Sargento manda aluno negro cortar cabelo em escolar militar no Distrito Federal
Garoto estudava no local há quase dois anos e nunca havia sido abordado nesse sentido
Foto: Metropoles
Um adolescente negro, de 12 anos, foi chamado atenção por conta do tamanho do seu cabelo, na semana passada, em uma escola militar de Brasília. A família do jovem foi pega de surpresa com a orientação de um sargento em mandar o menino cortar seu cabelo. O militar faz parte do Centro de Ensino Fundamental 1, conhecida como Sapão, no Núcleo Bandeirante. Na ocasião, o sargento da corporação ainda teria dito que ele estava “se camuflando entre as meninas”.
Segundo o portal Metrópoles, o caso ocorreu quando o aluno buscou auxílio clínico no colégio. “O olho dele estava doendo, lacrimejando, e ele foi ver o que estava acontecendo. O sargento viu e perguntou: por que você está com o cabelo grande desse jeito?”, contou a irmã do menino, Rosa Carvalho, de 25 anos.
O militar chegou a questionar se o adolescente cumpria alguma promessa. Após ser esclarecido que não havia nenhum compromisso com o corte de cabelo pelo garoto, o servidor disparou: “Você está se camuflando no meio das meninas”. Neste momento, o estudante não soube como reagir. “Meu irmão não soube responder”, revelou Rosa.
Na sequência, o militar entrou em contato a família do menino, informando que ele teria que cortar o cabelo para ficar “enquadrado no regulamento da instituição”. Entretanto, a fala do homem surpreendeu a família, pois o garoto sempre usou o cabelo amarrado ou em coque nos quase dois anos em que já estudava na instituição, sem nunca ter sido chamado atenção por isso.
“O sargento disse que o meu irmão estava indo para a fila das meninas, algo que não é verdade. Ele ficou muito triste, chegou em casa e não queria falar com ninguém. Da forma que foi colocado, acabou abalando muito o meu irmão, que agora está querendo cortar o cabelo”, desabafou Rosa.
Através de nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) relatou que “o cabelo estava fora do padrão estabelecido nas escolas cívico-militares” e que o sargento orientou o jovem de “forma didática” para que ele se adequasse ao corte exigido pelo “regulamento vigente desde o ano de 2019”.
Porém, no final do ano de 2019, a Secretaria de Educação flexibilizou as normas a respeito de cortes de cabelo em escolas militarizadas, para poder ser respeitada a identidade do aluno e avançar com a popularização da gestão compartilhada com a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. Na época, a pasta também pretendia tornar menos rígidas as regras para tatuagens e acessórios.
O secretário em exercício no período, João Pedro Ferraz, comentou sobre o assunto:
“Flexibilizamos as regras para o corte de cabelo. Se o aluno estiver com cabelo grande e tiver de participar de um evento com boina, por exemplo, basta amarrar o cabelo. Da mesma forma como as mulheres fazem. Acabou a atividade, solta o cabelo e vai ser feliz”.
Confira a nota dos bombeiros na íntegra:
“Ao observar o jovem em questão com o cabelo fora do padrão estabelecido nas escolas cívico-militares, o referido monitor orientou de forma didática que o mesmo se adequasse ao corte padrão estabelecido em regulamento vigente desde o ano de 2019.
A conversa instrutiva registrada em ata escolar se deu primeiramente com o jovem e após agendamento com seu responsável legal, no caso o genitor do aluno.
Lembramos que todos os alunos e alunas matriculados em escolas compartilhadas estão sujeitas ao regulamento e normas de tal sistema e que de forma alguma houve represália ou orientação não didática proferida ao adolescente.
Vale ressaltar que o CBMDF não coaduna com qualquer prática discriminatória por parte de seus militares, e destaca ainda, a importância e relevância das escolas no sistema cívico-militar em funcionamento no Distrito Federal, e que o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal está em completo engajamento nesse processo de inovação no sistema de ensino de Brasília.”