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Patrono, "Desabafo é quando a alma canta"

2ZDinizz traz tudo que o aflige, tudo o que o inspira, tudo o que faz o seu próprio ser único em seu lar, uma mesa de bar.

| Autor: Saulo Pedrosa
Capa do álbum "Patrono" de 2ZDinizz

Capa do álbum "Patrono" de 2ZDinizz |Foto: Reprodução: @2zdinizz

Ele não desperdiça um verso sequer, são crônicas cantadas e rimadas, um retrato da vida cotidiana das ruas niteroienses. Apesar de ter estourado recentemente, 2ZDinizz, de 30 anos, começou ainda jovem no grupo "Card Principal", gerando um burburinho na cena local. Com o fim do coletivo, Dinizz se encontrou perdido em suas emoções e deixou a música de lado para sobreviver um dia após o outro. Anos depois, voltando a gravar algumas "demos", uma delas foi apresentada ao L7nnon, cantor famoso do rap, que o agenciou e o contratou para sua nova gravadora, a HHR. Mentiras, promessas e amores, sorrisos e dores, choros e seus tambores têm lá numa mesa de bar. Patrono é o 1° álbum de estúdio do poeta da nova geração, conta a história dos seus dois protagonistas, O Patrono e o próprio 2Z, tendo uma conversa em uma simples mesa de bar. O projeto do artista, nascido no Rio Grande do Sul e criado em Niterói, é dividido em três atos. O primeiro mostrando o rapper mais imaturo, se exaltando quase como um gângster, o segundo com "lovesongs", especialidade sua, e o terceiro mais introspectivo, puxando as sensações mais profundas de sua alma, todas cercadas de cerveja, samba, boombap, espiritualidade e realidade. 

"Quem Disse Que o Boombap Morreu?" abre o álbum com dois pés na porta, mostrando que o estilo continua muito bem, obrigado. Rebelde e irreverente, malandro e galanteador. Uma abertura perfeita para o álbum. "Nós só quer marolar, nós só quer viver bem/Estourar um latão ouvindo uma do Jorge Bem/Deixa nós brincar que tu brinca também/E gritar pra esse mundo que eu não devo ninguém", diz o refrão da canção, exaltando a simplicidade do eu lírico, traço importantíssimo de sua personalidade.

Patrono, aquele que luta e/ou defende uma causa, ou ideia; um protetor, uma inspiração. A faixa título apresenta o seu segundo protagonista, o "Patrono". Religioso, devoto de São Jorge, curte um samba, "Fala alto mó carisma, ele é a cara do Rio/Malandro nato, vagabundo, mas sabe ser frio/Faz sucesso com as maluca e me ensinou feito um filho", inspiração quem o conhece e possui o respeito de quem não o conhece. Seu lar é o bar, seu trono é a mesa, é lá onde tudo acontece. "É que sou malandro, batuqueiro/Criado no samba, bebo um gelo/Se não acredita, patrono vai te ensinar/Que cabe o mundo na mesa de um bar".

O primeiro interlúdio do álbum (Interlúdio - Poder) apresenta a relação entre os protagonistas, mostrando a sabedoria do Patrono e a relação de mentoria entre ele e 2ZDinizz. Iniciando a conversa que presenciaremos entre os dois, apresentando o primeiro ato.

"Não Repara a Sujeira" continua a parte malandra e irreverente do projeto, retratando a autenticidade de 2Z e sua realidade como um homem das ruas. Indo contra pessoas que apenas dizem viver essa realidade, sem presenciar as mazelas dela. "Eu não respeito a lei, respeito a rua".

Em "Coisas Que Aprendi Com O Bicho", o eu lírico conta como é aprender nas ruas a sobreviver. Onde o dinheiro é tão importante quanto uma vida, se manter "limpo" é um privilégio. Numa cidade onde o prefeito não manda, ser o "dono da rua" já está perfeito. "Não confunda fantasia e adereço/Filho, todo poder tem um preço/A diferença de um rico prum rei, é o Trono/Nem todo mundo que é patrão, é patrono".

