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Como a Igreja Católica escolhe um novo papa: entenda o ritual do conclave e os próximos passos do Vaticano

Como a Igreja Católica escolhe um novo papa: entenda o ritual do conclave e os próximos passos do Vaticano

Com rituais que remontam à Idade Média e regras rígidas de sigilo, o processo de sucessão papal envolve cerimônias fúnebres, governo temporário e o conclave

| Autor: Iarla Queiroz

Foto: Reprodução/ Vatican News

Com a morte do papa Francisco nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, após 12 anos de pontificado, a Igreja Católica entra em um momento conhecido como "Sé Vacante", período em que o posto de líder da Igreja está vago. É durante essa fase que se iniciam os ritos fúnebres e os preparativos para eleger o novo chefe da Igreja — uma escolha feita através do conclave, um dos processos eleitorais mais antigos e envoltos em tradição do mundo.

O que é o conclave?

A palavra "conclave" tem origem no latim cum clavis, que significa "trancado com chave", e descreve bem o caráter reservado da eleição papal. Os cardeais eleitores — todos com menos de 80 anos — são confinados no Vaticano, mais precisamente na Capela Sistina, até que um novo papa seja escolhido, sem qualquer contato com o mundo exterior.

Quem pode ser eleito papa?

Tecnicamente, qualquer homem batizado na fé católica romana pode ser eleito pontífice. No entanto, desde 1379, todos os papas foram escolhidos entre os membros do Colégio de Cardeais — grupo responsável pela votação. Embora alguns desses cardeais atuem diretamente no Vaticano, a maioria lidera dioceses ou arquidioceses ao redor do mundo.

Como funciona a votação

Antes do início das votações, é celebrada uma missa especial na Basílica de São Pedro. Em seguida, os cardeais seguem para a Capela Sistina, onde acontece todo o processo eleitoral. O ambiente é rigidamente controlado: sem celulares, gravações ou qualquer meio de comunicação externa. Câmeras e microfones são inspecionados, e o sigilo é absoluto. Caso um cardeal quebre essa confidencialidade, poderá ser excomungado.

Cada cardeal recebe uma cédula e escreve o nome do escolhido sob a frase em latim “Eligo in Summum Pontificem” (“Eu elejo como pontífice supremo”). Os votos são depositados em um cálice sobre o altar, um a um, conforme a ordem de antiguidade.

A escolha exige maioria qualificada: é necessário que um candidato receba dois terços dos votos. Se isso não ocorrer, até quatro votações por dia são realizadas (duas pela manhã e duas à tarde). Caso não haja definição até o terceiro dia, o processo é interrompido para oração e reflexão, podendo ser retomado com mais sete rodadas.

Apesar do procedimento minucioso, segundo dados da Diocese de Providence, nos Estados Unidos, nenhum dos últimos 11 conclaves ultrapassou quatro dias.

Sinal do novo pontífice: a fumaça branca

Embora o acesso à Capela Sistina seja restrito, o mundo é informado sobre o resultado das votações por meio de uma tradição visual simbólica: a fumaça que sai da chaminé instalada no telhado da Capela. Se as cédulas forem queimadas com um aditivo químico, a fumaça será preta — sinal de que ainda não há papa. A fumaça branca, por outro lado, significa que a escolha foi feita.

Minutos depois da fumaça branca, o novo papa aparece na sacada da Basílica de São Pedro e faz sua primeira saudação. Dias depois, ele é oficialmente empossado.

Os próximos ritos do Vaticano

De acordo com o Vaticano, os primeiros atos oficiais após a morte de Francisco ocorrerão ainda nesta segunda-feira:

  • 14h: Missa em sufrágio do papa Francisco, na Basílica de São João de Latrão, celebrada pelo cardeal Baldo Reina;
  • 14h30: Recitação do terço na Praça de São Pedro;
  • 15h: Ritos de confirmação do óbito e deposição do corpo, conduzidos pelo camerlengo na Capela de Santa Marta.

O funeral segue as diretrizes da Ordem das Exéquias do Sumo Pontífice, aprovada por Francisco em abril de 2024. O camerlengo — atualmente o cardeal Kevin Joseph Farrell — é quem confirma oficialmente a morte, chama o papa pelo nome três vezes e, na ausência de resposta, declara o falecimento. Antigamente, esse gesto era acompanhado do toque de um pequeno martelo de prata na testa, prática hoje abandonada.

O "Anel do Pescador", símbolo do poder papal, é retirado da mão do papa e destruído, sinalizando o fim do pontificado. O corpo é então lacrado em um caixão de madeira com revestimento de zinco e transferido para a Basílica de São Pedro, onde ficará exposto para que os fiéis prestem as últimas homenagens. O sepultamento, entretanto, acontecerá na Basílica de Santa Maria Maggiore, tradição que não se repetia desde o papa Leão XIII, em 1903.

O papel dos brasileiros no conclave

Entre os cardeais brasileiros aptos a votar, estão sete nomes:

  • Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB (64 anos);
  • João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília (77 anos);
  • Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus (74 anos);
  • Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo (75 anos);
  • Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro (74 anos);
  • Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília (57 anos);
  • Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil (65 anos).

O cardeal Raymundo Damasceno, com 87 anos, está fora da eleição por ter ultrapassado o limite de idade.

Possíveis sucessores

Entre os nomes mais mencionados como possíveis sucessores estão Jean-Marc Aveline, da França, que compartilha muitas ideias de Francisco sobre imigração e justiça social; Peter Erdo, da Hungria, representante de uma ala mais conservadora; e Mario Grech, de Malta, que teve papel de destaque como secretário-geral do Sínodo dos Bispos.

Outros nomes fortes incluem Juan José Omella (Espanha), Pietro Parolin (Itália), Luis Antonio Tagle (Filipinas), Joseph Tobin (EUA), Peter Turkson (Gana) e Matteo Maria Zuppi (Itália).

Enquanto o mundo observa, a Igreja Católica dá início a um de seus momentos mais solenes e carregados de significado — a escolha daquele que guiará mais de 1,3 bilhão de fiéis em todo o planeta.

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