Bolsa Atleta: R$ 5,8 milhões investidos em medalhistas olímpicos de Paris
Programa Bolsa Atleta do Ministério do Esporte beneficiou 10 medalhistas dos Jogos de Paris, impulsionando mais de 9 mil atletas brasileiros
Foto: Alexandre Loureiro/COB
Desde 2011, a União desembolsou R$ 5,8 milhões para apoiar financeiramente atletas que se tornaram medalhistas nos Jogos Olímpicos de Paris. A pedido do Estadão, o Ministério do Esporte divulgou os valores pagos pelo programa Bolsa Atleta aos 10 medalhistas olímpicos desta edição até sexta-feira, 2 de agosto.
Atualmente, mais de nove mil atletas recebem apoio do programa, com bolsas variando entre R$ 410 e R$ 16,6 mil. Dos 276 atletas brasileiros que estão competindo nas Olimpíadas, 241 são beneficiários do Bolsa Atleta, criado em 2004, durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Histórias de sucesso
Rebeca Andrade, medalhista na ginástica, é beneficiária do programa desde 2012, inicialmente na categoria "internacional". A atleta de 25 anos ganhou a medalha de ouro no solo nesta segunda-feira (5), e ao longo dos anos, acumulou R$ 1,2 milhões em bolsas.
Flávia Saraiva, que conquistou o bronze na ginástica artística por equipes, está no programa desde 2013 e recebeu pouco mais de R$ 1 milhão em benefícios.
Bia Souza, judoca que conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil nesta edição das Olimpíadas, começou a receber a bolsa em 2018, acumulando R$ 819.258 até agora.
Outros destaques
- Caio Bonfim (marcha atlética): R$ 753.822,58
- Lorrane Oliveira (ginástica): R$ 586.512
- Larissa Pimenta (judô): R$ 472.100
- Jade Barbosa (ginástica): Bolsista desde 2011, com valores entre R$ 3.100 e R$ 8.869.
- Rayssa Leal (skate): R$ 250.458
- Júlia Soares (ginástica): R$ 217.836
- Willian Lima (judô): R$ 186.790
O Bolsa Atleta, criado em 2005, apoia atletas de alto rendimento, permitindo que continuem treinando e competindo em nome do Brasil. O programa oferece seis categorias de bolsas, variando de R$ 370 a R$ 16.629 reais mensais.
Impacto do programa
O Bolsa Atleta oferece suporte essencial para que os atletas possam se dedicar exclusivamente ao treinamento e às competições, sendo vital para o desenvolvimento do esporte no Brasil. A cada ciclo, os atletas recebem até 12 parcelas ao longo de um ano.
Nos Jogos Olímpicos de Paris, o Brasil já conquistou diversas medalhas, com o primeiro ouro vindo da judoca Bia Souza e a primeira medalha sendo o bronze de Rayssa Leal no skate street. Ambas são beneficiárias do programa.
Pesquisa e redução de investimentos
Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) em parceria com o Instituto Federal de Goiás (IFG) revelou que os governos de Michel Temer (2016-2019) e Jair Bolsonaro (2019-2022) foram os que mais reduziram o investimento público federal no esporte. A ferramenta Transparência no Esporte confirmou essa redução, impactando especialmente o Bolsa Atleta e os recursos destinados aos Jogos Olímpicos.
Os dados mostram que, em sete anos, esses governos promoveram cortes significativos nos investimentos federais no esporte. O pico de pagamentos do Bolsa Atleta ocorreu em 2014, durante o governo Dilma Rousseff, com mais de R$ 247 milhões. Sob Temer, houve uma queda de cerca de 90% nesse valor. Embora tenha havido um aumento em 2019, os valores permaneceram instáveis durante o governo Bolsonaro.
Apoio aos atletas
Com 33 anos, Caio Bonfim, um dos beneficiários do Bolsa Atleta desde sua criação, conquistou a medalha de prata na marcha atlética, uma das provas mais tradicionais das Olimpíadas. O atleta brasiliense, que cresceu admirando Joaquim Cruz, atribuiu sua conquista ao programa que o apoia desde o início de sua carreira e que já beneficiou mais de 9 mil atletas.
Desde 2005, o Bolsa Atleta, maior programa de incentivo ao esporte de alto rendimento do Brasil, tem apoiado financeiramente atletas que obtêm bons resultados em competições. Este ano, o programa atingiu seu recorde com 9.075 beneficiários. A categoria Atleta Nacional é a maior, com quase 6 mil atletas. A categoria Pódio, para atletas de elite, oferece bolsas de até R$ 16.629 mensais e contempla aqueles entre os 20 melhores do mundo em suas modalidades.
De acordo com dados da Secretaria de Comunicação Social, 98% dos atletas brasileiros em Paris já foram beneficiados pelo programa em algum momento de suas trajetórias e 87% deles ainda recebem o benefício atualmente.
Cortes e aumentos no programa
Desde o governo Michel Temer, o programa Bolsa Atleta começou a enfrentar cortes. Em 2017, o orçamento foi reduzido pela metade, de R$ 140 milhões para R$ 70 milhões. A situação teria se agravado durante o governo Jair Bolsonaro. Neste governo Lula, o programa teve um aumento de 10,86% nas bolsas depois de 14 anos de congelamento.
Os dados do Ministério do Esporte mostram que a cada quatro anos, o Brasil se lembra da necessidade de investir em esportes, mas nos outros três, os investimentos sociais são cortados. Em 2023, o setor do esporte recebeu apenas 0,008% do orçamento federal anual, e a previsão para 2024 é de 0,04%.
Enquanto outras nações dedicam recursos para treinamento de atletas, infraestrutura esportiva e programas de desenvolvimento, o Brasil investe muito menos. Em 2023, 43,23% do orçamento federal foi destinado ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública, com previsão de 45,98% para 2024 (R$ 2,49 trilhões).
O custo do sucesso no esporte
Chegar ao topo no esporte exige não apenas dedicação, mas também recursos financeiros. Desde a base, um atleta aspirante precisa de investimento e estrutura para se desenvolver. No entanto, muitos esportistas, especialmente de modalidades com menos visibilidade, enfrentam a falta de patrocínios e precisam se "superar" para alcançar seu máximo.
Uma pesquisa da Serasa e do instituto de pesquisa Opinion Box, divulgada na semana anterior à abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, destacou o impacto do dinheiro na formação de atletas no Brasil. Dos 2.016 entrevistados, 67% praticaram ou tinham interesse em esportes na infância, mas apenas 1% se profissionalizou devido a outras prioridades, como estudos, trabalho e falta de apoio financeiro.
Os dados mostram que o esporte não é acessível para todos. Os Jogos Olímpicos são a maior competição esportiva do mundo, revelando histórias de superação. Para muitos, a participação em uma Olimpíada já é uma vitória, independentemente de medalhas.