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O retorno do vintage: a paixão dos jovens por câmeras analógicas, vinis e a estética retrô em 2025

O retorno do vintage: a paixão dos jovens por câmeras analógicas, vinis e a estética retrô em 2025

O 'vintage' vem se tornando um sucesso cada vez maior entre os jovens

| Autor: Vítor Lyrio

Foto: Reprodução/Internet

Nos últimos anos, a estética vintage tem se consolidado como uma das maiores tendências entre os jovens, especialmente da Geração Z e dos millennials mais novos, que estão resgatando o charme de objetos analógicos como câmeras de filme, toca-discos de vinil, máquinas de escrever e até roupas de décadas passadas. Em 2025, essa onda nostálgica, que mistura um desejo de autenticidade com uma fuga do ritmo frenético da era digital, está mais forte do que nunca. Plataformas como TikTok e Instagram, onde hashtags como #retroaesthetic e #vintagestyle acumulam milhões de visualizações, tornaram-se vitrines para essa paixão. “É como se eu estivesse vivendo um pedacinho dos anos 90, mesmo sem ter nascido naquela época”, diz a estudante Heloísa Santos, de 20 anos. "Essa busca por experiências mais próximas do que foi aquela época em que nem eu e nem você vivemos está realmente aproximando nossa geração de algo que nossos pais e tios tiveram e nos ajuda a entender muita coisa", completou.

As câmeras analógicas, como as Polaroids e modelos clássicos dos anos 2000, viraram febre entre os jovens, que valorizam o processo mais lento e imprevisível da fotografia em filme. Segundo um estudo da Cognitive Market Research, o mercado de tecnologia “retrô”, especialmente de câmeras 35mm, está em franca expansão e deve atingir 350 milhões de euros até 2030, contra 260 mil em 2023. A Kodak, por exemplo, registrou um aumento dobrado na demanda por filmes fotográficos no último verão, evidenciando o impacto dessa tendência. “Eu gosto da surpresa, de não saber como a foto vai sair. É muito mais emocionante do que tirar mil selfies no celular”, conta Pedro Henrique, um fotógrafo amador de 24 anos, que posta regularmente no Instagram suas imagens granuladas com a legenda “Vivendo a vibe Y2K ”. Celebridades como Gigi Hadid, que mantém uma página chamada Gi’sposables com fotos em 35mm de bastidores de eventos de moda, também ajudaram a popularizar o uso de câmeras analógicas, mostrando que o vintage pode ser chique e contemporâneo e até o cantor George Miller, mais conhecido como 'Joji' (Cantor favorito do jornalista que escreveu essa matéria), que utilizou de uma estética mais 'ultrapassada' para sua capa do álbum "Ballads 1".

Os vinis, por sua vez, também vivem um renascimento notável, com vendas globais que, segundo a Imarc Group, atingiram 1,8 bilhão de dólares em 2023 e devem quase dobrar até 2032. Jovens que nunca experimentaram a era dos toca-discos agora se encantam com o ritual de escolher um disco, posicionar a agulha e ouvir o som quente e cheio de nuances que o formato proporciona. “É uma experiência que me conecta com a música de um jeito que o streaming nunca vai conseguir”, explica Sofia Mendes, uma DJ de 21 anos. Além dela, Anderson Moura, tiktoker com mais de 163 mil seguidores também elogiou o vinil em uma postagem feita na rede social "A experiência do vinil é perfeita em sua imperfeição. Cada estalido, cada chiado, é uma marca única que adiciona caráter à música, envolvendo o ouvinte em uma jornada sensorial autêntica e emotiva. Desde o ritual de retirar o disco da capa até o momento em que a agulha encontra os sulcos, cada etapa é uma celebração da música e da nostalgia, criando uma conexão especial entre o ouvinte e a arte sonora", escreveu ele. A procura por vinis não se limita a gêneros clássicos como rock ou jazz; artistas contemporâneos como The Weekend e Taylor Swift, que também lançam seus álbuns nesse formato, atraindo o público jovem que vê nos discos uma forma de colecionar e se conectar mais profundamente com a música e com seus artistas.

A moda vintage também desempenha um papel central nesse movimento, com jovens adotando peças de décadas passadas como jeans de cintura alta dos anos 80, jaquetas de couro dos anos 90 e até vestidos boêmios dos anos 70, inspirados por séries como Stranger Things e Bridgerton. Essa tendência não é apenas estética, mas também reflete uma preocupação com a sustentabilidade, já que muitos optam por roupas de brechó para reduzir o impacto ambiental do fast fashion. “Comprei uma saia dos anos 70 no brechó e parece que ela tem uma história pra contar. É muito mais legal do que comprar algo novo que todo mundo tem”, diz Larissa Costa, uma designer de 23 anos de São Paulo, que postou no X: “Brechó é vida! Essa saia vintage é meu novo xodó  #vintagefashion”. A Vogue destacou que tendências como o revival Y2K e o grunge dos anos 90 estão dominando as passarelas e o streetwear, mostrando como o passado e o presente se misturam na moda atual.

Por trás dessa paixão pelo vintage, há um desejo de escapar da saturação digital e da busca por perfeição que domina as redes sociais. Especialistas apontam que os jovens estão cansados da efemeridade da cultura contemporânea e buscam algo mais real e duradouro. “A Geração Z cresceu com tudo ao alcance de um clique, mas isso também trouxe um vazio. O vintage oferece uma conexão com o passado e uma experiência mais humana”, explica Mariana Torres, uma socióloga de 35 anos de Curitiba. A imperfeição dos formatos analógicos, como o grão das fotos em filme ou o chiado dos vinis, é celebrada como um símbolo de autenticidade, algo que o digital, com sua precisão estéril, não consegue replicar. Essa busca por significado também se reflete em eventos como o Record Store Day, que em 2025 deve atrair ainda mais jovens às lojas de discos independentes, promovendo uma sensação de comunidade que o streaming não proporciona.

No entanto, nem tudo são flores nesse revival. O aumento da demanda por produtos vintage tem levado a uma alta nos preços, com câmeras analógicas e vinis raros sendo vendidos a valores exorbitantes em plataformas como eBay e Etsy. Além disso, a escassez de filmes fotográficos e a falta de infraestrutura para revelação em algumas cidades brasileiras dificultam o acesso de todos a essa tendência. “Queria usar mais minha câmera analógica, mas revelar filme aqui é caro e demorado”, lamenta João Vitor, um estudante de 19 anos de Fortaleza, que compartilhou sua frustração no X: “Queria viver a vibe retrô, mas tá difícil com esses preços!  #vintageproblems”. Apesar dos desafios, a paixão pelo vintage não mostra sinais de desaceleração, provando que, em um mundo cada vez mais digital, os jovens estão encontrando no passado uma forma de se reconectar consigo mesmos e com o que realmente importa.

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