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Dependência emocional: uma armadilha silenciosa que pode conduzir ao feminicídio

Dependência emocional: uma armadilha silenciosa que pode conduzir ao feminicídio

Com 1.463 casos de feminicídio registrados no último ano, a dependência emocional pode ser uma armadilha que eleva o risco de violência extrema

| Autor: Felipe Cerqueira

Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

A dependência emocional é uma condição que, apesar de muitas vezes ser tratada de maneira superficial, pode ter consequências devastadoras na vida de muitas mulheres. Essa forma de apego excessivo, em que uma pessoa se torna emocionalmente dependente do parceiro, pode se transformar em uma verdadeira armadilha que impede a vítima de enxergar os riscos que corre e de tomar medidas para se proteger.

De acordo com o relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Brasil tem testemunhado um aumento alarmante nos casos de feminicídio, com 1.463 mulheres vítimas do crime no último ano – uma média de um caso a cada seis horas. Esse é o maior número registrado desde a criação da lei de combate a esse crime, em 2015, representando um aumento de 1,6% em relação a 2022.

A psicóloga Dra. Maria de Souza explica que “A dependência emocional é uma condição em que uma pessoa desenvolve uma necessidade excessiva de receber aprovação, atenção e amor do parceiro, muitas vezes a ponto de negligenciar suas próprias necessidades e bem-estar”. Esse tipo de apego é mais comum em pessoas que enfrentaram traumas emocionais no passado ou cresceram em ambientes familiares disfuncionais. Segundo a Dra. Maria, “Pessoas que cresceram em ambientes onde o afeto era condicionado, ou que passaram por rejeições significativas, podem desenvolver uma necessidade intensa de segurança emocional, buscando-a de forma excessiva em relacionamentos amorosos”.

O problema é agravado quando a dependência emocional impede a vítima de sair de um relacionamento abusivo. Muitas vezes, a mulher sente que não pode viver sem o parceiro, mesmo quando ele a maltrata. “A dependência emocional pode levar uma mulher a acreditar que não pode viver sem o parceiro, mesmo que ele seja abusivo. O medo de ficar sozinha ou de não encontrar outro relacionamento pode ser tão paralisante que ela tolera comportamentos nocivos”, alerta a psicóloga. Esse ciclo de controle e submissão pode se tornar tão perigoso que, em casos extremos, leva ao feminicídio.

O levantamento do FBSP revelou ainda que 18 estados apresentaram uma taxa de feminicídio acima da média nacional, de 1,4 mortes para cada 100 mil mulheres. Mato Grosso lidera essa estatística, com uma taxa de 2,5 mulheres mortas por 100 mil, seguido de Acre, Rondônia e Tocantins, com 2,4 mortes por 100 mil. Já as menores taxas foram registradas no Ceará (0,9 por 100 mil), São Paulo (1,0 por 100 mil) e Amapá (1,1 por 100 mil). Contudo, de acordo com o FBSP, há uma expressiva subnotificação de feminicídios no Ceará.

A psicóloga Dra. Maria de Souza destaca que a dependência emocional pode se manifestar em sinais como o isolamento social, onde a vítima se afasta de amigos e familiares, aceitando comportamentos abusivos como normais ou merecidos. “Se a pessoa começa a negligenciar sua própria segurança ou saúde emocional por medo de perder o parceiro, isso indica que a dependência emocional está se tornando perigosa”, explica.

Essa dinâmica se agrava quando o abusador percebe que detém total controle sobre a vítima. “A dependência emocional pode criar uma situação em que a vítima se sente presa em um relacionamento abusivo, acreditando que não há saída”, observa a Dra. Maria. O ciclo de controle pode escalar até o ponto em que o agressor, temendo perder o domínio sobre a mulher, recorre à violência fatal.

O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídios, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). O país só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos de assassinato de mulheres. Em comparação com países desenvolvidos, mata-se 48 vezes mais mulheres no Brasil do que no Reino Unido, 24 vezes mais do que na Dinamarca e 16 vezes mais do que no Japão ou na Escócia.

Agosto lilás: um mês de conscientização e ação

O Agosto Lilás é uma campanha nacional de conscientização sobre a violência doméstica, lançada com o objetivo de sensibilizar a sociedade e combater todas as formas de violência contra a mulher. O mês foi escolhido em referência à sanção da Lei Maria da Penha, que completou 17 anos em 2023 e é considerada uma das legislações mais avançadas no mundo para a proteção das mulheres.

Durante o Agosto Lilás, diversas ações são realizadas em todo o país, incluindo palestras, workshops, campanhas educativas e atividades de apoio a mulheres vítimas de violência. A campanha busca, sobretudo, informar as mulheres sobre seus direitos e os recursos disponíveis para sua proteção. Além disso, o movimento tem como objetivo fortalecer a rede de apoio, encorajando as denúncias e a quebra do ciclo de violência.

Saiba como denunciar casos de violência doméstica:

? Emergência: ligue 190 para falar com a Polícia Militar. O atendimento telefônico é gratuito, imediato e com atendimento 24 horas.
 

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