Venda de conteúdo adulto se consolida e vira alternativa de trabalho no Brasil
Modelos, celebridades e pessoas comuns utilizam as redes sociais e plataformas para venda de conteúdo adulto. Materiais variam entre fotos e vídeos explícitos
Foto: Reprodução / Redes Sociais
Criado em 2016, o Onlyfans é uma rede social que permite a conexão entre criadores de conteúdos e fãs, a partir da monetização dos produtos: entre as possibilidades, está a venda de materiais considerados ‘adultos’, que têm atraído anônimos e famosos.
Em 2021, a plataforma, que conta com 1,5 milhão de ‘criadores’ e mais de 150 milhões de seguidores cadastrados, chegou a banir a exibição de conteúdos sexuais explícitos. Entretanto, a decisão não durou muito e o Onlyfans voltou atrás e retirou as restrições.
A comercialização do produto destinado ‘para maiores de 18 anos’ não fica apenas no Onlyfans ou no Privacy, outra rede de monetização de conteúdos, e tem se expandido até mesmo para as redes e aplicativos de mensagens, como o Telegram.
Uma dessas criadoras é a soteropolitana Yonná Galvão. A estudante de Ciências Contábeis da Universidade Federal da Bahia (Ufba) tem 128 mil seguidores no Instagram e 2 mil entre o Onlyfans e Telegram, e trabalha com a venda de vídeos e fotos ‘picantes’, além de conteúdos explícitos. Em entrevista ao Varela Net, Yonná disse que consegue viver somente com a comercialização dos materiais.
"Não aconteceu nenhum fenômeno da natureza ou algo que me levasse a vender o conteúdo ou virar a chave. 'Ai, meu Deus! Eu preciso vender conteúdo'. Não foi assim que rolou para mim. Eu já tinha um público considerável nas redes sociais, porém nunca direcionei meu público para nada, eu era uma pessoa que postava fotos, as pessoas curtiam e aquilo foi crescendo, mas eu nunca tive objetivo de crescer. E as pessoas me perguntavam nas redes sociais, e eram perguntas recorrentes, e quando não era assim pegavam fotos minhas com fotos de mulheres nuas e diziam que era eu, o que me irritava", contou Yonná, que continuou:
"Eu me sentia lesada, e aí estudei bastante essa hipótese de vender conteúdo, passei meses estudando as plataformas, para poder unir o útil e o agradável. Eu já tinha um público masculino não direcionado, e veio a pandemia. Então, para mim, foi só mais um trabalho que eu já fiz", disse Yonná, que explicou ainda como é sua agitada rotina de produção de conteúdos.
Ela começou no Onlyfans, expandindo para o Telegram. De início, a modelo não produzia material explícito, processo que foi acontecendo de forma gradual, até que se sentisse completamente à vontade.
"Eu trabalho com o Telegram e o Onlyfans. O Onlyfans foi a primeira plataforma que eu comecei a trabalhar, o Telegram é mais recente, eu comecei a trabalhar no final do ano. Eu consigo viver de conteúdo, muita gente me pergunta isso todo dia, e eu respondo a mesma pergunta. Quando a pandemia estava mais 'arrochada', as meninas me perguntavam muito isso; eu consigo viver, e eu conheço muitas meninas que conseguem viver bem, ou até melhor do que eu, e conseguem tirar uma 'grana boa'. Mas, aí vai de pessoa para pessoa. No meu caso, foi mais orgânico porque eu já tinha uma rede masculina, já tinha público para comprar meu conteúdo antes de lançar [...] Quando comecei, não mostrava quase nada, mas eu comecei de uma forma que eu conseguisse curtir, aí fui fazendo um 'upgrade'. Divulgue bem seu trabalho e tenha uma rede de apoio, para que você possa ter um público na venda de conteúdos", contou.
Engajamento e vazamentos
Yonná Galvão pontuou que o engajamento e interação com o público também são essenciais para obter sucesso na empreitada. Para isso, além do material adulto, a vendedora de conteúdo também mantém uma intensa rotina de publicações no Instagram e TikTok, contando com a ajuda de um assessor.
“Todo dia eu paro para fazer alguma coisa. Você tem que criar conteúdo para todas essas plataformas, para que você tenha público. Hoje eu tenho um assessor, que foi uma das melhores aquisições, que me fez crescer no ramo de venda e está sempre me direcionando na minha rotina de produzir. Vou conciliando meu trabalho”, começou Yonná, que ainda disse que os contatos com seguidores sempre foi com respeito. É bem tranquilo, me abordam com bastante carinho, respeito. Nunca tive problemas com assinantes [...] Em geral, são uns amores”, completou.
A exposição também pede uma atenção especial. A modelo contou à reportagem, ao dar dicas sobre quem tem interesse de entrar no mundo da venda de conteúdos adultos, que o material, mesmo comercializado de forma privada nas plataformas, vazará em algum momento. Ela ainda pontuou que o trabalho foi bem aceito pela família.
"Conheça. Como qualquer outro trabalho, você vai tentar conhecer antes de entrar. Eu já tinha amigas que já trabalhavam com o conteúdo, e eu tive essa conversa com elas [...] conversei com várias amigas minhas, olhei, procurei nas redes, conversei com a minha família. Então você tem que está pronto para ver sua imagem divulgada, explorada, porque vai vazar. Então, você tem que entrar sabendo disso [...] Conversei com eles, com minha mãe, mostrei como funciona a plataforma. Antes de começar, eu já tinha sido cogitada para sair em revistas, e já tinha sofrido com fake news em Salvador, que pegavam fotos em redes sociais. Graças a Deus, eu faço um jogo aberto com eles, nós temos uma relação de grande respeito, de parceria, eles me respeitam. A forma que eu ganho meu dinheiro, não me define, e se me definisse, não seria como errada ou incerta, até porque é só mais um trabalho [...] A minha família não sofreu com isso", explicou a modelo, que preferiu não comentar sobre os valores faturados mensalmente.
Famosa antes do 'booom' nas redes
Diferente de Yonná, a modelo carioca Karoline Coutinho, que tem pouco mais de 55 mil seguidores no Instagram, já estava acostumada com a fama antes mesmo de entrar no Onlyfans e Privacy. A sua chegada às plataformas aconteceu após protagonizar um filme pornográfico para uma produtora, depois de ter um vídeo com teor sexual vazado nas redes, e ser confundida com uma famosa dançarina de pagode baiano.
Segundo Karoline, conhecida como ‘Pocahontas Carioca’, a experiência no ramo abriu as portas e despertou o interesse dos seguidores.
"Sem dúvidas, foi quando eu decidi aceitar um convite para fazer um filme adulto, foi quando tudo começou. Ganhei mais visibilidade no meu trabalho e fez abrir mais portas para outras oportunidades. Eu trabalho com o Onlyfans e o Privacy, sempre abro caixas de perguntas nas redes, procuro sempre fazer lives, adoro estar próxima dos meus seguidores", pontuou Karoline, que afirma que o foco é a principal ferramenta para obter sucesso na área, como em outras profissões.
“A dica que eu daria é: seja focado e determinado no seu objetivo, se é isso que você realmente quer. Dedique seu tempo, porque só se cresce em uma profissão quando se tem constância e foco; isso serve para todas as profissões”, finalizou a modelo, que também não informou valores de faturamento.
*Sob supervisão do editor Rafael Tiago Nunes