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Adoniran Barbosa: o lado B da Música Popular Brasileira

Relembre a trajetória do sambista que virou símbolo de São Paulo e deu voz aos esquecidos

| Autor: Antonio Marzaro
Adoniran Barbosa

Adoniran Barbosa |Foto: Pedro Martinelli

Neste domingo, 23 de novembro, o Brasil lembra mais um ano da morte de Adoniran Barbosa, nome artístico de João Rubinato, um dos maiores compositores e intérpretes do samba paulista. Filho de imigrantes italianos e criado em meio à pobreza, ele transformou sua vivência nas ruas de São Paulo em música, humor e crítica social, se imortalizando entre os grandes artistas da história do país.

Nascido em Valinhos e crescido em Jundiaí, Adoniran mudou-se cedo para a capital paulista em busca de trabalho. Foi carregador, tecelão, encanador e pintor, até descobrir no rádio um caminho possível. Sua origem humilde e o contato com trabalhadores e migrantes se tornariam a marca registrada de suas composições, sempre cheias de personagens típicos e linguagem coloquial marcada pelo sotaque ítalo-paulista.

O sucesso começou a despontar nos anos 1940, quando integrou programas humorísticos de rádio e passou a compor sambas que fugiam do padrão carioca. Logo vieram clássicos que atravessaram gerações, como “Trem das Onze”, “Saudosa Maloca”, “Samba do Arnesto e Iracema”, além do histórico dueto com Elis Regina em "Tiro ao Álvaro".

Suas letras misturavam humor e melancolia, contando histórias de gente simples, despejos, amores impossíveis e noites mal dormidas. Eram narrativas que mostravam um Brasil urbano que raramente aparecia na música popular da época.

Outro marco de sua carreira foi a parceria com o Demônios da Garoa, grupo responsável por eternizar muitos de seus sambas. A união rendeu interpretações que acentuaram o humor e o ritmo singular das composições de Adoniran, tornando sua obra ainda mais popular e facilmente reconhecível.

Apesar de ser um ícone da música paulista, Adoniran ganhou espaço também no cinema e na televisão, participando de produções como 'O Cangaceiro' e 'Eles Não Usam Black-Tie'. Sua presença cênica reforçava o personagem do “malandro bonachão”, figura que ajudou a consagrar seu nome tanto fora quanto dentro do universo musical.

Adoniran morreu em 23 de outubro de 1982, aos 72 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Nos últimos anos de vida, já enfrentava problemas respiratórios e dificuldades de mobilidade. Mesmo assim, continuou compondo e aparecendo em programas de rádio e TV sempre que podia, mantendo viva a conexão com seu público.

Quarenta e três anos após sua morte, seu legado segue firme. Adoniran é referência para novas gerações de sambistas, estudiosos da música e artistas que encontram em sua obra um retrato honesto e afetivo de São Paulo e de seus trabalhadores. Seu estilo direto, irônico e carregado de humanidade o colocou entre os grandes cronistas musicais do país.

Relembrar Adoniran Barbosa é revisitar um Brasil feito de gente comum, de histórias pequenas que ganham grandeza quando viram música. Suas canções seguem despertando afeto porque falam das nossas próprias dores, alegrias e jeitos de viver.

Ao dar voz a personagens que quase nunca apareciam na arte, Adoniran transformou o cotidiano em poesia e mostrou que a cidade também tem coração. É por isso que seu “lado B” não ficou à margem: ele virou parte viva da memória afetiva da música brasileira.

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