Doença de Chagas: morte na Bahia acende alerta para transmissão por alimentos
Adolescente de 12 anos foi contaminada após ingerir suco de acerola com outros quatro familiares

Foto: Gilson Abreu/AEN
A morte de uma adolescente de 12 anos por doença de Chagas na cidade baiana de Serrolândia acendeu o alerta da Vigilância Epidemiológica da Bahia para o risco de surto de transmissão oral da enfermidade, ou seja, pela ingestão de alimentos..
A vítima e outras quatro pessoas da mesma família foram contaminadas ao ingerirem um suco de acerola. Inicialmente, a prefeitura de local tratou os casos como dengue. Só após a morte da jovem, em fevereiro deste ano, houve confirmação de que o óbito foi causado por doença de Chagas.
O que é a doença de Chagas?
É uma doença transmissível, causada por meio da picada do inseto barbeiro. A infecção ocorre quando a pessoa coça o ferimento, o que favorece a penetração do parasita presente nas fezes do barbeiro.
O agente causador é um protozoário denominado Trypanosoma cruzi. No homem e nos animais, vive no sangue periférico e nas fibras musculares, especialmente as cardíacas e digestivas.
Os barbeiros abrigam-se em locais muito próximos à fonte de alimento e podem ser encontrados na mata, escondidos em ninhos de pássaros, toca de animais, casca de tronco de árvore, montes de lenha e embaixo de pedras. Nas casas escondem-se nas frestas, buracos das paredes, nas camas, colchões e baús, além de serem encontrados em galinheiro, chiqueiro, paiol, curral e depósitos.
Doença afeta mais de 1 milhão de pessoas no Brasil
A infecção afeta cerca de 6 milhões de pessoas nas Américas, com incidência anual de 30 mil novos casos e, em média, 14 mil mortes a cada ano. Estima-se que haja no Brasil, atualmente, pelo menos um milhão de pessoas infectadas por T. cruzi. Em estudos recentes, as estimativas variaram de 1,9 a 4,6 milhões de pessoas, provavelmente, mais próximo atualmente à variação de 1,0 a 2,4% da população.
O Ministério da Saúde aponta para uma elevada carga de mortalidade por Chagas no país, representando uma das quatro maiores causas de mortes por doenças infecciosas e parasitárias. Nos últimos anos, foram registrados cerca de 4 mil óbitos anuais no país, que tiveram como causa básica o agravo da doença.
Mortal e silenciosa
O Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado no dia 14 de abril, promove a conscientização sobre o combate à enfermidade, que pode ser silenciosa. A população mais afetada são de pessoas em condições de vulnerabilidade social e com maior exposição a outras doenças.
A falta, ou dificuldade, de acesso aos serviços de saúde dificultam o diagnóstico, levando a falhas nas estratégias de prevenção e acesso ao tratamento adequado, aumentando a probabilidade de desenvolvimento de formas graves da doença.
O diagnóstico tardio também acontece devido à falta de conhecimento de profissionais e de gestores de saúde sobre condições de risco e informações acerca da identificação de novos casos. O atraso favorece o agravamento do quadro clínico, levando a sequelas significativas para o organismo, que são físicas, cardíacas, digestivas, neurológicas e se não acompanhado até a morte.
O risco de transmissão vetorial da doença de Chagas persiste em função de diferentes fatores, como a existência de espécies de triatomíneos nativas com elevado potencial de colonização do domicílio ou histórico recorrente de invasão ao ambiente domiciliar.
A presença de animais reservatórios de T. cruzi e a aproximação cada vez mais frequente das populações humanas a esses ambientes também é um quesito relevante para a transmissão. Assim como a persistência de focos residuais de Triatoma infestans no estado da Bahia.
De acordo com o Ministério da Saúde, soma-se a esse quadro a ocorrência de casos e surtos por transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados (caldo de cana, açaí, bacaba, entre outros), vetorial domiciliar sem colonização e vetorial extradomiciliar, principalmente na Amazônia Legal.
Transmissão
A transmissão se dá pelas fezes que o barbeiro deposita sobre a pele da pessoa, enquanto suga o sangue. Geralmente, a picada provoca coceira e o ato de coçar facilita a penetração do tripanossomo pelo local da picada. O T.cruzi contido nas fezes do barbeiro pode penetrar no organismo humano, também pela mucosa dos olhos, nariz e boca ou através de feridas ou cortes recentes existentes na pele. Podemos ter ainda, outros mecanismos de transmissão por meio de: transfusão de sangue, caso o doador seja portador da doença; transmissão congênita da mãe chagásica, para o filho via placenta; manipulação de caça (ingestão de carne contaminada) e acidentalmente em laboratórios.
Sintomas
Fase aguda: febre, mal estar, falta de apetite, edemas (inchaço) localizados na pálpebra ou em outras partes do corpo, aumento do baço e do fígado e distúrbios cardíacos. Em crianças, o quadro pode se agravar e levar à morte. Frequentemente, nesta fase, não há qualquer manifestação da doença, podendo passar despercebida.
Fase crônica: etapa em que muitos pacientes podem passar um longo período, ou mesmo toda a sua vida, sem apresentar nenhuma manifestação da doença, embora sejam portadores do T.cruzi. Em outros casos, a doença prossegue ativamente, passada a fase inicial, podendo comprometer muitos setores do organismo, salientando-se o coração e o aparelho digestivo.
Tratamento
Deve ser indicado por um médico, após a confirmação da doença. O remédio ‘benznidazol’ é fornecido gratuitamente pelo Ministério da Saúde, mediante solicitação das Secretarias Estaduais de Saúde e deve ser utilizado em pessoas que tenham a doença aguda assim que ela for diagnosticada.
Para as pessoas na fase crônica, a indicação do medicamento depende da forma clínica e deve ser avaliada caso a caso. Em casos de intolerância ou que não respondam ao tratamento com benznidazol, o Ministério da Saúde disponibiliza o nifurtimox como alternativa de tratamento, conforme indicações estabelecidas em Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas.
Independentemente da indicação do tratamento com benznidazol ou nifurtimox, as pessoas na forma cardíaca e/ou digestiva devem ser acompanhadas e receberem o tratamento adequado para as complicações existentes.
Prevenção
Uma das formas de prevenção da doença de Chagas é evitar que o inseto “barbeiro” forme colônias dentro das residências. Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando pelas aberturas ou frestas, pode-se usar mosquiteiros ou telas metálicas.
Recomenda-se usar medidas de proteção individual (repelentes, roupas de mangas longas, etc) durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata. Outra medida preventiva é consumir alimentos de origem vegetal preferentemente pasteurizados. Lavar as frutas e vegetais para retirar resíduos do inseto.
*Sob supervisão do editor Alexandre Santos