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Estátua de Mãe Stella é reinaugurada e será monitorada por câmeras

Estátua de Mãe Stella é reinaugurada e será monitorada por câmeras

Após ser destruída por incêndio, obra de Tatti Moreno foi restaurada pelos filhos do artista plástico, André e Gustavo Moreno

| Autor: Redação

Foto: Valter Pontes/Secom

A Prefeitura de Salvador inaugurou nesta quinta-feira (10) a nova estátua de Mãe Stella de Oxóssi, uma das mais influentes líderes espirituais do candomblé na Bahia e no Brasil. A peça artística está situada na avenida que leva o nome da ialorixá, na ligação entre Avenida Paralela e Stella Maris.
 
A obra é de autoria do escultor Tatti Moreno, morto em julho de 2022, e teve que ser completamente refeita após incêndio em dezembro passado. O trabalho de reconstrução foi conduzido pelos filhos de Tatti, os artistas plásticos André e Gustavo Moreno. 

“Esse é um momento de celebração e de restabelecer a história. É uma justa e merecida homenagem a essa que foi  uma das principais líderes religiosas do nosso estado. Mãe Stella transcendeu a religião, indo para cultura, literatura, realizando um grande trabalho social. Nós, homens públicos, temos que valorizar seus líderes, prestando essas homenagens para que isso sirva de inspiração para as gerações presentes e futuras”, disse Bruno Reis durante o evento.

A solenidade também contou com a presença da ialorixá Mãe Ana de Xangô, atual liderança do Ilê Axé Opô Afonjá, situado em São Gonçalo do Retiro, assim como representantes do terreiro, do afoxé Filhas de Gandhy e gestores municipais.

Medindo dois metros de altura, a estátua de Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018) foi produzida em resina de poliéster, fibra de vidro com propriedades antichamas, acabamento em poliéster e pintura em poliuretano.  

Para Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos, órgão responsável por encomendar a obra artística, a reinauguração da estátua marca a posição contra a intolerância religiosa.  “É muito importante que a população preserve este monumento, que não é da Prefeitura, é da cidade. Todas as pessoas, religiosas ou não, devem cuidar. Trata-se de um monumento cultural acima de tudo. Mãe Stella é uma personalidade que extrapola a religiosidade. Ela era uma intelectual que está sendo homenageada pela Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), além de ser imortal da Academia de Letras da Bahia”, declarou.

A escultura da ialorixá volta à posição de origem, defronte a um Oxóssi que mede quase nove metros de altura (já incluindo o pedestal), representando a sacerdotisa sentada em um trono, como nos dias em que ela comandou Ilê Axé Opô Afonjá. O terreiro foi onde a religiosa exerceu liderança por mais de quatro décadas. A primeira obra havia sido inaugurada em abril de 2019.

Estátua de Oxóssi

Já a estátua de Oxóssi, cuja saia havia sido atingida pelas chamas, também precisou ser recuperada e pintada. Com isso, todo o conjunto dedicado a Mãe Stella está completamente recuperado. Inclusive, o monumento tem à disposição uma placa QR Code do projeto #Reconectar para que a população possa acessar informações e dados sobre a personagem homenageada, por meio de um smartphone. 

“Esse momento é magnífico para toda comunidade de axé, povo de santo, inclusive para o Opô Afonjá, em que comemoramos a ancestralidade de Mãe Stella”, disse Mãe Ana de Xangô. Ela aproveitou a ocasião para falar da necessidade de combater a intolerância religiosa sobretudo contra as tradições de matriz africana e clamou por união e respeito a todas religiões.

Para o titular da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho, a  reinauguração do monumento representa a determinação da cidade em lutar contra o preconceito religioso. “As ialorixás são as grandes líderes da cidade. A imagem de Mãe de Stella volta aos pés de Oxóssi e assim seguirá”, disse ele, acrescentando que a sacerdotisa teve a capacidade de comunicação e de abrir portas, ampliando rede apoio e potência do candomblé no país.

Monitoramento por câmeras

Como medida para resguardar a integridade do conjunto artístico dedicado à Mãe Stella, a Guarda Civil Municipal (GCM) realizará o videomonitoramento do local de forma ininterrupta por meio de quatro câmeras de segurança já instaladas, além de intensificar o número de rondas da região. 
 
A iniciativa faz parte do projeto de instalação de 200 câmeras que atenderão toda a cidade em áreas turísticas.

A iluminação pública do entorno também foi reforçada após a colocação de sete refletores.

A obra 

 Responsáveis por reconstruir a estátua de Mãe Stella, André e Gustavo Moreno contam que buscaram todas as referências da execução da obra que foi criada pelo pai deles, Tatti Moreno, cumprindo diferentes etapas de trabalho, como modelagem, formatação, acabamento e pintura. Tudo para manter as características e originalidade da escultura.

“Só tínhamos referências fotográficas, acompanhei o processo de execução da obra mas não participei efetivamente. Essa recuperação é um resgate de toda uma história da nossa cultura, das nossas raízes e do sangue que corre nas nossas veias”, salientou André.

Gustavo descreve que se sentiu honrado em ter colaborado para o retorno do monumento para a cidade: “Fica o sentimento de renascimento. Quando a gente soube do incêndio (no final do ano passado) foi muito trágico, e agora a gente traz de volta esse legado gigante deixado por meu pai, como criador da obra, e Mãe Stella, referência do candomblé para o Brasil”, avaliou.

Legado de Mãe Stella

 Personalidade de grande destaque da cultura baiana e respeitada líder religiosa, Mãe Stella nasceu em 2 de maio de 1925 e foi a quinta ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá. No local, ela foi iniciada aos 14 anos, assumindo em 1976, aos 51 anos, a posição de matriarca do templo. 
 
Primeira ialorixá no país a escrever livros e artigos sobre o candomblé, Mãe Stella também lutou pelo resgate da cultura afrobrasileira e contra o racismo. Como escritora, é autora de vários livros, incluindo “Meu tempo é Agora”. Em 2013, foi eleita por unanimidade para ocupar a cadeira 33 da Academia de Letras da Bahia, cujo patrono é o poeta Castro Alves. A sacerdotisa faleceu na cidade de Santo António de Jesus, em 27 de dezembro de 2018.


 

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