O impacto da volta dos craques ao futebol brasileiro
Como a volta desses atletas ocorre e impacta no esporte?
Foto: Raul Baretta/ Santos FC
Após anos se aventurando no exterior após deixarem seus clubes brasileiros ainda jovens, muitos jogadores estão retornando ao país já experientes. Essa prática sempre foi comum no mundo do futebol e dos esportes em geral, pois a sensação de "voltar para casa" é inigualável. Nos últimos tempos, grandes nomes do futebol nacional têm seguido esse caminho de retorno, muitas vezes mais cedo do que o habitual. Exemplos disso são Oscar, Hulk e, mais recentemente, Neymar. No entanto, surge a pergunta: por que esses jogadores estão voltando mais cedo? E, mais importante, qual o impacto dessa tendência no jogo em si e na mídia, tanto para os clubes quanto para os campeonatos?
MOTIVO:
Nos últimos anos, grandes nomes do futebol retornaram ao Brasil, como Filipe Luís (2019), Willian (2021), Douglas Costa (2021), Rafinha (2019), Diego Alves (2017) e David Luiz (2021). Apesar de ainda terem mercado no exterior, esses jogadores optaram por disputar o Campeonato Brasileiro.
Segundo Marcos Luca Valentim, jornalista esportivo da Globo, os clubes brasileiros estão se fortalecendo financeiramente, adquirindo maior poder aquisitivo e se organizando melhor, tornando o futebol nacional cada vez mais competitivo. Esse cenário tem levado muitos atletas, mesmo com oportunidades na Europa e em outros mercados, a preferirem voltar a atuar no país de origem. Vale destacar que essa tendência não é recente e teve um marco importante nos anos 1990, com o retorno de Romário ao Flamengo em 1995.
ROMÁRIO (1995):
O Baixinho retornou ao Brasil oficialmente em 1995, ao Flamengo, um ano depois de ganhar a Copa do Mundo em 1994 e ser considerado o melhor do mundo no mesmo ano. A contratação foi um GIGANTESCO estouro, sendo recebido com muita festa no aeroporto e na cidade em si. O brasileiro afirmou, em entrevista na época de seu retorno, que voltou ao Rio (especificamente) por sentir falta do estilo de vida carioca, do carinho das pessoas e também por receber uma enorme quantia de dinheiro.
É importante informar que, nessa época, o Plano Real estava a todo vapor, e a moeda brasileira era equivalente ao dólar, com a cotação de 1 real para 1 dólar.
A passagem de Romário pelo Flamengo não foi tão bem-sucedida em termos de títulos e ainda foi marcada por um problema interno envolvendo sua relação com Edmundo. Além disso, o jogador acabou deixando o clube com problemas financeiros. No entanto, as vendas de camisas aumentaram de forma inexplicável, e o nível do campeonato cresceu devido à disputa pela artilharia, impulsionada pela rixa entre Romário e Túlio Maravilha.
AUMENTO DE MÍDIA E PATROCÍNIOS:
Obviamente, com o retorno de tantos talentos ao Brasil, os olhos dos patrocinadores e da mídia nacional e internacional se voltam para os campeonatos nacionais. A volta de Ronaldo Fenômeno é um excelente exemplo do impacto que um grande jogador pode ter no desenvolvimento de um clube e do futebol brasileiro como um todo.
Quando Ronaldo anunciou sua volta ao país, em meados de 2009, ele se recuperava de uma nova cirurgia no joelho, a segunda de grande porte em sua carreira, tendo passado por outra antes da Copa de 2002. Durante o pós-operatório, ele realizou sua recuperação no Flamengo, mas surpreendeu ao escolher assinar contrato com o Corinthians.
O time paulista havia acabado de retornar da Série B e possuía um elenco enfraquecido em comparação a seus rivais. No entanto, a contratação de Ronaldo Fenômeno é considerada "o maior negócio de marketing da história do clube". Em campo, o craque foi protagonista nas campanhas vitoriosas da Copa do Brasil e do Campeonato Paulista. Sua apresentação foi um evento grandioso, com uma coletiva de imprensa lotada de jornalistas de diversas partes do mundo.
Em 2008, antes de sua chegada, o Corinthians recebia cerca de R$21,5 milhões anuais em patrocínios. A Nike, fornecedora de material esportivo, pagava R$5 milhões fixos por ano, enquanto a patrocinadora master, Medial Saúde, contribui com R$16,5 milhões. Já com Ronaldo no elenco, o clube negociou seus contratos, elevando significativamente sua receita. A Nike aumentou sua participação para R$20 milhões anuais, e a Medial foi substituída pela Batavo, que passou a pagar R$18 milhões por ano. Além disso, o Corinthians passou a explorar novos espaços publicitários na camisa: vendeu as mangas por R$6,5 milhões, os ombros e a barra inferior por R$4,5 milhões e outros espaços menores por R$1,5 milhão.
