Crescente no número de casos de abandono de idoso liga o 'alerta vermelho' no mundo todo
Segundo a OMS, um quinto da população global será composta por idosos até 2050

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O abandono de idosos tem se tornado uma realidade preocupante em diversas regiões do planeta, e tanto a Bahia quanto o Brasil, não escapam dessa tendência alarmante. Dados recentes apontam um aumento significativo nos casos de negligência e abandono de pessoas idosas, refletindo tanto mudanças sociais quanto desafios econômicos e culturais. Na Bahia, um estado com forte tradição familiar, o crescimento desse fenômeno tem chamado a atenção de autoridades e organizações sociais, que buscam entender as causas e propor soluções para proteger essa parcela vulnerável da população.
No âmbito nacional, o Brasil registrou um aumento expressivo nas denúncias de abandono de idosos nos últimos anos. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, entre janeiro e maio de 2023, foram quase 20 mil registros, um salto de 855% em comparação com o mesmo período de 2022, quando houve 2.092 casos. Esse crescimento coincide com o envelhecimento acelerado da população brasileira (atualmente, 10,5% dos brasileiros têm 65 anos ou mais, conforme o IBGE), o que evidencia a pressão sobre as famílias e o sistema de assistência social. Na Bahia, embora números específicos por estado sejam menos detalhados, a realidade não parece destoar desse padrão nacional, com relatos de idosos deixados em hospitais ou nas ruas por falta de suporte familiar.
Globalmente, o abandono de idosos também é uma questão crescente, impulsionada pela urbanização, pela redução das famílias extensas e pelo aumento da expectativa de vida. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, até 2050, os idosos representarão um quinto da população mundial. Países desenvolvidos, como Japão e Itália, enfrentam desafios com o isolamento de idosos em áreas rurais, enquanto nações em desenvolvimento, como a Índia, lidam com a migração de jovens para centros urbanos, deixando os mais velhos sem cuidados. Esse cenário global reflete uma crise de valores e de políticas públicas que não acompanham as transformações demográficas.
Na Bahia, fatores como pobreza, falta de acesso a serviços de saúde e o enfraquecimento dos laços familiares agravam o problema. Muitos idosos são abandonados por familiares que alegam não ter condições financeiras ou tempo para cuidar deles, enquanto outros são deixados em instituições sem visitas regulares, configurando o chamado abandono afetivo. Histórias de idosos encontrados em condições precárias, como o caso de um homem resgatado em Poções em 2022, abandonado em casa e levado a uma instituição pelas filhas, ilustram a gravidade da situação no estado.
No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) classifica o abandono como crime, com pena de detenção de seis meses a três anos, além de multa. Apesar disso, a aplicação da lei enfrenta obstáculos, como a relutância das vítimas em denunciar parentes e a insuficiência de estruturas de acolhimento. No mundo, iniciativas variam: países como a Alemanha investem em moradias assistidas, enquanto outros, como o Brasil, ainda dependem de abrigos lotados e de políticas públicas frágeis. A OMS destaca a necessidade de campanhas de conscientização e de sistemas de suporte mais robustos para reverter essa tendência.
Diante desse panorama, o aumento do abandono de idosos na Bahia, no Brasil e no mundo exige ações urgentes. Na esfera local, é fundamental ampliar o acesso a cuidadores e programas sociais, enquanto nacional e globalmente se requer uma mudança cultural que valorize o envelhecimento. A sociedade precisa reconhecer que cuidar dos idosos não é apenas uma obrigação legal, mas um dever ético, para garantir que aqueles que tanto contribuíram ao longo da vida não sejam deixados à margem na velhice.