NotíciasExclusivasNeymar na Copa do Mundo de 2026: crença inalcançável ou salvador da pátria?

Neymar na Copa do Mundo de 2026: crença inalcançável ou salvador da pátria?

A menos de um ano da Copa, o melhor jogador dos últimos 15 anos do futebol brasileiro é uma incógnita 

| Autor: Gustavo Nascimento
Neymar comemorando um gol pela Seleção Brasileira

Neymar comemorando um gol pela Seleção Brasileira |Foto: Pedro Martins/Foto FC

Com problemas físicos mais uma vez, Neymar ficou de fora da convocação da Seleção Brasileira, anunciada nesta segunda-feira (25) pelo italiano Carlo Ancelotti, que selecionou os 23 jogadores que representarão o Brasil nos confrontos das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026 diante do Chile, no dia 4 de setembro, e contra a Bolívia, no dia 9. Apesar disso, o treinador entende que não precisa testar Neymar, e que a única condição para que o craque volte para a Seleção é que ele esteja fisicamente bem. 

Com a ausência, o craque do Santos completará dois anos sem frequentar o grupo da Seleção Brasileira. A última vez que Neymar jogou com a camisa da Amarelinha foi em 17 de outubro de 2023, quando sofreu uma lesão de ligamento cruzado anterior (LCA) diante do Uruguai. 

Instabilidade física e técnica

Ainda pelo Al-Hilal, Neymar precisou de exatos 12 meses para voltar aos gramados, mas teve uma lesão muscular no segundo jogo após a recuperação, que o afastou por mais três meses.

Sem ritmo de jogo e sem a confiança do treinador Jorge Jesus, ex-Flamengo, que chegou a dizer que Neymar não estava no mesmo ritmo que os companheiros de equipe e que não estava “apto”, o brasileiro buscou uma mudança de ares em 2025, que terminou com um retorno histórico ao Santos. Contudo, até o momento, o retorno do “príncipe” não tem sido tão proveitoso quanto as expectativas sugeriam que poderia ser.


Neymar no Santos.| Foto: Raul Baretta/Santos FC

Desde que estreou pelo Santos, no dia 5 de fevereiro deste ano, contra o Botafogo-SP, no Campeonato Paulista, Neymar esteve disponível somente em 19 das 30 partidas do Santos no período, ou seja, ele desfalcou a equipe em um a cada três jogos desde que chegou. 

O camisa 10 começou bem e emendou sete jogos em sequência no Paulistão, o mesmo número de partidas que fez nas duas temporadas pelo Al-Hilal, e contribuiu significativamente para a recuperação da equipe no campeonato. Porém, mais uma vez com problemas físicos ligados a desgastes musculares, Neymar foi desfalque contra o Corinthians, na semifinal do torneio, onde o Santos foi eliminado.

Dois meses depois, já em maio, Neymar faz a sua primeira partida pelo Brasileirão 2025 na derrota por 1 a 0 contra o Fluminense, entrando na segunda etapa. No jogo seguinte, contra o Atlético Mineiro, Neymar sentiu uma nova lesão muscular e foi substituído ainda no primeiro tempo, sendo obrigado a desfalcar o Santos por pouco mais de um mês.

Neymar retorna contra o CRB, no jogo de volta da terceira fase da Copa do Brasil, em Maceió, quando até consegue uma boa atuação ao entrar no segundo tempo, mas não garante a vitória no tempo regulamentar. Na disputa de pênaltis, o Santos foi derrotado e eliminado na competição.

Depois disso, o craque fez mais dois jogos antes da parada para a Copa do Mundo de Clubes, contra o Vitória, entrando no segundo tempo e sem grande destaque, e contra o Botafogo, quando fez um jogo decente, mas foi expulso após tentar marcar um gol de mão, sendo determinante para a derrota por 1 a 0.

Já em julho, depois do Mundial, Neymar emendou uma sequência de sete jogos completos pela primeira vez desde a temporada 2020/21, quando ainda estava no PSG, uma marca expressiva para um jogador de 33 anos que busca, antes de tudo, um mínimo de consistência física. Tecnicamente, Neymar viveu altos e baixos nesse curto período.

