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Mulher no volante... Ana conta sobre a vida e perigos de ser motorista de app

Mulher no volante... Ana conta sobre a vida e perigos de ser motorista de app

Motorista por aplicativo contou com exclusividade para o Varela Net sobre os desafios da profissão para as mulheres em Salvador

| Autor: João Grassi*

Foto: Domingos Junior/Varela Net

Ana Karina Lima, de 34 anos, mora no Imbuí, é mulher e trabalha como motorista de aplicativo em Salvador. Ela enfrenta diversos desafios na profissão, entre situações cotidianas como discussões de trânsito e a alta nos preços dos combustíveis, ou até passageiros que apresentam comportamento desrespeitoso. Com muitas corridas no turno da noite, Ana diz ter medo da violência da cidade, mas tenta administrar seus trajetos da melhor maneira possível.

"Eu geralmente trabalho durante a noite, apesar de que neste turno a gente enfrenta muitas complicações. Por conta do aumento da gasolina, não compensa a gente estar rodando durante o dia. Entretanto, algumas pessoas têm medo e preferem realmente trabalhar durante o dia", conta Ana.

"Por eu ser mulher, os passageiros normalmente me perguntam se eu tenho medo de atuar como motorista de aplicativo, principalmente a noite. O medo sempre existe, pois nós estamos suscetíveis a vários problemas, principalmente a violência,", argumenta a motorista. 

Como em outras ocasiões envolvendo mulheres, irão existir pessoas, principalmente homens, que passam do ponto e se portam de maneira imprópria, inconveniente ou até abusiva. A motorista chegou a dizer que há situações em que é necessário uma intervenção mais rígida de sua parte, para evitar um risco maior.

"A gente tenta administrar como pode, mas ocorrem situações com homens que não respeitam. Às vezes mexem, fazem piada, mas a gente tenta fazer da melhor forma. Têm situações que mandamos o passageiro descer no carro", afirma Ana.

"Já aconteceu, principalmente com passageiros homens, de dizer que estou bonita, que estou cheirosa. Nesses casos, eu tento administrar, e quando eu percebo que está passando do ponto, eu começou a ser um pouco mais dura, para tentar cortar. Um passageiro já me tocou, mexeu no meu ombro. Numa situação como essa, eu sou diretamente grosseira, não tento administrar nada", disparada.

Preocupada com a violência da capital baiana, Ana Karina evita determinados locais da cidade. Ela opta por deixar alguns clientes na rua principal de alguns bairros, já que muitas localidades não são seguras ou, por vezes, estão desertas. Entretanto, ela já teve "surpresas" ao chegar em alguns destinos combinados anteriormente.

"Principalmente nas corridas da noite, quando a corrida é para determinados bairros, a gente pergunta se a rua que o passageiro vai é a principal, pelo risco de alguns bairros. Eu, como mulher, tenho que me precaver. Já aconteceu do passageiro dizer que estava indo para a rua principal do bairro, mas ao chegar no local, ele exigir que entre em uma viela. Eu neguei e ele teve que descer do carro. Isso já aconteceu não só comigo, como com outras motoristas mulheres", lembra Ana.

Acidente e machismo

Além de todas os problemas mais voltados para segurança pessoal, ela ainda contou sobre as dificuldades em dirigir no movimentado trânsito de Salvador. Ela já sofreu com uma batida ocasionada por um outro motorista, e mesmo ele considerando não ser responsável pelo incidente, descartou um diálogo com ela. Ana acredita que o fato de ser mulher influenciou muito na resposta grosseira que recebeu.

"Já tive discussões de trânsito. Aconteceu de uma pessoa bater no meu carro com um passageiro dentro, na Avenida Paralela, por volta das 7h. Ele arranhou a frente do meu parachoque. O passageiro ainda me deu a opção de descer do carro para resolver a situação, porém ele foi tão agressivo, colocou o corpo pra fora do carro, me xingou, que eu preferi nem descer do carro. A empresa que eu trabalho não tem nenhum vínculo, o custo para reparo do veículo é todo meu", relembra Ana, indignada.

Apesar de todas as adversidades, ela diz que ainda encontra pessoas que se identifica e consegue boas conversas durante suas corridas. "Existem diversos tipos de passageiros, alguns chegam aqui e não abrem a boca, outras contam tudo da vida. Eu já dei conselhos, escutei, tem gente que chora. É muito interessante, muito engraçado".

Na porta de casa

A motorista ainda contou a situação mais inusitada que viveu enquanto trabalhava, quando se deparou com o marido de uma passageira na porta de sua casa. A cliente havia esquecido um item de valor no seu banco de trás, mas só percebeu no dia seguinte.

"Umas cinco corridas depois dela, eu peguei uma passageira que estava alcoolizada, eu geralmente não aceito pessoas nesse estado, mas fiquei com medo de um motorista homem levar ela, aí aceitei. Quando cheguei no condomínio dela, eu fui tirar ela do carro, porque ela não acordava, a cabeça dela estava em cima de um notebook. Eu guardei o computador na mala do carro e continuei as corridas, mas no dia seguinte, minha mãe me alertou que o esposo de uma passageira estava procurando um notebook que tinha sido esquecido no meu carro", conta ela.

Inicialmente, Ana teve cautela para entregar o objeto, com receio de não ser o verdadeiro dono, mas tudo acabou sendo esclarecido, quando o marido utilizou uma ligação de vídeo para mostrar sua companheira, reconhecida pela motorista, que procurava um notebook perdido.

"Ele ligou por vídeo, eu vi que realmente era ela, mas perguntei como ele sabia até o número do meu apartamento. Ele disse que a esposa era bancária, e com os dados que já são fornecidos no aplicativo, conseguiu mais informações e localizou meu endereço", conta, assustada.

*Sob supervisão do editor Rafael Tiago Nunes

 

 

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