que rompeu com a pintura dita "acadêmica", eu me encontrava fora do Brasil, só vindo a conhecê-la, já em fase de crescimento, no "Anjo Azul". Num grupo de cactus, ela era a única flor mulher, deste movimento. Suave e tímida, ao mesmo tempo corajosa para a época. Estas qualidades transparecem em sua pintura. Como o seu rosto de Olívia de Havilland, ela esconde uma força e um destino, que rompe barreiras e cria cultura para a sua terra".

  • Myriam Fraga (Salvador, 1984)

"É difícil subtrair a pintura de Lygia da figura de Lygia. Sua modéstia, sua extrema delicadeza, a finura, tudo é transportado para a tela através de um desenho fluente, sóbrio e exato, extremamente gracioso e bem expresso".

  • Matilde Matos (Salvador, 2010)

"Talento inato, Lygia Sampaio fez o curso de desenho e, apenas, o primeiro ano de Belas Artes da UFBA. Cedo se destacou pela força do seu desenho preciso e criativo e pela expressividade da sua pintura. (...) De natureza tímida, a desenhista se animou a participar da uma primeira exposição com Jenner, Rubem Valentim e Mario Cravo, em 1950. A desenhista e pintora evoluiu rapidamente, e seus retratos a óleo sobre tela, pintados entre 1952 e 55, revelam tocante sensibilidade. O desenho figurativo ganhou uma trama muito característica, enfatizada nas letras miúdas de matérias de jornal, em técnica mista que desafia a colagem, suprindo as sombras".

  • Cesar Romero (Salvador, 2013)

"Surgem santos de devoção, naturezas-mortas, igrejas e tudo que a memória baiana lhe deu por empréstimo. Pode-se pensar que Lygia apostou em duas formas de marcar a superfície, uma com desenhos lineares soltos, como nas imagens de Santo Inácio, Iaôs, Dominó, onde a fluidez dos traços apenas sutilmente insinua. Outra nas colagens com jornais, no suporte onde geralmente surgem rostos que são trabalhados com linhas sobrepostas, verticais, horizontais, diagonais, circulares, pontilhadas, criando uma trama densa, que vaza em claro-escuro. Aí entra um diálogo sutil entre as letras dos jornais e a teia em nanquim. O destaque é sempre a figura humana. Certeira em suas intenções, foge dos excessos e investiga as entranhas, na singeleza dos recursos e meios".

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