Brasil é o 4º país com mais acidentes de trabalho, aponta Organização Internacional do Trabalho
"Descaso cultura" é apontado como possível principal causa

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O Brasil ocupa a preocupante quarta posição no ranking mundial de acidentes de trabalho, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com cerca de 70 acidentes registrados por hora, conforme levantamento do Ministério Público do Trabalho (MPT). Em 2023, foram notificados 563 mil casos, sendo 2.888 fatais, de acordo com o sistema eSocial do Ministério do Trabalho e Emprego.
Para o Subprocurador Geral do Trabalho, Manoel Jorge e Silva Neto, o problema reflete um “desvalor do trabalho humano” enraizado na cultura brasileira, que leva ao descumprimento sistemático das normas de segurança e saúde no trabalho. Esse cenário, agravado pela subnotificação, que atinge cerca de 19% dos casos graves, expõe a fragilidade na proteção aos trabalhadores brasileiros.
A Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat), do MPT, tem intensificado esforços para reverter essa realidade por meio de ações preventivas e repressivas. Criada em 2003, a Codemat articula estratégias como seminários, audiências públicas e publicações para conscientizar empregadores e trabalhadores, além de fiscalizar o cumprimento das normas regulamentadoras.
Manoel Jorge destaca que mais de 90% dos acidentes poderiam ser evitados se as regras existentes fossem respeitadas. No entanto, ele aponta que denúncias de irregularidades são quase sempre confirmadas, evidenciando um “descaso gravíssimo” com a saúde do trabalhador, especialmente em setores como construção civil, transporte e saúde.
Os números revelam um impacto não apenas humano, mas também econômico. Entre 2012 e 2022, o Brasil registrou 6,7 milhões de acidentes de trabalho, com 25,5 mil mortes e R$ 136 bilhões em gastos previdenciários, segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, do MPT e da OIT. Estima-se que os acidentes custem 4% do PIB nacional anualmente, cerca de R$ 400 bilhões em 2022, além de meio bilhão de dias de trabalho perdidos em uma década. A área da saúde, com destaque para técnicos de enfermagem, lidera as notificações, representando 10% dos casos entre 2012 e 2022, devido à alta exposição a riscos e à celeridade na notificação.