NEYMAR JÚNIOR (2025):
Trinta anos após o retorno de Romário ao Brasil, o atual camisa 10 da seleção brasileira, Neymar Júnior, também decidiu voltar ao país e ao Santos para a temporada de 2025. Desde 2023, já existiam especulações sobre a possibilidade de o brasileiro retornar ao "Peixe", mas essa ideia era considerada remota. No entanto, a concretização desse retorno aconteceu na última sexta-feira (31), após Neymar sofrer uma grave lesão no ligamento cruzado do joelho esquerdo e não se adaptar ao Al-Hilal. O garoto da Vila decidiu voltar para sua casa em busca do amor pelo futebol, algo que, ao longo de sua carreira, havia se perdido.
Neymar foi recebido com uma grande festa, que contou com shows de artistas como Racionais MCs, Supla e outros grandes nomes. A Vila Belmiro, estádio histórico do Santos, esgotou rapidamente todos os 16.000 ingressos disponíveis para a apresentação de seu antigo camisa 11. Os ingressos para o evento, com preço de R$ 100 para a inteira e R$ 50 para a meia, foram vendidos em menos de 3 horas.
Outro fato extraordinário foram as vendas de camisas. As versões clássicas (listrada e lisa) foram comercializadas por R$439,90, e nas primeiras horas, 250 unidades foram vendidas, apenas pela loja oficial do Santos. O anúncio oficial da volta de Neymar, publicado na página do clube no Instagram, obteve cerca de 4 milhões de curtidas, 150 mil comentários e 677 mil compartilhamentos. O vídeo emocionou os fãs, especialmente com Neymar respondendo a um vídeo feito com inteligência artificial (IA) de Pelé, que havia sido enviado a ele.
Além disso, a apresentação de Neymar foi destaque internacional, estampando a capa de grandes jornais, como o 'ÀS' e o 'Mundo Desportivo', ambos da Espanha, consolidando ainda mais a magnitude do seu retorno ao futebol brasileiro e ao Santos.
QUALIDADE E COMPETITIVIDADE CRESCENDO:
As voltas de jogadores de renome cresceram em maior número a partir de 2019, o que resultou diretamente em um aumento na qualidade dos jogos, dos times e do campeonato como um todo. O campeão do Brasileirão daquele ano foi o Flamengo, que conquistou impressionantes 90 pontos, uma marca inédita na história da competição, que até hoje não foi superada. Desde então, o campeão do torneio nunca mais ficou abaixo dos 70 pontos.
Além disso, os times que lutavam contra o rebaixamento passaram a buscar superar a marca dos 42 pontos, que antes era considerada suficiente para garantir a permanência na Série A. No entanto, na última edição de 2024, o Athletico-PR foi o último time rebaixado com essa pontuação, o que evidencia o crescimento da competitividade no campeonato.
Esse aumento no nível de competição reflete um processo de qualificação geral, em que os clubes, tanto os que brigam pelo título quanto os que lutam para não cair, têm se fortalecido. Esse aprimoramento do futebol brasileiro está diretamente relacionado ao retorno de grandes craques ao país, que elevam o padrão técnico e competitivo da liga.
RETORNOS AOS CLUBES BAIANOS:
Os grandes clubes da Bahia também tiveram seus craques retornando ao futebol local. O Vitória, em 1997, repatriou o grandíssimo Bebeto, que veio do La Coruña. O cria da Toca tinha sido campeão do mundo com a seleção brasileira em 1994 e voltou ao clube que o revelou com o objetivo de conquistar títulos. E ele realmente conseguiu: Bebeto ajudou o Leão da Barra a vencer o Campeonato Baiano e a Copa do Nordeste, marcando 18 gols em 20 jogos.
Já o Bahia, em 2019, repatriou o atacante Fernandão, que já havia feito história no clube em 2013, ao salvar o time do rebaixamento e disputar a artilharia do campeonato. Nas suas passagens pelo Tricolor, o centroavante fez 104 partidas e marcou 34 gols, conquistando o Campeonato Baiano em 2019 e 2020. Atualmente, o Bahia aguarda o retorno de Anderson Talisca, o "pivete de aço", que hoje joga no Fenerbahçe.
AS VOLTAS:
Os grandes jogadores voltando ao Brasil e aos seus clubes são contratações que, sem dúvida, agregam para ambas as partes. Embora nem sempre consigam entregar o desempenho esperado, esses retornos trazem consigo uma grande carga de nostalgia para os torcedores, além de agregar qualidade ao time e atrair atenção da mídia.