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Jiu-jítsu: lutadores baianos vão a Sul-Americano com ajuda de rifas e amigos

Jiu-jítsu: lutadores baianos vão a Sul-Americano com ajuda de rifas e amigos

Academia localizada em Nova Brasília de Itapuã vai enviar seis atletas ao Rio de Janeiro-RJ, onde será realizado o campeonato

| Autor: João Grassi*

Foto: Domingos Júnior/Varela Net

A academia Six Blades, que fica localizada em Nova Brasília de Itapuã, vai representar a Bahia e o Brasil no Campeonato Sul-Americano de Jiu-Jitsu 2022. A equipe vai enviar seis atletas ao Rio de Janeiro (RJ), onde a competição será realizada, entre os dias 14 e 16 de outubro.

Bosko Ribeiro, Magda Souza, Ítalo Esteves, Gabriel Angeiras, Mateus Fernandes e Cauã Levi buscam retornar com medalhas à Salvador. Todos já são vencedores na luta, alguns, inclusive, já com histórico favorável neste mesmo torneio.

A reportagem do Varela Net foi até a academia para conversar com os jiujiteiros, que se preparam para embarcar na viagem ao sudeste na próxima semana. Eles comentaram sobre a preparação e expectativa para o campeonato, além dos impecilhos de viver em um país que não incentiva o esporte.

Preparação e expectativa

Sensei da academia, o professor Diego Kalil, de 34 anos, falou sobre a rotina de treinamentos para o Sul-Americano: "A preparação deles aqui consiste em dois treinos de jiu-jitsu por dia. Eles fazem um treino específico de competição às segundas e quartas de manhã. Na sexta-feira e sábado só combate de jiu-jitsu e na terça e quinta eles se dedicam somente a preparação física e algum treino técnico. Eles podem escolher entre jiu-jitsu ou judô, mas na terça e quinta eles mais recuperam o corpo e cuidam mais do físico e nos outros dias é jiu-jítsu praticamente o dia todo", explicou.

A base do dia-a-dia da Six Blades é disciplina e muito foco, isso conforme o também sensei Bosko, que ainda falou um pouco sobre os ótimos resultados da equipe neste ano.

"Nós estamos fazendo essa preparação desde o começo do ano, tivemos o primeiro semestre muito bom. Tivemos três campeões brasileiros, rodamos seis países, conquistamos mais de 12 medalhas. Primeiro lugar no ranking nacional com o nosso professor e estamos em busca do Sul-Americano. (...) Estamos muito bem preparados e estamos atrás de mais suporte pra que a gente consiga estar mandando mais pessoas, realizando mais sonhos e conseguindo alimentar esse trabalho incrível", disse o professor.

"O compromisso com a alimentação também é muito importante porque é o nosso combustível. Nosso corpo tem que estar bem ativo, pra que a gente consiga estar estar treinando forte, estar batendo categoria e chegar muito bem no campeonato. E graças a Deus todo mundo entende isso muito bem, a gente leva com muita felicidade, muito compromisso e vem dando muito certo", finalizou Bosko.

Na disputa pela principal categoria do evento, o faixa-preta Ítalo Esteves busca sua primeira medalha em competições fora da Bahia. Campeão estadual, ele agora busca, além da medalha de ouro, a classificação para o próximo mundial de jiu-jitsu. "Estou voltando agora para o Sul-Americano, um dos campeonatos mais importantes, um dos mais 'duros', principalmente minha categoria, que é o [peso] médio faixa preta adulto. Vou estar buscando esse título para tentar fazer a pontuação para o próximo ano do mundial", disse o lutador de 24 anos.

"A gente faz o preparo físico nos dias de terça, quinta e sexta, que é o crossfit do nosso apoiador. Treino de competição é segunda, quarta e sábado, às 9h30, treinando duro sempre. Perto do campeonato que diminui um pouquinho, só que a questão de ritmo continua o mesmo. Nossa alimentação é saudável, muito pouco pra pessoa que quer baixar de categoria", completou Ítalo.

Vice-campeão baiano em sua categoria, Gabriel Angeiras, de 26 anos, agora almeja o topo em sua estreia numa competição fora do estado. Para ele, a rotina de treinos tem sido de alto nível: "A preparação é uma das melhores, a gente vem treinando duro, com semanas intensas de treino há meses já. Vamos buscar o primeiro lugar, estou saindo pra isso. É meu primeiro campeonato fora da Bahia e estou com vontade, feliz e motivado. Oss!", disse.

Dificuldades na trajetória

Apesar de toda a dedicação, os atletas ainda convivem com a situação de ter que dividir outras ocupações e outras metas na vida. Alguns deles, especialmente os mais jovens, ainda tentam conciliar a rotina de jiujiteiro e estudante, o que não é fácil e, inclusive, nem sempre é sequer possível.

"É a minha primeira vez disputando fora [do Brasil], então estou treinando intenso de segunda a sábado, fazendo dois a quatro treinos por dia. E minha maior dificuldade ainda é o colégio, eu estou no último ano. Porém, alguns professores dão ajuda, eu consigo faltar pela manhã e consegui fazer meus treinos aqui de competição às 9h30", disse Mateus Fernandes, de 18 anos, que já foi campeão baiano.

Atual campeão brasileiro e bi-campeão deste mesmo Sul-Americano, o jovem Cauã precisou abandonar os estudos para se dedicar totalmente à carreira. Segundo ele, mesmo com a grande mudança na rotina, sua adptação tem sido positiva.

