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Jovem é baleado, perde rim e hospital entrega órgão à família em saco plástico

Jovem é baleado, perde rim e hospital entrega órgão à família em saco plástico

Caso aconteceu em Lauro de Freitas, e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) se posicionou

| Autor: Redação

Foto: Arquivo pessoal

Um jovem de 21 anos precisou passar por uma intervenção cirúrgica no Hospital Geral Menandro de Faria (HGMF), em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador, após sofrer um tiro. Ele perdeu um dos seus rins e a equipe médica entregou o órgão à família dele, em um saco plástico.

O caso ocorreu na última sexta-feira (22) e nesta terça (26), a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que investiga o episódio, decorrente de uma "falha no fluxo do atendimento". O paciente permanece internado na unidade, mas está estável.

Jeferson Oliveira Bispo trabalha com delivery de comida por aplicativo. No dia em que foi baleado, ele foi abordado por homens armados enquanto passava por uma das ruas do bairro de Itinga. Moradores socorreram o entregador e o levaram para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

Devido a gravidade do ferimento, Jeferson foi regulado e transferido para o Menandro de Faria. No hospital, os médicos não encontraram a bala que atingiu o jovem, mas efetuaram uma cirurgia para conter o sangramento.

Neste momento foi iniciado o drama da família e amigos da vítima. A namorada de Jeferson, Andreza Silva, o acompanhava nos atendimentos. Ela conta que foi chamada pela equipe médica da unidade, e foi informada de que precisaria pegar "uma peça do namorado".

Quando foi retirar esse material, Andreza se deu conta que estava segurando o rim do namorado e se assustou. Conforme ela, o órgão foi entregue junto com uma solicitação de exame de anatomia patológica, e a indicação de clínicas onde o procedimento poderia ser feito.

“Deram um saco na minha mão e diziam que era uma peça. Depois disso, ela [médica] veio dizer que era o rim dele. Até então, a gente não sabia de nada disso e só soube depois da visita que era o rim. Isso foi no sábado (23), e ela falou que até segunda (25), a gente tinha que fazer esse exame”, disse Andreza ao g1.

Ainda segundo a companheira de Jeferson, a médica não explicou o que deveria ser feito com o rim de Jeferson, e disse para que ela não ficasse assustada, pois era normal que pessoas ficassem sem um dos rins.

Exames

O Hospital Geral Menandro de Faria (HGMF) alegou que o órgão foi entregue aos familiares para realização de uma biópsia, porque a unidade não possui laboratório de anatomia patológica. Antes de informar que apura o caso, a Sesab confirmou a entrega do rim à família.

A secretaria informou, em nota, que os familiares de Jeferson receberam indicações de onde levar o órgão para fazer a biopsia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e que a unidade procurou a família para tirar dúvidas sobre os protocolos adotados.

Já nesta terça, a pasta reconheceu que aconteceu uma falha no fluxo do atendimento, já corrigida. Ainda de acordo com a Sesab, o material foi entregue novamente ao hospital, que será responsável por realizar a biopsia.

O presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Otávio Marambaia, afirmou que o rim de Jeferson não deveria ter sido entregue à família.

“Há um estranhamento, porque o material cirúrgico, aquilo que foi retirado durante a cirurgia, deveria ter sido acondicionado corretamente e encaminhado para o Laboratório de Anatomia Patológica, não ser entregue aos familiares sem nenhuma orientação. Eu recomendo sempre às famílias que não levem para casa material cirúrgico, que deva fazer exame, para evitar justamente a perda, o extravio e até a destruição deste material, porque o paciente ficar sem um diagnóstico e, por consequência, ficar sem tratamento”.

Segundo Otávio, o procedimento correto é que o próprio hospital encaminhe o material para laboratórios que façam os exames.

“Em qualquer hospital que se preze, o material é encaminhado ao laboratório do próprio hospital, ou a um laboratório conveniado. Acondicionado em vasilhames ou imerso em líquidos próprios, para conservação do material, de modo a evitar que se perca a qualidade do exame, quando for realizado. Esse órgão poderia apodrecer, ser destruído. E, caso se tratasse por exemplo de uma doença grave, o que não é o caso, felizmente, perder-se-ia o material que foi retirado do paciente e que, como todo material, tem que ser examinado. Nos casos de doenças malignas como um câncer, o material tem que estar em condições adequadas para que o patologista possa fazer um diagnóstico. Sem isso, sem o acondicionamento adequado, o material se destrói. Prejudica o diagnóstico, dificulta e às vezes impossibilita o diagnóstico”.

Família não entende situação

O pai de Jeferson, Luciano Bispo, esteve no hospital horas após Andreza receber o rim do namorado, e questionou a unidade de saúde sobre o procedimento.

“É uma situação muito complicada. A gente fica estarrecido com uma situação dessa. Eu queria uma resposta do hospital, porque nunca vi uma coisa dessas”, lamentou.

Sem uma resposta do hospital, ele foi orientado pela própria família a prestar queixa na Delegacia de Portão. Ele relatou que, ao buscar esse atendimento, foi maltratado e constrangido pelos policiais, e que por isso a ocorrência não foi registrada.

Em nota, a Polícia Civil disse que disponibiliza tanto a Ouvidoria quanto a Corregedoria, para que seja formalizada a denúncia de mau atendimento. Informou ainda que não "coaduna com as atitudes relatadas".

Já com relação aos tiro que Jeferson recebeu, a Polícia Militar informou que um adolescente suspeito de envolvimento no crime foi apreendido e levado para Delegacia de Lauro de Freitas.

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