Após 25 anos, o Brasil finalmente tem um filme para voltar a competir no Oscar
A crítica não reflete a opinião do VarelaNet
Foto: Divulgação
Normalmente, as críticas que eu, Vítor Lyrio escrevo para subir aqui no VarelaNet buscam trazer avaliações e opiniões baseadas em uma crítica mais racional, porém desta vez será impossóvel não se emocionar enquanto cinéfilo. "Ainda estou aqui" é uma obra de arte que reafirma o poder e potencial do cinema nacional com sua abordagem histórica sensível e humana, além de atuações memoráveis que elevam ainda mais o impacto emocional do filme, como por exemplo a presença impecável de Fernanda Torres que mostra mais uma vez que é a única pessoa possível a herdar o posto de maior atriz da cinematografia brasileira em toda história, que atualmente pertence a sua própria mãe, Fernanda Montenegro, de forma indiscutível.
Dirigo por Walter Salles e baseado no livro homônino de Marcelo Rubens Paiva, o longa narra a história de Eunice Paiva e sua família e é marcao pela violência presente na época da ditadura militar, principalmente após o sequestro do ex-deputado Rubens Paiva, que é interpretado por Selton Melo. Em um dos maiores lançamentos do cinema brasileiro, o filme é uma combinação de narrativa íntima e produção de excelência que é capaz de cativar toda e qualquer audoência ao redor do mundo.
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O filme se destaca pela profundidade com que aborda o contexto político, sem deixar de abordar e focar na perspectiva da família do então sequestrado, Rubens Paiva. Logo na abertura, temos uma cena que simboliza bastante essa ideia, que é o momento em que Eunice, então interpretada por Fernanda Torres aparece boiando em uma praia, no Rio de Janeiro enquanto um helicóptero militar passa sobrevoando por cima dela, mostrando um pouco do que o filme guarda para a sequência da história e apresentando um pouco do perigo invísivel presente no filme. Esse cenário localizado na casa dos Paiva, na zona nobre do Rio de Janeiro, reflete a distância entre os privilégios de uma família influente e o perigo que se esconde nas ruas controladas pelo exército brasileiro, lembrando ao público um pouco sobre as tensões que existiam naquela época.
Fernanda Torres entrega uma performance tão impressionante ao incorporar Eunice que beira a perfeição, se não atingir-la, capturando nuances de força, dor e resiliência em um arco bastante complexo. Desde a vida confortável de uma dona de casa até se tornar vítima de uma violência estatal opressiva, a atriz revela a transformação de sua personagem com uma intensidade que deixa absolutamente qualquer pessoa que estiver assistindo de boca aberta. Além disso, a presença sempre especial de Fernanda Montenegro encerra o filme com uma atuação a nível de Fernanda Montenegro, completamente espetacular, ao interpretar Eunice em uma fase mais avançada da vida, reforçando o impacto emocional e gerando uma sensação de fechamento poderosa, quase que fazendo uma rima extradiegética com a ideia de que Fernanda Torres realmente esteja pronta para assumir o posto deixado por sua mãe, principalmente quando lembramos que Fernanda Montenegro hoje já tem 95 anos.
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A produção é tecnicamente refinada, com a fotografia de Adrian Tejido e trilha sonora de Warren Ellis, ambos os elementos se destacam e enaltecem o suspense e a tensão do filme. Tejido alterna entre momentos em que está com a câmera na mão, o que aumenta a nossa 'intimidade' com a família e personagens que estão em cena com momentos de planos estáticos, trabalhando muito em cima de luzes e sombras que ajudam a criar um ambiente de drama e suspense, retratando bem o momento vivido por todos os personagens presentes em cena. A trilha sonora também contribui de forma impecável na construçãodesta imersão no período e na atmosfera emocional do filme, ecoando as nuances de dor e esperança presentes na trama.
Com uma direção qu demosntra conhecimento e vivência no universo que retrata, Walter Salles constrói uma narrativa que se aproxima de um documentário. "Ainda estou aqui" é um exemplo perfeito de como o cinema pode refletir as dores e as memórias de um país inteiro. Em um momento de flerte com o passado autoritário no Brasil, a obra relembra as marccas deixadas pela ditaura e aluta daqueles que enfrentaram toda a opressão imposta em silêncio. Sem dúvidas, a obra é um filme que transcende as fronteiras nacionais e que representa uma forte candudatura brasileira para as premiações internacionais, destacando o valor e a produção da cinematográfia nacional.
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O longa foi indicado para a categoria de "Melhor filme internacional" e Fernanda Torres representará o Brasil na categoria de "Melhor atriz" no Oscar, 25 anos após a sua própria mãe, Fernanda Montenegro ver o maior prêmio do cinema mundial ser tirado dela e ser entregue para Gwyneth Paltrow.