Comunidade acusa PM de matar jovem quilombola em Juazeiro e pede ação federal
José William Santos Barros, de 26 anos, foi assassinado poucos dias após execução de Mãe Bernadete
Foto: Reprodução/Redes sociais
Moradores do quilombo do Alagadiço, em Juazeiro, no norte do estado, acusam policiais militares de matar o jovem quilombola José William Santos Barros, de 26 anos, no domingo (27). Segundo nota divulgada pelo Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir) juazeirense, testemunhas relataram que José estava em pé, em uma moto, com outras pessoas da comunidade, quando foi alvejado pelos agentes.
“Não houve qualquer possibilidade de diálogo, defesa ou anúncio de prisão. Ainda segundo os moradores, o corpo sumiu por uma hora, sem que fosse dada nenhuma satisfação para os moradores, que o encontraram no Hospital Regional da Cidade”, diz a versão do conselho.
A comunidade é a primeira a ser certificada no município, de acordo com o jornal Correio. A Polícia Militar não se manifestou sobre o caso.
O Compir destaca que o assassinato ocorre dias após a líder religiosa Mãe Bernadete ser executada com 12 tiros. “A população negra da Bahia tem enfrentado dias difíceis, em que a morte ronda as periferias, nossos jovens, nossas lideranças com muito mais contundência. O Estado registrando o índice macabro de campeã de mortes por ações policiais, chegando a quase 1500, em 2022, superando o Rio de Janeiro, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Nos últimos sete anos o número dessas ocorrências cresceu mais do que quatro vezes”.
Em uma carta aberta, o projeto social Educafro reivindica melhores condições de segurança pública no estado, além de maior atuação do governo federal em fiscalizações, monitorias e punições de crimes contra a população afro-brasileira, especialmente quilombolas.
“Não defendemos que os serviços de Justiça fechem os olhos para as pessoas da população afro que erram. Apenas exigimos concedê-las o mesmo tratamento concedido aos brancos que erram: o devido processo legal. A polícia não pode continuar, impunemente, tendo o direito de prender, julgar, matar e ser premiada com o arquivamento solicitado pelo Ministério Público”, afirma a Educafro.
De acordo com Educafro, é necessário que haja uma intervenção federal na segurança pública da Bahia. “Precisa tranquilizar a sociedade, tirando a desconfiança que assusta o povo baiano e brasileiro: podemos ter a certeza de que a segurança pública da Bahia não está nas mãos das milícias e dos maus policiais? Só uma intervenção federal, assessorada por uma comissão independente, com órgãos não partidários, irá nos dar uma sólida resposta”.