Ao mesmo tempo que teve capacidade para jogar bem e decidir um jogo contra o Flamengo, a melhor equipe da América do Sul neste momento, Neymar teve atuações de pouco brilho na derrota por 3 a 0 contra o Mirassol e na goleada histórica de 6 a 0 aplicada pelo Vasco sobre o Santos. Na ocasião, a imagem principal do camisa 10 foi o choro de desolação após o apito final, que talvez denote uma dura realidade: ele envelheceu e não é uma fração do jogador que um dia foi. 

Neymar não está apto para a Seleção 

Em 2025, Neymar participou de três gols e três assistências no Campeonato Paulista, sendo somente um desses gols contra um time da Série A. No Brasileirão, são apenas três gols e nenhuma assistência em 11 jogos. 

Ao considerar a eliminação contra o CRB na Copa do Brasil, Neymar tem um total de 12 jogos em competições nacionais neste ano, mas somente três atuações realmente convincentes: contra o CRB, Flamengo e Juventude. Deste três jogos, Neymar só conseguiu ser determinante para o resultado em dois.

Em resumo, por Brasileirão e Copa do Brasil, Neymar não se sobressaiu tecnicamente em 75% dos jogos e não foi impactante para o resultado em 10 das 12 partidas que disputou. Ao direcionar o olhar para outros indicadores de desempenho individual, é possível observar - mais uma vez - que Neymar não se destaca em nenhum quesito em 2025.


Neymar no Santos. | Foto: Ettore Chiereguini/AGIF

Na estatística de dribles certos por jogo, uma das suas especialidades ao longo da carreira, o camisa 10 do Santos é somente o 27º colocado do Brasileirão, com 1.2 dribles por partida, além de ser o dono da segunda menor taxa de acerto (37%) entre o primeiros 50 nomes da lista.

Há quem diga que a idade, somada às sucessivas lesões ao longo da carreira, fizeram com que o craque perdesse velocidade e explosão física, o que dificulta a capacidade de driblar os adversários, mas que a capacidade criativa do jogador para gerar jogo e assistir os companheiros se manteve. Contudo, até o momento, Neymar tem somente uma grande chance criada no Campeonato Brasileiro, além de não ter distribuído nenhuma assistência na competição.

Ainda, Neymar é somente o 14º jogador com mais passes decisivos, ou seja, passes para finalização, a cada 90 minutos (2.5). Já que ele não se destaca como um gerador de jogo para os companheiros, o que resta é esperar que ele tenha capacidade de definição individual, decidindo jogos por si próprio e sendo um finalizador de alto nível.

Pois bem, com apenas três gols no Brasileirão, Neymar está longe da disputa pela artilharia do torneio, apesar de já ter desperdiçado cinco grandes chances de gol, sendo o quarto jogador com mais chances claras perdidas por jogo (0.45). Além disso, o camisa 10 do Santos tem a 81º melhor taxa de conversão (12%) entre os jogadores da Série A, critério que considera o número de chutes que um jogador precisa para marcar um gol.

Novamente, o que se vê em campo e é reforçado pelas estatísticas não sugere que Neymar tenha nível para frequentar as listas da convocação. Mas então, o que sustenta a esperança de tantas pessoas para que um jogador instável fisicamente e que - hoje - tem um desempenho medíocre no Brasileirão possa ser o salvador da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo?

Se há a procura por um camisa 10, por que não direcionar o olhar para outros jogadores do futebol brasileiro, como Alan Patrick, do Internacional, ou Matheus Pereira, do Cruzeiro, que têm apresentado um nível muito superior a Neymar em quase todos os aspectos?

Esperanças fora de contexto

Para muitos, existe a expectativa de que a Seleção Brasileira possa ser montada em torno de Neymar, assim como a Argentina fez com Messi na Copa do Mundo do Catar em 2022. Faz sentido jogar em torno de um jogador extraclasse, mas somente quando esse jogador tem capacidade física para acompanhar os companheiros e desempenhar bem tecnicamente.