O segundo interlúdio (Interlúdio - O Amor) marca o início do segundo ato, onde os dois falam sobre seus problemas profundos "mais leves" que envolvem um tema em específico, o amor.
"Faixa Amarela" faz referência clara à canção homônima de Zeca Pagodinho. O início das "lovesongs" conta o início de um amor simples, que pode até não ter um prazo tão longo, mas será vivido intensamente. Os elogios irreverentes reforçam a malandragem do eu lírico e sua forma de viver, "Sou uma mistura de Zé do Caroço, Zé Pequeno e Zé Pilintra".

"Erro Favorito", de acordo com 2ZDinzz, não foi pensada para fazer parte do conceito do álbum, mas, apesar disso, encaixa perfeitamente nas histórias de amor. Um relacionamento cheio de erros, brigas e amores, é o seu erro favorito. Uma dúvida entre amar e o despear que parece não se resolver. "A vida é tempestade e navegar a dois me faz refém".

"Bandido Não, Malandro" é a arte de galantear presente em um malandro. O charme e a perspicácia do eu lírico para elogiar vem da vivência, o flerte é parte de sua essência e que, mesmo com uma possível semelhança existente, "Achou que era bandido? Bandido não, malandro". "A virtude de malandro é paciência (calma)/A virtude de bandido é inteligência (aulas)".

"Te Encontrar Na Lapa" é um amor que tem hora para acabar, um término sem um final, uma desilusão com o atual. A tentativa de seguir em frente contrasta com seu sentimento em ficar, "No fim das contas o que eu quero mermo é te encontrar na lapa/Te tratar como estranha e te dar dois beijin na cara/Olhar nos teus olhos pra poder encarar tua alma/E te mostrar que eu sou o único que o tempo não sara/O seu amor". Eterno nem sempre é viver o momento.

“Pra Ninguém Se Esconder” celebra a conquista do amor, a procura pela tranquilidade após anos de correria e mulheres. O amadurecimento necessário para a ascensão profissional e pessoal e o culto a sua própria paz, sem depender de outro alguém. “Eu mudei bastante/Tô mais velho e tô mais elegante/Quando eu parei de ligar pro que acham/Aprendi a fazer o que eles amam".

O terceiro interlúdio (Interlúdio - Confesso) inicia o terceiro ato do álbum, marca a parte mais intimista do projeto, quase como uma terapia.

"Coisas Que Não Aprendi Contigo" é o ápice sentimental do álbum. O "não sei" é mais que uma incerteza, é sua alma clamando por ajuda, por respostas que só ela pode desvendar. Crescer sem seu pai é seu maior trauma, a falta da figura paterna o obrigou a aprender tudo com a própria vida, a amadurecer mais cedo para trazer segurança à sua mãe. O fim dessa música é uma libertação dessas amarras, em que, apesar de não o conhecer, sabe que está orgulhoso de seu filho. "Sinto sua falta mermo sem nunca ter visto/Muito prazer meu coroa/Quem fez essa foi teu filho, porra!".

"Se Eu Pudesse" conta sobre sua realidade árdua desde pequeno, "Essa é pra você que lê cardápio da direita pra esquerda/Entendeu?/Não?/Então nossa situação não é a mesma". Seus maiores sonhos são viver na simplicidade, sem dificuldade e com as pessoas que ama, mas, para viver esse sonho, batalha todos os dias com perseverança. Dias melhores virão.

O quarto e último interlúdio (Interlúdio - Fim) é a conclusão da conversa entre os protagonistas. A resolução de seus conflitos, os elogios necessários e a figura paterna encontrada no patrono "Eu não sou teu pai, mas eu sou teu patrono; e se pai é quem cria, patrono é quem cuida", e finaliza de forma ambígua, mas dando a entender que o 2Z será o novo patrono, a figura em que se espelham, se inspiram e respeitam.

"Ficar Rico Esse Ano" é a conclusão de 2ZDinizz após essa conversa, motivado a ir atrás dos seus sonhos, sempre mantendo a simplicidade, o carisma e o respeito que andam lado a lado com seu ser. De cabeça em pé, mantém seu lema "quem é soberbo nunca vai ser soberano", a ambição não o corrompe, mas o motiva "Sucesso pra mim é um churrasco/Nós vendo Flamengo e Vasco uma roda de cateado, meus primos tudo empregado/E eu levo a vida no sapato que é o fundamento da rua/Quem é chefe não grita e quem manda não executa".

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