Ingresso na universidade: como os jovens lidam com as pressões para passar no vestibular
Os resultados do ENEM 2024 foram divulgados, mas a pressão sobre os jovens começa bem antes de fazerem a prova
Foto: Divulgação/AL-ES
Pressão familiar, autocobrança, condição financeira, má qualidade de ensino e poucas vagas são algumas das maiores preocupações enfrentadas por quem deseja ingressar no ensino superior no Brasil. Essas dificuldades levam muitos a passarem anos em cursinhos, optarem por cursos que não correspondem aos seus interesses ou até mesmo desistirem da vida acadêmica.
Na última semana, Ana Laura Ramazotti, de 26 anos, viralizou nas redes sociais ao compartilhar que passou nove anos em cursinhos pré-vestibulares para conseguir ser aprovada em medicina em uma universidade pública. No vídeo, Ana Laura relata os desafios psicológicos enfrentados e como o processo de ingresso em uma faculdade é desgastante.
Segundo estudos recentes, cerca de 34% dos estudantes apresentam dificuldades em controlar suas emoções, 24% sentem-se sobrecarregados e 18% relatam tristeza ou depressão. Muitos desses problemas estão associados à pressão exercida pelo processo de ingresso na universidade.
Além disso, alunos de escolas públicas frequentemente reclamam da disparidade no nível de ensino em comparação aos colegas de escolas particulares. Atualmente, muitas escolas públicas no país não oferecem um preparo direcionado para vestibulares, ao contrário da maioria das instituições particulares.
“Tive um ensino médio 'ok', mas acredito que só com os conhecimentos obtidos em sala de aula não teria conseguido o mesmo desempenho no ENEM. Nem todas as escolas públicas possuem um programa pensado para o vestibular, diferentemente de grande parte das particulares”, declara Flavio Santana, estudante de Produção Cultural.
Diante dessa desigualdade, muitos estudantes recorrem a cursinhos pré-vestibulares como forma de nivelar seu aprendizado. Para muitos, essa preparação extra é essencial para ingressar na graduação.
Ensino Médio e Cursinho: Opiniões dos Estudantes
Perguntamos a alguns estudantes como avaliam o ensino recebido no ensino médio:
“O cursinho me ajudou muito. Sem ele, não teria conseguido”, afirmou Danilo Barbosa, engenheiro.
“Fiz um cursinho gratuito no meu bairro. Foi muito bom passar por lá antes do ENEM. As aulas de Biologia e Química foram fundamentais para mim”, compartilhou Deivide Sena, estudante de Jornalismo.
Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, apenas 12 estudantes obtiveram a nota máxima na redação do ENEM 2024, o que representa menos de 1% dos 3.180.388 participantes, de acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira). Esses dados reforçam a dificuldade enfrentada pelos alunos para obter bons resultados no principal exame de acesso à universidade.
Desigualdade no Acesso ao Ensino Superior
O Censo da Educação Superior 2023 revelou que 21,6% dos jovens entre 18 e 24 anos ingressaram na faculdade logo após concluir o ensino médio. Contudo, esse índice varia de acordo com o tipo de escola, modalidade de ensino e localização.
Por exemplo, 27% dos estudantes de escolas urbanas ingressaram imediatamente na universidade, enquanto o índice cai para 16% entre os alunos de escolas rurais. A modalidade de ensino também influencia: 44% dos jovens que cursaram ensino médio articulado à educação profissional entraram na faculdade, comparado a 30% na modalidade regular e apenas 9% entre os que concluíram o EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Além disso, 44,8% dos jovens entre 18 e 24 anos que já concluíram o ensino médio não frequentam a universidade, evidenciando as desigualdades no acesso ao ensino superior.
Impacto Social e Financeiro
Para muitos jovens, ingressar na universidade é a única maneira de mudar suas vidas e a de suas famílias.
Como relatou Deivide Sena: “Para quem é pobre, a educação é a única saída.”
Entretanto, nem sempre o curso escolhido é o desejado.
Daniel Bezerra, por exemplo, sonhava em estudar Música, mas optou por Jornalismo devido às demandas do mercado de trabalho.
“As pressões externas me fizeram abandonar o sonho de cursar Música, que é uma área que pode demorar a trazer retornos financeiros. Vivemos em um mundo capitalista, e precisei ser pragmático”, desabafou Flavio Santana.
Segundo uma pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), em 2021, 7 em cada 10 estagiários ajudavam a sustentar suas famílias, e 9% eram os únicos responsáveis pelo sustento familiar.
Apesar dos desafios, o sonho da universidade continua sendo a meta de muitos jovens. No entanto, a conquista desse objetivo ainda depende de superar barreiras como a má qualidade do ensino médio, dificuldades financeiras e pressões psicológicas, em busca de uma vida melhor para si mesmos e suas famílias.