Batalhas de Rimas: Expressão da cultura Hip Hop
Descubra como as batalhas de rimas se tornaram um fenômeno cultural e político entre jovens periféricos em Salvador, na Bahia e no Brasil
Foto: Redes Sociais/Batalhadatorre
As batalhas de rimas emergem como uma forma poderosa de expressão cultural e política nas periferias urbanas brasileiras. Originadas do movimento Hip Hop, que teve seu início nas comunidades afro-americanas de Nova York nos anos 1970, esses eventos se tornaram espaços cruciais para jovens expressarem suas realidades através da arte do freestyle.
O "Hip Hop", cujo nome remete à cultura popular urbana que integra música, dança e grafite, encontrou um terreno fértil no Brasil, especialmente em São Paulo, epicentro nacional do movimento. A partir da década de 1980, artistas como Thaíde e DJ Hum pavimentaram o caminho para a consolidação do rap e das batalhas de rimas no país.
A Diversidade dos elementos do Hip Hop
Há um debate quanto a quantidade de elementos que o Hip Hop abrange, quatro ou cinco fundamentais: o rap, gênero musical que combina ritmo e poesia; o DJ, responsável pela criação de batidas e ritmos; o breaking, estilo de dança urbana; e o grafite, forma de arte visual que decorava os espaços urbanos das periferias americanas e brasileiras. O último e mais questionável quanto elemento, é o conhecimento.
Ascensão das Batalhas de Rimas no Brasil
As batalhas de rimas, também conhecidas como duelos de MCs, são competições de improvisação verbal onde os participantes se desafiam a criar versos criativos, muitas vezes abordando questões sociais e políticas. Esses eventos se tornaram tão populares que são atualmente organizados em diversas cidades brasileiras, como a Batalha da Aldeia e a Duelo de MCs Nacional.
No cenário nacional, destaca-se o Duelo de MCs Nacional, realizado anualmente em Belo Horizonte sob o viaduto Santa Tereza, considerado o título mais prestigioso para os MCs brasileiros. Eventos como esse não só promovem a cultura Hip Hop, mas também oferecem uma plataforma para que artistas emergentes e estabelecidos mostrem suas habilidades.
Historicamente, as batalhas passaram por pequenas eras que construíram sua história, no início da última década tivemos grandes nomes despontando para o cenário nacional, como Emicida, Projota, Marechal, Negra Rê, Douglas Din e Koell. Esses nomes são os principais responsáveis pela estruturação das batalhas no Brasil.
Entre 2015 e 2019 outra geração obteve espaço, nesse período três grandes centros tombaram o topo no país: Rio de Janeiro, com a Batalha do Tanque, São Paulo, com a Batalha da Aldeia e o Distrito Federal com a Batalha do Museu. Além de grandes nomes do Espírito Santo e daqui da Bahia. Gigantes como Sid, Orochi, Cezar, Dudu, Jhony, Noventa, Kant, Salvador, Refel, BMO, NIcolas Walter, Dreka, Zen, JayA Luuck, Big Mike, Krawk, Leozin e Thiago foram os grandes responsáveis por popularizar as batalhas de rima através da internet. Com as batalhas mais vistas da história e rimas eternas.
A partir de 2020, com a chegada da pandemia do Covid 19, as batalhas tiveram uma grande queda, e precisaram passar por uma recuperação. Nesse momento os principais polos financeiros do país saíram a frente e se mantém até hoje. Em São Paulo, além da Aldeia, batalhas como a Estudantes, Ana Rosa, Linear e Norte ganharam destaque. No Rio de Janeiro, a batalha do Coliseu conquistou seu lugar no topo e o Mar de Monstros ganhou espaço estando sediado no Espírito Santo. Nomes como Jotapê, Guri, Barreto, Prado, Neo, Magrão, Xamuel e Kroy são, até então, as maiores estrelas da cena.
O Aspecto Político das Batalhas de Rimas
Além de serem eventos culturais, as batalhas de rimas assumem um papel político significativo. MCs utilizam o espaço das batalhas não apenas para competir, mas também para disseminar mensagens políticas e sociais, abordando temas como racismo, pobreza e desigualdade. Esses espaços se tornam arenas onde a voz dos jovens periféricos é amplificada, contribuindo para a conscientização e mobilização da comunidade.
O Crescimento e a Profissionalização das Batalhas de Rimas
Nos últimos anos, as batalhas de rimas no Brasil têm se profissionalizado e ganhado cada vez mais visibilidade. Eventos como a FMS, RedBull francamente, Batalhas de aniversário da Aldeia e o Mar de Monstro, movimentam pessoas do país inteiro.
