A ascensão do BRICS e a queda da hegemonia dos países do G7
União de países emergentes desafia a ordem econômica mundial estabelecida

Bandeiras de África do Sul, China, Índia, Rússia e Brasil, membros formadores do BRICS |Foto: Divulgação
O Brasil não foi o único alvo das recentes tarifas impostas por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Para o norte-americano, o BRICS - grupo que reúne países emergentes - teria sido criado para prejudicar os EUA e o papel do dólar como moeda de reserva mundial, chegando a receber ameaças de taxações por parte de Trump.
"Qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do BRICS pagará uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política. Obrigado pela atenção!", declarou Donald Trump.
Ao contrário do que pensa o Republicano, o BRICS não foi criado como um grupo antiamericano, mas surgiu no início deste século a partir de um termo cunhado pelo economista Jim O'Neill, em 2001. Primeiramente descrito como BRIC, o termo era referente às iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, vistos por O’Neill como países de rápido crescimento populacional, econômico e de influência, com potencial para se tornar potências globais até 2050.
Para fortalecer a cooperação econômica, financeira e política entre os países, seus respectivos líderes passaram a trabalhar juntos a partir das formulações do economista, mas o primeiro encontro oficial do grupo foi realizado somente em 2009, em Ekaterinburg, na Rússia. Um ano depois, a África do Sul ingressou no bloco emergente, transformando o BRIC em BRICS.
Recentemente, com a inclusão de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia, o BRICS passou a representar cerca de 40% do PIB global e 48% da população mundial, o que tem gerado insatisfação nos países do G7, grupo de países que dominam a economia global desde a segunda metade do século passado. Além dos Estados Unidos, que nesse período se estabeleceu como a grande potência econômica do mundo, o G7 reúne também os líderes de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido.
A parceria entre os países do G7 faz com que eles compactuem ou não se oponham às decisões questionáveis do presidente dos Estados Unidos, que tem entrado em guerras tarifárias e diplomáticas com diversos países do BRICS, incluindo o Brasil, na tentativa de proteger a soberania do país na economia e geopolítica internacional. Uma das políticas discutidas pelo grupo que atinge diretamente os EUA é o processo de “desdolarização”, ou seja, de enfraquecimento da moeda norte-americana dentro do BRICS.
Em declaração feita em 2023, após a Cúpula dos Brics realizada na África do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a criação da moeda. “O que nós queremos é criar uma moeda que permita que a gente faça negócio sem precisar comprar dólar [...] Nós resolvemos criar uma moeda, porque isso facilita a vida das pessoas, mas nós não queremos pressa porque não é uma coisa simples de fazer”, declarou.
Apesar de o presidente brasileiro ser favorável, essa é uma decisão que não deve sair do papel por enquanto, como explica Maurício Lyrio, diplomata brasileiro nos Brics:
“A moeda, nesse momento, não está sendo discutida, porque não há acordo sobre o tema. O fato de que o presidente brasileiro defenda isso, é a visão de um governo sobre o tema e não quer dizer que, nesse momento, ele vai ser discutido [...] Mas nada impede que os presidentes discutam a possibilidade [de criar uma moeda dos Brics] em um horizonte mais distante”.