Sem direito a exames nem raio-X: usuários relatam descaso na rede Hapvida
Operadora de saúde acumula denúncias por negligência e erro médico; empresa não se posicionou sobre casos denunciados em Salvador
Foto: Divulgação/Hapvida
Um homem de 66 anos está em coma há cerca de um mês após sofrer uma parada cardíaca durante uma cirurgia no Hospital Teresa de Lisieux, administrado pela rede Hapvida, em Salvador. Segundo familiares, o idoso foi vítima de erro médico, uma vez que um aparelho que lhe dava suporte foi desligado no meio do procedimento.
O episódio aconteceu no dia 15 de junho e foi denunciado ao Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), que abriu procedimento para apurar a conduta do Hapvida. A Polícia Civil também está investigando o caso, que não é isolado.
Nos últimos dias, usuários do Hapvida procuraram o Varelanet para relatar situações de descaso, demora no atendimento e, sobretudo, insatisfação com a operadora de saúde.
Procurada pela reportagem, a empresa não se manifestou sobre as denúncias mencionados ao longo deste texto. Em nota, a assessoria do Hapvida solicitou os dados dos usuários sob a justificativa de investigar as denúncias. O Varelanet não foi autorizado a repassar tais informações.
Caso o Hapvida envie novo posicionamento, o texto será atualizado.
“Médico negou raio-X”, diz usuária
“Fui até o Hapvida no Teresa de Lisieux por estar com dor no ombro esquerdo, que estava inflamado. Até aí tudo bem. Quando fui até a emergência, o médico perguntou o que eu tinha. Mas ele passou apenas o remédio e atestado. Então eu expliquei que estava com dor no ombro por trabalhar com peso e queria fazer um raio-X, porém o médico se negou, dizendo que só poderia ir de forma eletiva”, diz a promotora comercial Taiala Campos, 28 anos.
Insatisfeita com a negativa, Taiala conta que procurou o coordenador da unidade de saúde, mas não obteve êxito.
“Devido à dor, fui até a supervisão e até o coordenador direto, mas recebi a mesma resposta e saí de lá com dor no ombro”, acrescenta Taiala.
No caso da operadora de call center Emily Maiany, 28 anos, ela afirma sofrer de ansiedade. Em uma crise, ela buscou o pronto-atendimento do Hapvida no bairro do Uruguai, mas não teve o acolhimento que esperava e foi tratada de forma grosseira por uma médica e por uma enfermeira.
“A enfermeira, que ficou de me dar a medicação, foi totalmente antiética e no meio do ambulatório lotado de pessoas, falou em alto e bom som ‘é Diazepam que lhe foi receitado?’. Saí do atendimento aos prantos e só consegui me acalmar no Uber, voltando para casa”, descreve Emily.
Nesta terça-feira (8), um vídeo divulgado nas redes sociais mostra uma mulher exaltada na recepção no Hospital Teresa de Lisieux. Ao saber que o filho doente não seria submetido a exames, a mãe do menino se revoltou e tentou quebrar objetos da unidade, Ela precisou ser contida por funcionários.
Discriminação contra crianças com autismo
Atualmente, o Hapvida é um plano de saúde usado por milhões de brasileiros e acumula denúncias em diversas unidades próprias pelo país —a exemplo do Hospital Teresa de Lisieux na capital baiana.
Um dos casos que tiveram repercussão aconteceu em fevereiro de 2023, quando a empresa passou a ser investigada por má prestação de serviços a crianças com deficiência e transtorno do espectro autista (TEA).
À época, o Hapvida tornou obrigatório o uso de biometria para esses pacientes. A exigência causou revoltou em familiares das crianças, que apontaram discriminação do plano.
Os abusos relatados foram denunciados em Procons das regiões Norte e Nordeste. Entre as apurações concluídas, o Hapvida acabou multado pelo Procon/AM e está impedida de utilizar a biometria facial para atender o público TEA.
Além disso, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) notificou a empresa para verificar possíveis violações à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Kit-Covid na Bahia
Uma paciente de Salvador contou ao Varelanet ter utilizado o Hapvida por meio de teleatendimento no período da pandemia de Covid-19. Diagnosticada com a doença, a paciente recebeu o chamado kit composto por um coquetel de remédios sem eficácia contra o coronavírus.
A mulher disse que o teleatendimento foi feito por uma médica do Amazonas. Naquela ocasião, o Hapvida na Bahia se pronunciou sobre o caso e informou que apuraria a situação. "Obviamente não espelha a atitude encorajada e o treinamento dado aos médicos que participam do atendimento por telemedicina”, justificou.
No fim de setembro de 2021, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) começou a investigar as operadoras de saúde que passaram a disseminar o uso da cloroquina.
Após denúncias de que obrigava médicos a prescreverem hidroxicloroquina a pacientes com suspeita de Covid-19, o Hapvida foi investigado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) e pela ANS (Agência Nacional de Saúde).
*Sob supervisão do jornalista Alexandre Santos