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A distância entre a casa e o tratamento médico: desafios do TFD

A distância entre a casa e o tratamento médico: desafios do TFD

Todos os dias, milhares de baianos precisam deixar suas cidades para buscar tratamento médico especializado

| Autor: Iarla Queiroz

Foto: FOTO DIVULGAÇÃO

O Tratamento Fora do Domicílio (TFD) é um programa do Sistema Único de Saúde (SUS) criado para atender pacientes que necessitam de tratamentos hospitalares de média e alta complexidade não disponíveis em suas cidades de origem. Esse benefício auxilia com transporte, alimentação e outras despesas relacionadas ao deslocamento.

Como funciona o TFD?

O TFD oferece:

  • Passagens para o deslocamento até a cidade de tratamento;
  • Ajuda de custo para alimentação;
  • Controle e acompanhamento de autorizações e despesas relacionadas ao programa.

Quem tem direito ao TFD?

O benefício é destinado a pacientes da rede pública ou conveniada ao SUS, quando os recursos locais de atendimento estão esgotados.

Embora o TFD seja essencial para garantir acesso à saúde, há desafios significativos. A falta de segurança nos trajetos é um problema recorrente, agravado por acidentes que, infelizmente, já tiraram inúmeras vidas.

Acidente recente em Mutuípe expõe os riscos

No dia 11 de setembro de 2024, um acidente envolvendo uma van de transporte do TFD deixou três vítimas fatais e vários feridos na BR-324. A van, que transportava 12 pacientes de Mutuípe para Salvador, colidiu com uma carreta. O caso reacendeu a discussão sobre a segurança nos deslocamentos do programa.

Relatos de pacientes e motoristas

Conversamos com motoristas e pacientes que enfrentam diariamente as dificuldades do TFD.

João Queiroz, motorista experiente, explicou como funciona a operação: “As escalas são pré-estabelecidas, e cada condutor tem seus dias de viagens marcados, trabalhando dia sim, dia não. Todos os motoristas são profissionais qualificados, treinados e possuem cursos e certificações necessárias para a função. As viagens são previamente agendadas pela prefeitura, no setor responsável. De acordo com a demanda, os veículos são selecionados, e na hora indicada, pegamos o veículo e iniciamos a coleta dos pacientes em pontos previamente estabelecidos. Depois disso, seguimos para as respectivas instituições de saúde.”

Elielson, também motorista em Jiquiriçá, compartilhou a rotina: “Hoje, cerca de 30 a 35 pacientes de Jiquiriçá vão a Salvador todos os dias em busca de tratamento. São três motoristas em escala, rodando micro-ônibus para atender a demanda.”

José Roberto destacou os desafios enfrentados na capital: “A maior dificuldade em Salvador é estacionar nos hospitais. Não há vagas suficientes para os motoristas do TFD.”

Além disso, Neide Francisca, paciente, relatou situações de insegurança: “Cheguei ao hospital às 5h30 da manhã e quase fui assaltada na porta. Por sorte, um segurança interveio.”

Cansaço e falta de infraestrutura

O tempo gasto nos trajetos é um grande problema. José Roberto explicou que a jornada pode durar até 24 horas: “De Jiquiriçá a Salvador são cerca de 4 horas de estrada, mas, dependendo do horário das consultas, só saímos dos hospitais à noite, chegando em casa de madrugada.”

Neide complementou: “Saímos de casa às 1h da manhã e só retornamos depois da meia-noite. Não há lugar para descansar, ficamos no hospital ou no carro, em total desconforto.”

Mirian Rodrigues, que acompanha a mãe em tratamento de hemodiálise, também comentou sobre a dificuldade dos deslocamentos: “Minha mãe faz tratamento três vezes por semana. O mais complicado é o desgaste de viajar com alguém doente tantas vezes.”

Apoio municipal

A prefeitura de Jiquiriçá oferece suporte adicional, como veículos menores para pacientes com dificuldade de locomoção. Mirian reconheceu o esforço: “Minha mãe precisava ser carregada no colo, e providenciaram um carro pequeno para facilitar a entrada e saída.”

Vínculo entre motoristas e pacientes

Apesar das dificuldades, motoristas como Elielson destacam o lado humano do trabalho: “Gosto do que faço. Criamos um vínculo com os pacientes, quase como uma família. É gratificante poder ajudar.”

O TFD, embora vital, ainda enfrenta desafios estruturais e humanos. Melhorias no programa poderiam reduzir os riscos e trazer mais conforto a quem depende desse serviço essencial.

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