Carnaval que vai muito além dos trios elétricos

 

Bloco das Mascaradas, As Nigrinhas, Bloco da Pindoba, Pipoca do Me Leva e o tradicional Bloco dos Cães mantêm viva a essência do Carnaval de Jiquiriçá, no sudoeste da Bahia. Além de suas belas cachoeiras, a cidade se destaca pelo tradicional Carnaval de bloquinhos, que resiste ao tempo e segue como uma das festas mais autênticas do estado.

Preservando suas tradições centenárias, Jiquiriçá optou por um Carnaval bem diferente do da capital. Os grandes trios elétricos deram lugar a um palco fixo, enquanto os blocos desfilam pelas ruas ao som de marchinhas ou paredões. Em 2020, os festejos foram marcados por grandes bandas e muita folia. Já em 2023, no primeiro Carnaval pós-pandemia, a cidade viveu a maior edição de sua história, com um palco montado na antiga estação ferroviária e grandes atrações, celebrando a recuperação do município após a enchente de 2021, que deixou muitos jiquiriçaenses desabrigados.

Carnaval de 2025: O Resgate da Tradição

Neste ano, o Carnaval tomou um rumo diferente. O atual prefeito, Lucas de Deraldo, decidiu resgatar a essência da festa, trazendo de volta o modelo exclusivamente de blocos. Com o apoio dos cidadãos e dos organizadores, a cidade que inicialmente não teria Carnaval acabou realizando uma das celebrações mais bonitas dos últimos anos, colocando a cultura local como a verdadeira atração. O Carnaval de 2025 foi um marco, provando que a tradição supera qualquer grande show.

Bloco dos Cães: O Encerramento Perfeito

O ponto alto da festa foi o tradicional Bloco dos Cães, o mais antigo e emblemático de Jiquiriçá. Formado por homens pintados de carvão e óleo, vestidos com roupas rasgadas e máscaras assustadoras, o bloco revive uma antiga tradição: a captura das "sete almas". No passado, os participantes saíam pelas ruas em busca de meninos vestidos de branco, capturando-os simbolicamente e sujando-os.

Com o passar dos anos, a tradição se adaptou. O bloco sai da Cascalheira, acima da Cachoeira dos Prazeres, após três disparos de rojões: o primeiro sinaliza para que as pessoas se preparem, o segundo indica que todos devem entrar na água, e o terceiro anuncia a descida dos "cães", que correm melando e capturando quem se aventura na brincadeira. Após o fechamento da Cachoeira dos Prazeres em 2014, o percurso foi modificado, mas a tradição seguiu firme. Agora, os populares se escondem ao longo da Rua Prazeres e, ao fim da "caçada", o bloco segue em arrastão até a Praça Dom Florêncio.

Em 2025, o Bloco dos Cães contou com a participação de 230 homens e atraiu milhares de foliões, que acompanharam a despedida do Carnaval.

Mesmo sem grandes investimentos e com uma estrutura mais simples, moradores e turistas se encantaram com a força da festa, provando que a verdadeira magia do Carnaval de Jiquiriçá está na preservação de suas tradições.