Brasil volta a figurar entre os 20 países com mais crianças não vacinadas, aponta OMS
Relatório revela que número de crianças brasileiras sem nenhuma dose da tríplice bacteriana mais que dobrou em 2024; país ocupa a 17ª posição global

Criança sendo vacinada |Foto: Tercio Teixeira /Folhapress
O Brasil voltou a integrar a lista dos 20 países com o maior número de crianças não vacinadas do mundo, segundo relatório divulgado nesta terça-feira (15) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Com base em dados de 2024, o país ocupa agora a 17ª colocação global, após registrar um aumento expressivo no número de crianças que não receberam sequer a primeira dose da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche.
De acordo com o levantamento, ao menos 229 mil crianças brasileiras não tomaram nenhuma dose da DTP em 2024 — mais que o dobro do número registrado em 2023, quando o país contabilizou 103 mil crianças nessa situação. Esse grupo é classificado como “zero dose”, termo usado para definir crianças completamente excluídas da imunização básica, considerado um dos principais indicadores de falha no acesso à vacinação de rotina.
Na América Latina, o Brasil ficou atrás apenas do México, que liderou a região com 341 mil crianças não vacinadas no ano passado. Em comparação global, o Brasil teve desempenho inferior ao de países com menor infraestrutura sanitária, como Mianmar, Costa do Marfim e Camarões.
Apesar do recuo brasileiro, o relatório aponta uma leve recuperação na cobertura vacinal mundial. Em 2024, 89% das crianças no planeta — cerca de 115 milhões — receberam pelo menos a primeira dose da DTP, enquanto 85% (aproximadamente 109 milhões) completaram as três doses recomendadas. Comparado a 2023, houve um acréscimo de 171 mil crianças vacinadas com ao menos uma dose e mais de 1 milhão com o esquema completo.
No entanto, o número de crianças ainda desprotegidas é alto: 14,3 milhões continuam sem receber nenhuma vacina, enquanto outras 5,7 milhões foram apenas parcialmente imunizadas. Nenhuma das 17 vacinas monitoradas pela OMS atingiu a meta mínima de 90% de cobertura global.
A organização atribui o baixo índice vacinal a uma combinação de fatores, como desigualdade de acesso aos serviços de saúde, instabilidade política, conflitos armados e disseminação de desinformação sobre vacinas. No caso do Brasil, especialistas apontam também o enfraquecimento das campanhas públicas e a queda da confiança nas instituições de saúde como agravantes.