Notícias
Bahia
50 anos de Ilê, 50 anos de história, 50 anos de luta e representação negra

50 anos de Ilê, 50 anos de história, 50 anos de luta e representação negra

"Que bloco é esse? Eu quero saber. É o mundo negro que viemos cantar para você."

| Autor: Iarla Queiroz

Foto: André Frutuôso

O bloco Ilê Aiyê, ou simplesmente “Ilê”, como é conhecido pelos soteropolitanos, é o primeiro bloco afro do Brasil, fundado em 1º de novembro de 1974 por Antônio Carlos dos Santos e Apolônio de Jesus, moradores do bairro do Curuzu, em Salvador.

Com a proposta de ser um bloco negro que cantaria a história do povo negro, o bloco foi batizado de Ilê Aiyê, que pode ser traduzido como “Mundo Negro” ou “Casa de Negro”.

Sua história se mistura à de um tradicional terreiro baiano, o Ilê Axé Jitolu, que por aproximadamente 20 anos serviu como ponto de apoio para o bloco, sendo utilizado como diretoria, secretaria, salão de costura e recepção de associados.

O bloco estreou nas ruas de Salvador durante o carnaval de 1975, com a música "Que Bloco é Esse?", que apresenta o bloco e fortalece a luta negra.

"Branco, se você soubesse o valor que o negrão tem, tu tomava banho de piche e ficava pra negrão também", diz a música Que Bloco é Esse?, do grupo Ilê Aiyê.

Tradicionalmente, o bloco sai da ladeira do Curuzu, levando muito axé e história, e segue um rito cultural-religioso que marca sua saída para as ruas. A cerimônia começa com uma emocionante bênção, acompanhada por uma poderosa orquestra de percussionistas e o coro negro em celebração. São oferecidos milho branco e pipoca, alimentos dedicados a Oxalá, orixá da paz, e a Obaluaiê, protetor da saúde. Em seguida, uma revoada de pombas brancas anuncia a entrada da Deusa do Ébano e o início do desfile de Carnaval na emblemática ladeira do Curuzu.

Desde sua fundação, o Ilê Aiyê tem como missão preservar e valorizar a cultura afro-brasileira, destacando a história e as contribuições das nações africanas e das revoltas negras no Brasil. O bloco promove a identidade étnica e a autoestima do povo negro, criando uma narrativa unificada sobre a história afro-brasileira.

"A minha beleza negra, aqui é você quem manda. Vai exalar seu charme, vai, para o mundo ver. Vem mostrar que você é a Deusa Negra do Ilê", diz a emblemática música O Mais Belo dos Belos.

Após diversos discos lançados e batalhas vencidas para manter o bloco nas ruas, o Ilê Aiyê comemora 50 anos de história.

"Foi tanto doutor e bisturi, cortando e sorrindo pra mim. Depois de grandes omissões, arrasta-pé Curuzu-Liberdade e cai na cidade do breu dessa multidão. E o Ilê Aiyê, que hoje é carnaval, faz o mundo cair na real e viver essa emoção", diz a música Exclusão, do Ilê Aiyê.

Essa história foi homenageada no Carnaval de Salvador em 2024, que teve como tema "Salvador, Capital Afro", e será comemorada na tradicional sede do Ilê, localizada na Senzala do Barro Preto, na Rua Direta do Curuzu, durante todo o mês de novembro, com ensaios especiais em comemoração aos 50 anos de muita história e luta.

Tags

Notícias Relacionadas