1º de Junho: Dia Nacional da Imprensa - Resistência, transformações e informação
A data comemora a criação do Correio Braziliense, primeiro jornal não oficial do Brasil

Foto: Divulgação/Abrap
Neste domingo (1), o Brasil celebra o Dia Nacional da Imprensa — uma data que resgata a origem do jornalismo no país. A comemoração relembra a primeira edição do Correio Braziliense, fundada em 1808 e publicada em Londres como forma de contornar a censura da monarquia portuguesa. "Censura", você me pergunta? Pois é. Na verdade, isto era bem mais comum do que imaginas.
Começou mal...
Mas antes de nos aprofundarmos no Correio, vamos falar de seu antagonista: A Gazeta do Rio de Janeiro. Ou, para os conhecedores, a imprensa áulica. Ela foi criada em 10 de setembro de 1808. Naquele ano, ocorreu a vinda da família real para o Brasil. A data foi reconhecida como o Dia Nacional da Imprensa por muitos anos, até ser revogada em 1999. Devido a sua origem, o jornal trazia aquilo que o Rei queria que você soubesse e, consequentemente, escondia o que deveria ser oculto. O nome disso você sabe. Mesmo trazendo apenas notícias que a Coroa se interessava, a Gazeta do Rio de Janeiro tem uma grande parcela de história.
“A Gazeta funcionava como um boletim oficial da Coroa portuguesa. Publicava editais, nomeações e decretos, sempre sob rigorosa censura. Não havia espaço para crítica ou opinião”, afirma o jornalista e pesquisador de mídia Marco Antônio Gomes. “Enquanto o Correio promovia a liberdade de expressão, a Gazeta era um instrumento de controle informativo.”
...mas melhorou
Agora quem quisesse fugir da imprensa oficial, precisava ralar um pouquinho mais. De forma clandestina circulava o Correio Braziliense, jornal que foi pioneiro ao defender ideais liberais e questionar o domínio colonial português, mesmo à distância. Distante mesmo, as edições chegavam ilegalmente lá de Londres. O Correio influenciou debates sobre independência e direitos civis, em reconhecimento a esse papel, a data de sua primeira edição, 1º de junho, foi oficialmente instituída como o Dia Nacional da Imprensa pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
“O Correio Braziliense representou a semente de um jornalismo crítico e independente. Hipólito da Costa (criador do jornal) fazia uso de referências filosóficas e políticas modernas para contestar o absolutismo português. Era mais do que um jornal — era um projeto de emancipação intelectual”, explica Magali Moser, jornalista e pesquisadora da imprensa brasileira.
Da tipografia à era digital
A imprensa brasileira passou por momentos decisivos, desde os tempos da censura oficial até a resistência durante o Estado Novo e a Ditadura Militar. Com o retorno da democracia, o jornalismo se fortaleceu como instrumento de vigilância dos poderes públicos.
Hoje, veículos tradicionais como Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Estadão), O Globo e Correio Braziliense continuam relevantes. Além deles, novas vozes se destacam no ecossistema midiático, como The Intercept Brasil, Brasil de Fato e Revista Piauí, que contribuem para uma imprensa mais diversa e plural.
A nova crise do jornalismo
Com o avanço da internet e das redes sociais, a imprensa precisou se reinventar. Plataformas digitais, podcasts, newsletters e jornalismo de dados passaram a integrar o cotidiano das redações. No entanto, junto com a inovação vieram desafios graves: queda de receita publicitária, desinformação em massa, precarização do trabalho jornalístico e ataques à credibilidade da imprensa.
“A crise do jornalismo hoje não é apenas financeira. É também uma crise de confiança”, afirma a editora e analista de mídia digital Carla Mendonça. “A disputa pela atenção nas redes sociais gerou um ambiente em que a velocidade supera muitas vezes a checagem e a profundidade. E isso abre espaço para fake news e discursos antijornalismo.”
Segundo Carla, muitos veículos ainda enfrentam dilemas entre manter a independência editorial e garantir a sustentabilidade financeira: “O modelo de assinatura digital ajuda, mas ainda é restrito a públicos específicos. Ao mesmo tempo, a lógica algorítmica das plataformas dificulta o alcance de conteúdo jornalístico confiável, enquanto amplia vozes sensacionalistas ou desinformativas.”
Mesmo assim, ela vê sinais de reação positiva. “Iniciativas de jornalismo local, coletivo e investigativo estão florescendo. Há uma geração de repórteres que entende tecnologia, contexto social e ética. A imprensa está mudando, e isso é vital para resistir.”