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Médica acusa ex-marido de abusar sexualmente dos filhos gêmeos de 3 anos

Médica acusa ex-marido de abusar sexualmente dos filhos gêmeos de 3 anos

Supostas agressões sexuais teriam ocorrido em Alagoinhas, no interior da Bahia; O pai das crianças, que também é médico, é acusado de estupro juntamente com o avô paterno

| Autor: João Grassi*

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Uma médica que vive em Salvador, na Bahia, denunciou o ex-marido por abuso sexual contra os filhos gêmeos do casal, de apenas três anos (um menino e uma menina). De acordo com a mãe das crianças, ela começou a suspeitar que tinha algo errado após a menina retornar de um final de semana de viagem, alegando sentir dores nas partes íntimas por ter sido tocada pelo pai, que também é médico, e pelo avô.

A reportagem do Varela Net conversou com a médica, que preferiu manter o anonimato para não expor as crianças e para zelar pela própria segurança, contou detalhes sobre a situação. 

Tudo começou quando os menores retornaram de uma comemoração de festas natalinas de 2021, na cidade de Alagoinhas, no interior da Bahia. A menina revelou ter sido tocada na "popoca" pelo pai, e disse que sentia dores nas partes íntimas. Ao ser levada para emergência, a criança teve um quadro de hiperemia constadada na vagina e no ânus, o que representa um aumento na circulação do sangue nos órgãos ou região do corpo, resultando em uma vermelhidão na parte afetada.

"Eu levei o exame médico (na Dercca) de duas pediatras com alteração vaginal e anal. Minha filha chegou do final de semana do natal de Alagoinhas, se queixando que estava com dor na 'popoca', e disse que tinha sido tocada pelo pai e pelo avô e que estava doendo. A gente levou ela no Hospital Aliança, a pediatra inicialmente atendeu minha filha, que relatou que tinha sido tocada pelo avô e pelo pai. Com isso, a pediatra chamou outra pediatra para as duas juntas fazerem o exame físico, pois era suspeita de abuso (...) Elas não podem confirmar que ocorreu o abuso, mas elas suspeitavam", relatou a médica.

As pediatras que atenderam a criança orientaram que a médica prestasse queixa na Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes praticados contra Ciança e Adolescente (Dercca). Com o laudo médico, a delegada que pegou o caso provisoriamente solicitou uma oitiva com a psicóloga do Dercca.

Em novembro, cerca de um mês antes da ida ao interior que o avô paterno vive, o irmão gêmeo da menina ainda surgiu com hematomas na coxa, próximo da virilha. No aplicativo da escola onde as crianças estudam, uma professora já havia questionado sobre "manchas roxas" no corpo do menino. Ao ser questionado, o pai alegou que o garoto "caiu algumas vezes".

Recomendada pela delegada, a mãe também levou o menino à oitiva, que nunca tinha relatado nenhum abuso. Contudo, ele acabou contando que o avô teria tocado no seu pênis e que havia sido dolorido. Então, o menino também foi adicionado como vítima no processo.

Após ir ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) em busca de ajuda, a mulher foi recomendada que levasse os menores para serem acompanhados pelo Serviço de Atenção à Pessoa em Situação de Violência Sexual do estado da Bahia (Instituto Viver).

Babá relata cotidiano

Em depoimento, a babá das crianças disse já ter presenciado o suposto agressor trancado no quarto e banheiro com os gêmeos. A funcionária ainda revelou que era impedida de passar uma pomada no menino, que tem uma forte dermatite. Por conta disso, ele teve coçeiras e até sangramentos.

A babá ainda relatou que o pai a coagia, dizendo que "o que acontecesse na casa dele, era pra ficar na casa dele".

Vídeos gravados pela denunciante e obtidos pela reportagem do Varela Net ainda apontavam um descontentamento da criança na presença do pai, que chorava e estaria mostrando vontade de não ir a casa do suposto agressor.

Laudos e arquivamento

O Varela Net teve acesso aos laudos do Instituto Viver. A psicóloga do instituto relata ter atendido os gêmeos em 19 sessões, e também indicado que as crianças deveriam manter distância do suposto agressor, que seria o pai.

Nos laudos, é possível ver que as crianças relatam os abusos sofridos pelo pai e avô em frases como "o papai pegou na ‘popoca’ dela" e “vovô e papai pegou no pinto e no bumbum”.

Entretanto, apesar de a mãe ter apresentado a queixa, a promotora Sandra Patrícia Oliveira solicitou que o caso fosse arquivado, pedido que foi acatado pela Justiça. O MP-BA optou por não oferecer denúncia, arquivando o processo.

O documento consta que a promotora concluiu que "as provas até aqui levantadas não nos fornecem subsídios suficientes para a deflagração da ação penal contra os investigados".

Uma outra psicóloga analisou o caso e identificou erros no laudo do Instituto Viver, mas, de acordo com uma ligação gravada pela médica denunciante, a profissional teria admitido que não trabalha com crianças e ainda recomendou outra pessoa para atender menores.

"Como eles colocam um laudo de uma psicóloga que não tem experiência com crianças, apenas com adultos? E em um caso mais específico ainda: para analisar abuso sexual com duas crianças de três anos", questionou a mãe.

O relatório desta psicóloga foi levado em consideração pela promotora Sandra Patrícia, além do fato de que as médicas que atenderam a menina na emergência afirmaram que existem várias causas possíveis nos diagnósticos de hiperemia.

Procurado pela reportagem do Varela Net, o Ministério Público da Bahia (MP-BA), por meio de sua assessoria de imprensa, informou que: "não podemos prestar informações por se tratar de processo sigiloso, por envolver pessoas com menos de 18 anos".

Por meio de nota, a Polícia Civil afirmou que: "Se o caso foi arquivado pleo MP, isso significa que o inquérito foi concluído e remetido pela Polícia Civil a eles. Sendo assim, não tem novas informações sobre o caso".

*Sob a supervisão do editor Rafael Tiago Nunes

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