Messi levanta a taça, e jogadores argentinos comemoram a conquista da Copa do Mundo de 2022. | Foto: Divulgação/AFA

Tentar aplicar essa estratégia no Brasil para a Copa do Mundo de 2026 desconsidera dois fatores que a Argentina teve ao seu favor, e que o Brasil não terá:

  1. A Seleção Argentina teve um ciclo inteiro sob o comando do mesmo treinador, Lionel Scaloni, que transformou a equipe em um coletivo forte e capaz de potencializar suas individualidades, incluindo a maior delas: Lionel Messi. A Argentina esteve de 2019 a 2022 treinando, evoluindo e vencendo sob o mesmo modelo de jogo. O Brasil, por sua vez, terá menos de um ano para tentar se encontrar como um grupo nas mãos de Carlo Ancelotti, já que quase tudo que foi feito nesse ciclo, sob o comando de Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Júnior, foi insuficiente para que a seleção evoluísse coletivamente.
  2. Neymar não é Messi, em nenhum contexto; são dois jogadores de níveis diferentes. Enquanto o argentino disputa com Pelé, Cristiano Ronaldo e Maradona para ser um dos maiores e melhores jogadores da história do futebol, Neymar luta para se afirmar entre os grandes jogadores brasileiros. Além disso, aos 35 anos, Messi chegou muito mais preparado fisicamente para a Copa do Mundo de 2022 do que Neymar chegará na Copa do Mundo de 2026, quando terá 34 anos.

Para além da Argentina de 2022, há quem diga que a situação de Neymar e da Seleção Brasileira é semelhante ao que aconteceu com Ronaldo Fenômeno na Copa de 2002. Naquele momento, muitos desacreditaram que Ronaldo poderia superar as graves lesões no joelho direito que teve entre 1999 e 2000, que o tiraram de campo por quase dois anos.


Protesto contra a convocação de Ronaldo em 2002. | Foto: Reprodução

Com pouco ritmo de jogo e longe da sua melhor versão, Ronaldo foi capaz de liderar o Brasil na campanha do Penta e ser o artilheiro daquela Copa do Mundo. Contudo, assim como acontece na comparação com Messi, é preciso analisar que Neymar não foi tão brilhante quanto Ronaldo Fenômeno ao longo da sua carreira.

Além disso, mesmo fragilizado fisicamente, Ronaldo Fenômeno chegou em 2002 com 25 anos e atuando no mais alto nível do futebol europeu. Enquanto isso, como já dito antes, Neymar chegará na Copa do Mundo de 2026 com 34 anos e sem conseguir se destacar no futebol brasileiro.

Ainda, acreditar em Ronaldo para a disputa da Copa do Mundo de 2002 também foi um ato de confiança com pouca sustentação com o que se via dentro de campo. Na temporada 2001/02, o Fenômeno fez apenas 17 jogos e oito gols, o que mostrava que aquele estava longe de ser o melhor momento do camisa 9.

Ronaldo ter ido tão bem em 2002 foi algo que contrariou a lógica, e apostar que isso pode acontecer novamente com Neymar em 2026, dessa vez com condições ainda piores, não parece ser o melhor caminho a ser seguido.

Peça central ou jogador de grupo?

Contudo, é inegável a importância que Neymar tem para esse grupo da Seleção Brasileira, no sentido de liderança dentro e fora de campo. A presença do craque do Santos nas convocações como um elemento motivador e uma referência psicológica para os jogadores pode agregar de forma extremamente positiva no desempenho de outros jogadores.


Neymar indo abraçar companheiros de Seleção Brasileira. | Foto: Reprodução

A problemática surge quando a presença de Neymar na Seleção representa quase que uma obrigatoriedade de que ele seja não apenas titular, mas também uma peça centralizadora das ações ofensivas da equipe, mesmo que não demonstre ter capacidade para fazer isso atualmente. É quase impossível imaginar a presença de Neymar na Seleção como um mero agregador de grupo ou como um “reserva de luxo”.

Além da incapacidade de ser determinante com a bola, Neymar também representaria para a Seleção um problema a mais na questão defensiva, já que é um jogador frágil fisicamente para pressionar no ataque ou recompor de forma ativa na defesa. Sendo assim, seria necessária uma reorganização na estrutura sem bola em função de um jogador que traz pouco impacto positivo na fase ofensiva.

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