"Os atletas daqui da academia tem várias dificuldades, como alguns que ainda estudam. No meu caso, eu tive que abdicar da escola pra focar 100% nos treinos, nas competições e nesse lance do jiu-jitsu e está sendo uma mudança de rotina muito grande, mas estou me adaptando bastante", disse o lutador de apenas 16 anos.

Das maiores dificuldades, a falta de recursos é a mais impactante. Entre rifas, vendas, apoios e até ajudas de amigos, a Six Blades praticamente arca com todos os custos entre viagens, inscrição em competições, estadia e na preparação em geral nos campeonatos.

Bi-campeã brasileira, Magda Souza, de 36 anos, também conseguiu alcançar a segunda colocação no Internacional Master e terminou como quarta melhor do mundo na Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ). Ainda assim, ela revelou a necessidade de levantar fundos, principalmente através de venda de camisas, alternativa que acabou sendo bem sucedida por ela.

"Esse ano pro [campeonato] brasileiro produzi várias camisas, conseguir vender pra amigos, colegas, fiz rifa. Porque se ficarmos só focando na dificuldade e a gente não vai nunca atrás do que a gente almeja, certo? Então, eu consegui vender camisas, consegui juntar uma quantia pro brasileiro e agora ainda tenho o resto da quantia pra o Sul-Americano que a gente vai agora. E ano que vem a gente já tá produzindo camisa também pra venda e é isso aí, correr atrás do sonho e no final da tudo certo", disse Magda.

"A dificuldade é conseguir patrocínio, mas aqui na minha academia eu tenho o apoio dos meus colegas, dos meus professores, a união da gente é muito boa. O esporte na Bahia tem que olhar mais não só pelas mulheres, olhar pela base, ver o que pode estar trazendo, porque é um campeonato que é profissionalizante. Se tiver mais mulheres na profissão isso vai ser bom pra todo mundo. Se o governo quiser olhar mais pela gente será ótimo", completou a faixa preta.

Os competidores mais novos, Cauã e Mateus, foram outros atletas que precisaram fazer rifa, além do apoio de amigos e família. Cauã chegou a revelar que foi para os Estados Unidos competir no Campeonato Mundial e acabou passando por um "perrengue" no seu retorno ao Brasil, precisando passar praticamente o dia todo no aeroporto, com pouco dinheiro para me alimentação. Ainda assim, ele ficou na terceira colocação no torneio, um grande resultado para a academia.

Sem nenhum apoio do governo, a falta de patrocínios tem sido um fator limitador para o desenvolvimento dos atletas da Six Blades. Mesmo com os resultados alcançados, a academia ainda não consegue grandes parcerias para seus competidores.

O sensei Bosko Ribeiro acredita no esporte como uma ferramenta de educacional e um bom direcionamento para jovens que ainda procurar um propósito na vida.

"É importante a gente entender que o esporte é uma ferramenta educacional. Aqui na academia tem muitos adolescentes, e é mais interessante que eles estejam aqui competindo, treinando, tendo um propósito de vida, do que ele tá fazendo outra coisa. Nós não temos nenhum atleta patrocinado, nós contamos muito com apois. Os apoios tiram custos nossos, mas todas as nossas viagens são arcadas por nós mesmos, entre rifas, ajudas de amigos, trabalho próprio, investimento próprio. É uma ferramenta de inclusão social, mas a gente não tem um apoio governamental, não temos empresas que sustentem essa realidade. É muito importante que todo mundo entenda que a função do esporte é tirar pessoas da rua, gente que às vezes ainda está tentando encontrar o seu propósito de vida, e na verdade às vezes é o esporte. E sem um apoio, sem um incentivo, fica cada vez mais difícil", lamentou.

Apesar de não estar indo competir no Rio de Janeiro, o sensei Diego Kalil também compete pela Six Blades e já conquistou grandes títulos representando tanto a academia, como o estado da Bahia. Em 2022, ele focou no circuito da Abu Dhabi Jiu-Jitsu Professional (AJP), uma organização de jiu-jitsu nos Emirados Árabes Unidos. Kalil revelou que não pôde estar nas principais etapas da AJP, e ainda assim ficou bem colocado no ranking da organização. Para ele, apoio financeiro seria o "ponto-chave" para os atletas, não só da Six Blades, mas de todo o estado, pudessem estar focado apenas no desempenho e preparação para competir em alto nível.

"Tem eventos no mundo todo e atualmente eu sou o sexto do ranking nessa organização [AJP] na categoria Master 1. Eu não competi as principais competições desse ano por falta de recurso e consegui ficar em terceiro. Talvez, se eu tivesse recurso pra pelo menos lutar as principais competições, tinha grandes chances de ficar em primeiro no ranking. Isso representando a Bahia e também morando no estado, o que eu acho que nunca aconteceu aqui com nenhum atleta", disse Diego Kalil.

"Geralmente, os atletas baianos precisam sair do estado pra alcançar um resultado desse. Um dos maiores desafios é o atleta viajar pra competir, para dar o seu melhor, mas preocupado com o financeiro. Ele tem que estar preocupado se ele vai ter condições de se alimentar, se ele vai ter condições de arcar com aquela dívida que ele está assumindo. Então, se a gente tivesse um apoio financeiro, eu acho que seria o ponto chave para focar principalmente e especificamente na performance", completou.

Sob supervisão do editor Rafael Tiago Nunes*

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