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Mercado de shows no Brasil enfrenta crise pós-pandemia com cancelamentos e custo

Mercado de shows no Brasil enfrenta crise pós-pandemia com cancelamentos e custo

Com custos elevados e excesso de festivais, produtores enfrentam dificuldades para manter a rentabilidade dos eventos ao vivo no Brasil

| Autor: Felipe Cerqueira

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Após um período de euforia com o fim das restrições impostas pela COVID-19, o mercado de shows do Brasil está passando por um período difícil. A esperança inicial foi interrompida por vários cancelamentos, mostrando uma recuperação real após dois anos de intensa atividade.

Cancelamento de Turnês de Grandes Estrelas:

Ivete Sangalo e Ludmilla, duas das principais estrelas da música brasileira, desmarcaram suas turnês em estádios, que seriam realizadas pela produtora 30e. Essas turnês rapidamente se tornaram um símbolo do excesso de confiança com a retomada dos shows. Mas a crise é mais ampla. O Mapa dos Festivais diz que dezoito festivais no Brasil já foram adiados ou cancelados para 2024, e nove eventos que eram considerados importantes no ano passado ainda não voltaram.

Desvalorização das Ações da T4F:

As ações da T4F, a única produtora brasileira listada na B3, valem menos de um terço do valor de meados de 2021, quando a vacinação no Brasil trouxe esperança para a volta dos eventos. Os produtores afirmam que o maior problema é o aumento dos custos de logística e produção após a pandemia. Os maiores artistas ganham mais de US$ 3 milhões (R$ 15 milhões) por mês, enquanto os maiores festivais e turnês internacionais cobram entre R$ 700 e R$ 1.100 por dia.

Disposição do Público para Gastar com Shows:

Um levantamento da Serasa mostra que 70% dos espectadores não pagariam mais de R$ 300 para assistir a um show com estrelas nacionais ou internacionais, apesar de esses preços serem comuns em grandes shows nacionais. O que os analistas de mercado chamam de "estouro da bolha" é uma situação em que os preços aumentam mais do que realmente valem. Os organizadores dos eventos afirmam que há uma quantidade excessiva de eventos semelhantes e shows com expectativas irrealistas para o público.

Aumento Global de Custos e Desafios Locais:

Os custos aumentaram em todo o mundo, com mão de obra e transporte elevados. No entanto, a chegada "agressiva" da 30e foi um desafio adicional no Brasil, elevando os valores a níveis alarmantes para o setor. Para seu lançamento em 2021, a empresa recebeu R$ 400 milhões do fundo de investimentos Flowinvest e passou a pagar cachês exorbitantes.

Críticas e Problemas de Logística da 30e:

Ao cancelar suas turnês no mesmo dia, 15 de maio, Ivete Sangalo e Ludmilla disseram que a 30e não havia entregue a logística necessária. Os produtores de outras turnês da 30e criticaram a empresa por sua "falta de estrutura", que "deu um passo maior do que as pernas". A comunicação da 30e falou sobre os problemas de "demanda" para o show de Ivete, sem mencionar o caso de Ludmilla, e afirmou que as artistas eram responsáveis pela decisão de cancelar as turnês. A solicitação de comentários sobre a reportagem não foi atendida pela empresa.

Competição e Leilões de Turnês:

A competição pelas turnês mais procuradas do Brasil se transformou em um "leilão" entre as produtoras, com pagamentos crescentes aos artistas e benefícios financeiros. Em 2023, o cantor Jão foi alvo de um leilão. A 30e vencedora pagou R$ 1 milhão por cada um dos 16 shows da turnê em 2024. O mercado está assustado com valores excessivos. Os Natiruts ganharam R$ 500 mil por vinte apresentações em sua turnê de despedida, apesar de não terem classificado sua música entre as dez mais ouvidas há mais de dez anos. Kendrick Lamar, apesar de sua popularidade ser maior nos EUA do que no Brasil, recebeu US$ 2 milhões (R$ 10 milhões) por uma noite no festival GPWeek.

Recusa da T4F em Participar de Leilões:

Embora os contratos de shows normalmente incluam cláusulas de confidencialidade, alguns especialistas, que desejam permanecer anônimos, afirmam que a T4F decidiu não participar mais de "leilões" com a 30e porque acreditam que os preços estavam exagerados e levariam a prejuízos. A turnê "Numanice" de Ludmilla, que foi um sucesso de festa de label, é contraposta ao cancelamento de sua turnê de estádio. A turnê "Ludmilla in the House" em São Paulo vendeu apenas 27 mil ingressos, o que não era suficiente para usar o Allianz Parque. Em outras cidades, a venda de ingressos foi ainda menor.

Retração do Mercado de Shows:

Será que 70% dos espectadores brasileiros pagariam mais de R$ 300 para assistir a "qualquer show, seja de estrela nacional ou internacional", de acordo com uma pesquisa do Serasa divulgada este mês? Por outro lado, a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) registrou um aumento de 46,6% no setor de eventos e cultura no país de janeiro a outubro de 2023. No entanto, depois de um período de euforia, com um excesso de festivais e uma oferta saturada, o mercado de shows agora enfrenta uma retração.

Necessidade de Adaptação na Indústria do Entretenimento:

A indústria do entretenimento no Brasil precisa se adaptar às novas circunstâncias econômicas. Eles devem descobrir maneiras sustentáveis de atrair espectadores e manter a rentabilidade dos eventos ao vivo, especialmente agora que os preços estão aumentando e os clientes não estão dispostos a pagar altos preços.

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