O Futuro das Batalhas de Rimas
À medida que as batalhas de rimas continuam a crescer, é evidente que esses eventos desempenham um papel crucial na preservação e na evolução da cultura Hip Hop no Brasil. Com um número crescente de jovens encontrando nas batalhas uma forma de expressão e resistência, o movimento Hip Hop se fortalece como um dos mais dinâmicos e influentes da atualidade.
Em suma, as batalhas de rimas não são apenas competições de habilidades artísticas, mas sim manifestações culturais profundamente enraizadas na realidade social e política das periferias brasileiras. Ao proporcionar um espaço para a livre expressão e o debate de questões importantes, esses eventos continuam a moldar e a fortalecer a identidade cultural dos jovens periféricos, garantindo que a voz da comunidade Hip Hop seja ouvida e respeitada em todo o país.
A Bahia tem vários nomes cravados na história do Rap nacional, desde Laricio, único campeão nacional do estado, a Jaya JayA Luuck, Black, Japa, Yoga, Bert e muito mais artistas. Todos esses ganharam relevância em nível federal.
O último deles, Bert, campeão estadual da Bahia em 2016, e por consequência, representante baiano no nacional de 2017, nos contou um pouco sobre sua trajetória, experiência no nacional e sua percepção sobre o cenário em Salvador.
Início no RAP
"Meu começo de batalha foi basicamente assistindo às batalhas no Youtube, na época estava no início do tanque, na época do tanque, e aí eu estava no Thales (Colégio Estadual Thales de Azevedo) em 2015 mais ou menos, e aí a gente começava a batalhar lá nos corredores do colégio, a partir daí a gente criou a Batalha da Torre, que é do lado do colégio, para poder ter tipo uma competição, que a gente conseguisse fazer algo organizado, e daí a gente foi indo para vários lugares, que tinha batalha aqui em Salvador, principalmente ali no Jardim dos Namorados, que acontecia as seletivas do Estadual", relatou Bert.
Nacional de 2017
"Minha experiência no nacional foi absurda, quando eu andei de avião pela primeira vez, conheci outros lugares pela primeira vez, e foi diferente em relação a entender qual era o tamanho de batalha de MC, até porque o público maior que eu já tinha feito foi uns 300, 400 pessoas aqui em Salvador, e quando eu vou para lá é um público de 10 mil, eu acho, na época tinha algo assim nesse entorno, e eu conheci outras culturas, outras pessoas que rimavam de outras referências, e entendi que o mundo de batalha era muito maior do que eu pensava, e aí foi que deu insight e abriu várias portas para mim, e aí eu consegui ver outras paradas de rap, realmente viver daquilo", disse.
A cena local
Na visão de Bert, a cena atual aqui em Salvador poderia estar melhor.
"A cena de Salvador hoje em dia eu vejo bem defasada, bem quebrada, a gente não tem tantas batalhas que consigam projetar outros MCs pro Brasil, até tentam, mas não conseguem. Acho que às duas que mais conseguem é o CH, que é o centro histórico, que é toda quarta, e é a torre mesmo. Nem o terceiro round consegue projetar tanto, é uma batalha que não é organizada semanalmente", disse o MC.
Sobre a perspectiva futura ele acrescentou: "A gente fica muito refém de ou ter que sair ou dar sorte de uma batalha estourar para poder conseguir sair da bolha, a cena daqui era para estar muito maior e não está. Acredito que não vai crescer assim durante esse tempo, pelo que eu estou vendo”. Afirmou.
Underground
Quando se fala em futuro, é importante pensar no "underground". MCs que estão fora dos holofotes, que começaram recentemente, ou vivem a margem do "mainstrean", serão o futuro da cena.
Um exemplo é o rapper Young Derpie, que contou com mais detalhes a realidade da cena.
"Vejo uma cena cheia de monstros, seja falando de MCs já estabelecidos ou promessas que já estão correndo atrás do seu, a cena vem numa crescente a vários anos nesse sentido. Todas as batalhas são necessárias, o diferencial de salvador pra outros lugares é a constância, todo dia tem batalha em Salvador, o que só contribui com a evolução de todos na cena." Afirmou.
"Vejo uma cena cada vez mais preparada as competições, diversas seletivas ocorrem durante o ano, como a Copa do Cabula e o Regional, competições que testam os MCs constantemente, passar em alguma dessas seletivas é muito difícil por conta do tanto de bons MCs que batalham em Salvador", acrescentou Derpie.