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Além do headset: desafios da saúde mental de operadores de telemarketing

Além do headset: desafios da saúde mental de operadores de telemarketing

Segundo pesquisa do Sindicato dos Trabalhadores de Telemarketing (Sintratel), 30% desses profissionais sofre com transtornos psicológicos

| Autor: Uedenilson Almeida

Foto: Divulgação/ Marco Antônio/Secom

Longas horas de trabalho, pressão constante para atingir metas e lidar com clientes complicados colocam um fardo emocional considerável sobre os operadores de telemarketing. Um estudo realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores de Telemarketing (Sintratel), em julho de 2021, revelou que 30% desses profissionais sofre com transtornos psicológicos.

Emily Garcia, de 29 anos, faz parte dessas estatísticas. Trabalhando na área há seis anos, a soteropolitana revela que teve seu quadro de ansiedade agravado desde que começou a trabalhar na área.

“Meu histórico de ansiedade era de quando eu era criança, porém agravou no call center. Depois de seis anos, eu fui em busca de terapia [...] Estou na terapia há seis meses mais ou menos, sem interrupção”, conta.

A psicóloga Quiane Bomfim oferece uma visão valiosa sobre as complexas questões de saúde mental enfrentadas por esses profissionais, destacando a pressão constante e a exaustão emocional que alguns de seus pacientes desenvolvem.

”A maioria das pessoas que eu atendo e que já passaram por esse tipo de trabalho geralmente relata que foi um trabalho muito estressante, onde desencadeou muitos processos de estresse, de ansiedade e há pressão nesses ambientes. Além disso, é também bem comum esses profissionais falarem da dificuldade que é lidar com o público, de como são tratados pelos clientes, o quanto que isso gera também uma ansiedade”, disse Quiane.

Segundo ela, ao perceber os sintomas, o afastamento do trabalho é fundamental.

“Quando é identificado o problema psicológico, é orientado pelo profissional, tanto pelo psiquiatra quanto pelo psicólogo, um afastamento das atividades laborais, pois aquele local acaba desencadeando um sofrimento psíquico para esse indivíduo, então é importante que haja, sim, um afastamento", explicou.

No entanto, muitos profissionais encontram-se sem escapatórias. Enquanto lutam com transtornos mentais decorrentes das pressões do trabalho, o fardo financeiro das contas a pagar mantém-os presos a essas posições desafiadoras.

Para muitos operadores de telemarketing, o trabalho pode gradualmente perder o seu significado, à medida que enfrentam desafios repetitivos e demandas incessantes. A sensação de desconexão entre suas tarefas diárias e um propósito maior pode levar a uma crescente desmotivação.

“O trabalhador acaba relacionado à dimensão subjetiva do ser humano, porque ele preenche um lugar, um espaço, ele tem finalidade, ele tem um valor e tem uma função também de pertencimento, só que existem situações que o trabalho acaba sendo desprovido de significado para alguns trabalhadores. O sujeito não se reconhece em sua produção, muitas vezes não é reconhecido nas atividades que realiza”, destacou Quiane.

Para a telemarketing Ingrid Ferreira, de 32 anos, uma das soluções que encontrou para amenizar os impactos causados pela rotina de trabalho foi estar cercada do que tira o foco dos problemas.

“Estar perto de pessoas que eu goste e que me fazem sorrir, que não fiquem o tempo todo falando de tristeza, só contando coisas ruins, que me deixem mais pra baixo. Então, eu tento sempre ficar perto de alguém que me faz sorrir”, disse ela.

 

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