Mudança na CBF: Entenda todo o processo nos bastidores da entidade
Ednaldo Rodrigues deixa o cargo de presidente no meio de um turbilhão de polêmicas

Ednaldo Rodrigues (esquerda) e Samir Xaud (Direita) |Foto: Lucas Figueiredo/CBF e @rafaelribeirorio l CBF
O futebol pentacampeão do mundo passou recentemente por um dos seus piores momentos futebolísticos e institucionais, onde o atual presidente Ednaldo Rodrigues, após uma série de polêmicas e problemas em sua gestão, saiu da entidade por uma jurisdição judicial. Logo, a maior federação internacional do esporte vivia um problema interno e externo, sem ter um técnico a mais de um mês, faltando pouco para o fim das classificatórias para o mundial. Para entender corretamente todo o confuso processo no último tempo, é necessário dividir em etapas e entender a fundo tudo que se passou na Confederação Brasileira de Futebol.
COMO FUNCIONAM AS ELEIÇÕES?
O pilar principal da problemática brasileira, as eleições para Presidente e Vice-Presidentes da CBF, têm um modelo bastante diferente do mais comum no qual a sociedade escolhe seus governantes, principalmente no modelo de pré-candidatura eleitoral. Cada estado nacional, dentro do esporte, tem sua própria federação, onde controlam, por exemplo, os estaduais daquela localidade. Por conta disso, existem 26 estados que somados com o Distrito Federal contam com 27 federações oficiais na CBF.
Segundo a lei eleitoral da entidade, para ter sua pré-candidatura elegível é necessário ter o apoio de pelo menos 8 federações, das 27 e de cinco clubes nacionais, entre a série A e B, contando 40 ao todo, 20 de cada divisão, se tornando assim apto a concorrer à eleição. Um recente caso da falta de cumprimento dessa lei foi no lançamento da pré-candidatura de Ronaldo Fenômeno em 2025, onde o bi-campeão do mundo recebeu somente apoio da Federação Paulista e de cinco clubes, não alcançando o número mínimo de reconhecimento.
EDNALDO RODRIGUES NA CBF
Afastado recentemente pelo TJ-RJ e STJD, além de ser um dos causadores da crise que o futebol brasileiro está vivendo, Ednaldo Rodrigues não se tornou presidente através das eleições normais da entidade. Nascido na Bahia, Ednaldo começou sua trajetória de gestão do esporte no próprio estado natal, entrando na comissão da Federação em 1993. Em 2001, ele se tornou presidente da FBF (Federação Baiana de Futebol).
Após longos 18 anos como mandatário do esporte em terras baianas, Ednaldo foi convidado pelo até então presidente Rogério Caboclo para se juntar ao corpo de vice-presidentes da CBF. Três anos após aceitar o prestigiado convite, em 2021, Rogério foi afastado de sua posição ao ser acusado por uma funcionária de assédio sexual e moral, tornando assim, em um processo interno, Ednaldo como presidente interino. Em março de 2022, a Assembleia Geral Eleitoral da CBF decidiu, via uma eleição, que, por motivos judiciais, os quais a justiça anos depois apontou que não deveria acontecer, tornou o baiano o mais novo presidente até 2026.
Em um mandato carregado por desconfiança, suspeita de corrupção, manipulação por benefício próprio, desvio de verbas, entre outros problemas, Ednaldo se viu no topo da maior organização de esporte do país, envolvido em polêmicas, do início ao fim.
SAÍDA
Seu processo de saída se iniciou em 2023, quando uma série de investigações foram revogadas por conta de acusações de falsificação de assinaturas que legitimaram sua eleição. Na época, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro chegou até a destituir Ednaldo do cargo, mas a ação, nessa ocasião, foi anulada. Dois dias depois, o Ministério Público do Rio de Janeiro e o STF, oficializaram a candidatura de Ednaldo Rodrigues, arquivando o caso de suspeita de falsa assinatura.
Entretanto, outra reviravolta aconteceu, cerca de poucos meses após o arquivamento, a deputada Daniela do Waguinho (União-RJ) pediu ao STF o "afastamento imediato", alegando que a assinatura não foi realizada de forma livre e consciente. O pedido veio por conta da saúde de um dos vices-presidentes, no qual passava por um forte câncer no cérebro, não tendo a garantia de plenitude das suas faculdades mentais. Segundo a deputada, em 2023 já existia um laudo apontando que o Coronel Nunes, "não tinha as condições físicas e cognitivas para expor seu aceite a qualquer condição que lhe fosse apresentado". Logo, o ministro do STF, Gilmar Mendes, solicitou para o Tribunal de Justiça uma apuração aprofundada da alegação.
Por fim, no dia 15 de maio de 2025, o desembargador Gabriel Oliveira, do TJ-RJ, destituiu Ednaldo Rodrigues da presidência, constatando veracidade na acusação.
NOVO PRESIDENTE, SAMIR XAUD
Em caráter de urgência, Fernando Sarney se tornou o interino e precisou organizar às pressas um novo processo eleitoral e uma eleição. Feito, somente uma chapa conseguiu se inscrever por conta das regras eleitorais, já explicadas, e o vice-presidente da Federação Roraimense de Futebol, Sami Xaud, no domingo (25), se tornou o mais novo presidente da entidade.
Samir é formado em medicina e se especializou em infectologia e medicina esportiva, além de atuar como empresário na área fitness e ser ex-goleiro em clubes locais de Roraima. Seu pai, José Gama Xaud ou Zé Xaud, foi presidente da FRF por 50 anos.
O novo mandatário, porém, tem em sua trajetória alguns problemas judiciais. No ano de 2022, o Ministério Público de Roraima moveu uma ação de improbidade administrativa contra Samir e outros dirigentes do Hospital Geral de Roraima (HGR), na qual atuava. Na função de diretor, Xaud teria autorizado pagamentos a uma empresa terceirizada, coopebras, por procedimentos que não foram realizados, segundo uma investigação do Tribunal de Contas local. De acordo com o MP, o prejuízo foi de R$ 1,4 milhões. A sua defesa, no entanto, alegou que Xaud em momento algum, cometeu um ato ilegal e disse que o processo não mostra "qualquer indício de irregularidade".
POSICIONAMENTO DOS CLUBES
Com a instabilidade instaurada, antes das novas eleições, os clubes brasileiros assinaram um manifesto com cobranças, principalmente pela má gestão dos antigos presidentes, sendo que os últimos 5 mandatários, nenhum completou seu mandato. Já na eleição, alguns clubes, mais a Federação Paulista, não compareceram no último domingo (25).
Um dos participantes da LIBRA, o Bahia foi um dos que assinaram em repúdio s polêmicas no comando:
Já o América, Athletico-PR, Atlético-GO, Botafogo-SP, Chapecoense, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Mirassol, Novorizontino, Santos, São Paulo, Sport assinaram o manifesto que confirmou a ausência.
Agora, com a eleição de Samir, com o dilema de transparência e justiça e com a chegada do italiano Carlo Ancelotti como novo treinador, o futebol brasileiro pode voltar ao protagonismo, com novos tempos de glória.