Labubu: o monstrinho excêntrico que virou símbolo de status, rendeu bilhões e paralisou lojas no Reino Unido
Criado por um artista de Hong Kong e transformado em febre mundial pela gigante chinesa Pop Mart

Bonecos Labubu |Foto: Divulgação
Em tempos de viralizações instantâneas e microtendências comandadas por algoritmos, é difícil prever o que se tornará um verdadeiro ícone cultural. No entanto, um pequeno boneco com dentes serrilhados, orelhas de coelho e olhar expressivo ultrapassou qualquer expectativa: o Labubu.
Mistura de criatura mágica com apelo infantil e estética “creepy cute” (estranhamente fofa), o personagem se tornou objeto de desejo global, especialmente entre colecionadores e celebridades. Mas o que parecia apenas mais uma moda passageira se consolidou como uma das maiores febres do mundo dos colecionáveis — com direito a filas, brigas, pirataria e uma pausa nas vendas físicas no Reino Unido por questões de segurança.
As origens: de livro infantil à cultura pop global
Labubu nasceu em 2015, criação do artista e ilustrador Kasing Lung, natural de Hong Kong. A personagem, inspirada no folclore nórdico, surgiu como protagonista de livros infantis e vive em uma floresta encantada, cercada por outras criaturas mágicas.
Em 2019, a trajetória da criatura mudou radicalmente. A empresa chinesa Pop Mart, especializada em blind boxes — aquelas caixinhas surpresa com itens colecionáveis — fez uma parceria com Lung e transformou Labubu em uma linha de brinquedos de pelúcia e vinil. O sucesso foi imediato.
O modelo de venda instigante, aliado ao design excêntrico e à crescente cultura de colecionismo entre adultos, ajudou a criar um frenesi. A Pop Mart já faturou mais de US$ 2,3 bilhões com a linha THE MONSTERS, que inclui Labubu, segundo a Forbes.
De monstrinho a símbolo fashion
A virada definitiva aconteceu quando o boneco foi adotado por celebridades internacionais. Lisa, do grupo BLACKPINK, foi uma das primeiras a exibir sua coleção em público. Outras estrelas, como Rosé (também do BLACKPINK), Rihanna, Dua Lipa, Maya Massafera, Marina Ruy Barbosa e Virgínia Fonseca foram vistas com versões do Labubu — especialmente os chaveiros pendurados em bolsas de grife.
O monstrinho deixou de ser apenas um brinquedo e passou a ocupar o lugar de acessório de luxo. Bryan Yambao, editor de moda e colecionador de Hermès, chegou a pendurar múltiplos Labubus em suas raras bolsas Birkin. "O fã da Hermès vive pela emoção da busca. Labubus são acessíveis, mas difíceis de encontrar — esse contraste com uma Birkin de crocodilo é simplesmente delicioso", declarou ao portal WWD.
O colecionismo como experiência emocional
Além da estética peculiar, o sistema de venda em blind box é parte crucial do apelo. Cada caixa traz um modelo surpresa, criando uma experiência parecida com abrir um presente — ou uma caça ao tesouro.
Com mais de 300 variações já lançadas, incluindo edições limitadas e colaborações com marcas de moda, os preços variam bastante. Um modelo comum custa em torno de US$ 22 (cerca de R$ 127), enquanto edições raras podem chegar a mais de R$ 5.000 no mercado de revenda.
Tumultos, suspensões e a pressão da demanda
O sucesso massivo teve seu lado sombrio. No Reino Unido, especialmente em cidades como Birmingham, lojas da Pop Mart viram filas quilométricas, aglomerações e até confusões em shoppings durante os lançamentos dos Labubus. Imagens viralizadas no TikTok mostram multidões de adultos disputando espaço para conseguir o item desejado.
A situação saiu do controle a ponto de a Pop Mart suspender temporariamente as vendas presenciais. Em comunicado oficial, a empresa declarou:
"Para garantir a segurança e o conforto de todos, suspenderemos temporariamente todas as vendas em lojas físicas e robotizadas dos brinquedos de pelúcia THE MONSTERS até novo aviso".
A medida dividiu opiniões: alguns aplaudiram a decisão como responsável; outros enxergaram como uma jogada de marketing para aumentar o desejo e a sensação de exclusividade.
A ascensão das falsificações: Lafufu, o “genérico” do momento
Com a escassez e o alto valor dos modelos originais, surgiram as falsificações — apelidadas na internet de "Lafufu". Apesar do nome engraçado, o fenômeno escancara os problemas da pirataria global de produtos de alto apelo.
Em marketplaces e redes sociais, colecionadores comparam as versões oficiais com as falsificadas. Algumas Lafufus são de baixa qualidade, com dentes tortos e pelagem áspera, mas há réplicas tão bem feitas que confundem até mesmo os mais experientes.
“Embora a Pop Mart empregue diversas maneiras de descobrir a procedência do colecionável, como QR codes [...] algumas falsificações são muito, muito semelhantes ao produto original”, comentam usuários.
Detalhes como o número de dentes (o original tem nove), a posição das orelhas e a expressão do rosto podem denunciar uma Lafufu. Mas mesmo os QR codes já foram pirateados, aumentando a dificuldade na identificação.
Labubu no Brasil: status, escassez e desejo
Até outubro de 2024, os Labubus ainda não estavam disponíveis oficialmente no Brasil. A entrada aconteceu pelas mãos da The Blind Box Colecionáveis, que trouxe os modelos padrão em blind boxes. Já os chaveiros — os queridinhos das celebridades — só chegaram ao mercado brasileiro em 2023.
Sem uma distribuição ampla, os brasileiros recorrem a importadoras e revendedores, o que contribui para preços inflacionados e grande expectativa entre colecionadores.
Um fenômeno da era digital
No TikTok, a hashtag #Labubu já ultrapassou 1,4 milhão de publicações, com vídeos de unboxing, análises comparativas, reações emocionadas e até denúncias de falsificações. O fenômeno vai além de um simples boneco: ele toca em temas como nostalgia, exclusividade, status, cultura de consumo e pertencimento.
Entre a fofura e o grotesco, o Labubu conquistou um espaço único na cultura pop contemporânea. Um símbolo de como, mesmo na era digital, ainda há espaço para o encantamento — nem que seja por um monstrinho peludo e de dentes afiados pendurado em uma bolsa de luxo.