Com Nicole Kidman brilhando, Babygirl vai além de mais um simples suspense erótico.
A crítica não reflete a opinião do VarelaNet
Foto: Divulgação
Olha só quem voltou, não é? Hoje temos mais uma grata surpresa para avaliar aqui. Após a indicação de Fernanda Torres ao Oscar, é óbvio que eu precisava vir assistir para poder ver o que eu achava das concorrentes de nossa Pikachu na disputa pelo maior troféu que uma atriz pode conquistar no cinema mundial. Então, sem mais enrolação, vamos para a crítica de 'Babygirl', que sendo bem sincero, me surpreendeu bastante.
O longa dirigido por Halina Reijn, é basicamente um suspense erótico que se destaca por sua abordagem ousada e inovadora, desafiando as convenções tradicionais do gênero que se tornou algo no mínimo nojento após produções como a trilogia 365 dias. Com Nicole Kidman no papel principal, o filme oferece uma reflexão sobre poder, sexualidade e os dilemas internos de uma mulher bem-sucedida, mas emocionalmente insatisfeita. A história acompanha Romy, uma executiva de sucesso que, apesar de ter tudo o que poderia desejar, se vê envolvida em um relacionamento extraconjugal com seu estagiário Samuel, interpretado por Harris Dickinson, um jovem carismático que desperta nela desejos reprimidos.
O roteiro e a direção de Halina Reijn merecem um destaque por subverter a ideia clássica de mulher sedutora e manipuladora, frequentemente associada ao gênero do suspense erótico. Em vez de retratar Romy como uma femme fatale, "Babygirl" a apresenta como uma mulher que, ao explorar sua sexualidade, busca não apenas prazer, mas também uma liberdade pessoal que havia sido reprimida em seu casamento e na pressão de sua carreira. Isso confere uma profundidade interessante ao filme, mostrando uma protagonista mais humana, com conflitos e vulnerabilidades, o que a torna mais complexa e empática.
Nicole Kidman entrega uma performance incrível em "Babygirl". Sua atuação é corajosa e cheia de nuances, transitando com uma naturalidade absurda entre os diferentes aspectos de sua personagem, que vai da poderosa CEO à mulher insegura e à procura de um 'escape'. A forma como ela interpreta as cenas de intimidade com Samuel é sutil, sem cair na exploração barata do sexo, e mais focada na dinâmica psicológica que se desenrola entre os personagens. Kidman, aos 57 anos, mostra mais uma vez sua habilidade em encarnar papéis desafiadores, revelando uma personagem multifacetada.
Embora o filme aborde temas como libertação sexual e dinâmicas de poder, ele também levanta questões sobre os papéis impostos pela sociedade patriarcal e a forma como as mulheres, especialmente as bem-sucedidas, são frequentemente tratadas e vistas apenas por sua aparência ou idade. Nesse sentido, "Babygirl" se distancia de produções anteriores, onde o erotismo era muitas vezes usado para explorar a mulher de maneira superficial, e se concentra em uma jornada de autodescoberta. Ao final, o filme não se limita a um simples jogo de dominação e submissão, mas apresenta uma mulher em busca de controle sobre sua própria vida e desejos.
No entanto, o filme não está isento de falhas. Em certos momentos, a narrativa perde o ritmo, e a trama parece se arrastar sem desenvolver completamente alguns dos elementos introduzidos. A ausência de uma exploração mais profunda de personagens secundários, como o estagiário Samuel, deixa algumas pontas soltas e fragiliza a tensão que poderia ser ainda mais intensa. Mesmo assim, "Babygirl" se propõe a desafiar as normas tradicionais e a provocar uma reflexão sobre os limites do desejo e do poder, oferecendo uma perspectiva renovada sobre o gênero, sem apelar para sensacionalismos ou fórmulas prontas.