Conheça Jones Manoel, influenciador comunista que pode ser candidato à presidência em 2026
Após “furar a bolha” na internet, Jones pode ser uma das lideranças da esquerda radical no futuro

Jones Manoel, historiador, militante e influenciador comunista |Foto: Arquivo pessoal
Em um período em que a política é feita também na Internet, diversas figuras da direita aproveitaram para ganhar palanque nas redes sociais e transformar seu alcance em votos, o que aconteceu em uma proporção muito menor no campo político da esquerda. Contudo, o pernambucano Jones Manoel, com uma retórica comunista e radical, vem conquistando o apreço das pessoas e se tornando um nome cada vez mais relevante no cenário político brasileiro, com a possibilidade de disputar as eleições presidenciais já em 2026.
Mas afinal, quem é e de onde surgiu Jones Manoel?
Nascido e criado na Favela da Borborema, em Recife, Jones Manoel da Silva, de 35 anos, fez licenciatura em história pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestrado em Serviço Social pela mesma universidade. O próprio se denomina como “educador, comunicador popular e um lutador pela Revolução Brasileira”.
O processo de politização de Jones começou na adolescência com o rap, através de artistas como Racionais MCs, Facção Central, GOG, Tupac Shakur e RZO, mas seu primeiro contato com o pensamento marxista veio somente aos 20 anos, a partir de um amigo. Em 2011, aos 21 anos, ele ingressou na UFPE e se tornou uma das primeiras pessoas da Favela da Borborema a entrar em uma universidade pública.
Em 2013, após fazer parte dos protestos das chamadas “Jornadas de Junho”, Jones começou a militar na União da Juventude Comunista (UJC), a ala juvenil do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Contudo, antes disso, ele já havia tentado o cargo de presidente da associação de moradores da sua comunidade, mas diante de ameaças e intimidações teve que desistir.
Foto: Reprodução/Redes sociais
Seu início na internet se deu a partir de um blog, que já chegou a ter mais de 300 mil acessos, ainda durante sua graduação. Em 2017, Jones migrou para o YouTube com o canal Farol Brasil, que estourou com as eleições presidenciais de 2018, além de participar de podcasts, como o “Revolushow”, autointitulado como o maior podcast marxista do Brasil.
“A dinâmica da comunicação digital estava pedindo muito mais vídeo do que texto. […] O canal demorou bastante para decolar, eu diria que só se consolidou mesmo em 2019”, explicou Jones, ao comentar a sua trajetória nas redes sociais.
Com uma relevância política crescente na internet, o Partido Comunista Brasileiro considerou lançar Jones como candidato a vereador da Câmara Municipal do Recife, nas eleições de 2020, o que não aconteceu. Nesse mesmo ano, em dezembro, Jones Manoel foi denominado num relatório governamental como detrator por ser um "crítico contundente do governo Bolsonaro".
No ano seguinte, o PCB anunciou a pré-candidatura de Jones Manoel ao governo do Estado de Pernambuco para as eleições de 2022, com a assistente social Raline Almeida como candidata a vice-governadora. No pleito eleitoral, Jones obteve 33.931 votos, ou seja, 0,69% do eleitorado pernambucano, terminando em 6º lugar.
No entanto, em julho de 2023, o Comitê Central do PCB formou maioria para expulsar Jones e outros quatro membros, como Ivan Pinheiro, ex-Secretário-Geral do partido, por conta de disputas internas na sigla.
Segundo o historiador, houve discordâncias sobre os rumos do PCB entre uma ala mais radical, composta por ele e os militantes Ana Karen, Gabriel Landi, Gabriel Lazzari, além de Ivan Pinheiro. O outro lado, mais conservador, tinha como principais lideranças Sofia Manzano, candidata a presidente em 2022, e Mauro Iasi, postulante ao Planalto em 2014.
“Na visão do grupo majoritário, todas as críticas, insatisfações e problemas que são apontados no âmbito do partido não são problemas reais. Eles acham que expulsando vão fazer as modificações que querem no partido”, declarou Jones em conversa com o CartaCapital.
Com sua saída do PCB, Jones se articulou para formar um coletivo político que passou a adotar o nome de "Partido Comunista Brasileiro Revolucionário", que ainda está em processo de organização, e visa participar da política institucional brasileira. O PCBR tem o mesmo nome do grupo guerrilheiro comunista que lutou durante a Ditadura Militar, fundado em 1968 por Mário Alves, Jacob Gorender e Apolônio de Carvalho, também egressos do PCB, e dissolvido na década de 1980.
Um fenômeno da internet
Um tipo de conteúdo que, recentemente, tem repercutido muito em diferentes bolhas são os debates, feitos em modelos de videocasts ou no formato que coloca um “especialista” sobre determinado tema para discutir contra várias pessoas “comuns” com opiniões divergentes. Jones Manoel aproveitou esses espaços para ampliar seu alcance e levar seus ideais marxistas para além das fronteiras que ele já tinha conquistado.
Ainda em 2024, debates contra Cristiano Caporezzo (PL), deputado estadual por Minas Gerais, e Kim Kataguiri (União Brasil), deputado federal e um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), ou contra o jovem conservador Wilker Leão, já em 2025, alavancaram a imagem de Jones Manoel no debate político das redes sociais. Contudo, o historiador pernambucano “furou a bolha” quando protagonizou o vídeo “1 comunista x 20 conservadores”, publicado no YouTube pelo canal “Spectrum” no dia 24 de julho.
Foto: Spectrum/YouTube
Eu não sou petista nem lulista, então é muito difícil para as figuras de direita e extrema-direita quando vão debater comigo querer ganhar o debate jogando no meu colo as contradições do governo Lula. […] Eu ser de fato comunista, de não ter compromisso com o lulismo, com o petismo, faz com que eu não precise prestar contas dos erros e das contradições [da gestão do PT]
A partir daí, Jones Manoel conseguiu um crescimento meteórico nas redes sociais. Segundo a coluna “Encaminhado com Frequência”, publicada na Folha de S. Paulo em 25 de agosto, Jones Manoel foi o perfil de teor político que mais cresceu no ambiente digital nos 90 dias que antecederam a publicação da coluna.
No período analisado, Jones Manoel aumentou o número de novos seguidores em mais de 1 milhão, mais do que ganharam importantes figuras da direita, como os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Ao olhar para a configuração do debate político nas redes sociais, os números conquistados por Jones espantam, já que os políticos da direita têm dominado as redes sociais nos últimos tempos.
Além disso, seu canal no YouTube, “Farol Brasil”, também experimentou um crescimento acelerado, com milhares de novos seguidores diários. Jones explicou a estratégia utilizada pela sua equipe para alavancar seu sucesso no ambiente digital.
A gente compreendeu muito bem a dinâmica e a lógica das redes sociais. Então, por exemplo, todos os debates que eu fiz, enquanto eu fazia o debate, minha equipe fazia uma cobertura ao vivo e subia reels, cortes das minhas falas, material para as redes.
Contudo, o crescimento do pernambucano parece ter incomodado as chamadas “Big Techs”, que são as grandes plataformas digitais, como a Meta - dona de Instagram e Facebook. No dia 7 de agosto, as contas de Jones nessas redes sociais foram tiradas do ar sem aviso prévio e sem detalhes sobre o motivo dessa decisão.
Para Jones, a desativação de seus perfis teve motivação política, em razão de sua militância comunista e de críticas ao governo Donald Trump e às big techs. Após intensa pressão pública, as contas foram reativadas no dia seguinte, o que mostra a força conquistada pelo historiador no ambiente digital e a relevância de seu discurso político na atualidade.
Duas semanas após o incidente com a Meta, Jones também foi alvo de ameaças de morte enviadas por uma célula neonazista brasileira via correio eletrônico. As ameaças continham discurso de ódio, injúrias raciais, divulgação de dados pessoais, financeiros e de geolocalização, além da exigência de pagamentos.
Jones presidente?
Crítico ferrenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jones Manoel entende que o Partido dos Trabalhadores (PT), assim como suas lideranças, vendem a imagem de que estão à esquerda no debate político, mas que, na verdade, grande parte das ações da sigla são direcionadas a agradar à burguesia e ideais neoliberais, ou seja, estão mais alinhadas com a direita.
Se criou um falso debate que é chamar o PT e o Lula de comunistas. O Lula e o PT não são comunistas. Eu sou
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Neste sentido, o pernambucano vê com bons olhos a possibilidade de concorrer às eleições presidenciais já em 2026. “Neste momento eu gostaria de ser candidato a presidente, porque eu acho que é necessário no cenário eleitoral de 2026 que a gente tenha uma candidatura de esquerda, porque veja, a candidatura de Lula, não vai ser uma candidatura de esquerda”, declarou Jones em entrevista ao jornalista Jamildo Melo, no dia 15 de agosto.
Apesar de o PCBR ser fruto de uma divisão recente do PCB e ainda não ser reconhecido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), qualquer cidadão brasileiro tem o direito de se candidatar à presidência da República. Para isso, Jones precisaria que o PCBR conseguisse se oficializar como um partido ou que outra sigla pudesse lançá-lo como candidato.
O historiador considera lançar sua candidatura em acordos com outras siglas de esquerda, como PSOL, PSTU e UP, para concorrer à Presidência ou a um cargo na Câmara dos Deputados, onde ele teria mais chances de ser eleito. O assunto, segundo o historiador, ainda é discutido internamente no PCBR.
Mesmo que, neste momento, o historiador não tenha força e influência política para furar a polarização entre a esquerda lulista e a direita bolsonarista na corrida pelo Palácio do Planalto, ele entende que sua participação na política é essencial. “Quero estar nas eleições porque eu acho que a gente precisa lembrar que a disputa política, de consciência, se faz no dia a dia e não só no momento eleitoral, uma coisa que boa parte da esquerda no Brasil esqueceu”, destaca.