NotíciasEconomiaTarifa de Trump sobre aço pode custar US$ 1,5 bi ao Brasil, aponta Ipea

Tarifa de Trump sobre aço pode custar US$ 1,5 bi ao Brasil, aponta Ipea

Medida pode derrubar exportações em 11% e reduzir produção local em 700 mil toneladas

| Autor: Redação Varela Net

Foto: Bloomberg

A imposição de uma tarifa de 25% sobre a importação de aço e alumínio pelos Estados Unidos, em vigor a partir desta quarta-feira (12), pode impactar fortemente a indústria siderúrgica brasileira. De acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a sobretaxa pode reduzir em 2,19% a produção de metais ferrosos no Brasil, derrubar as exportações em 11,27% e diminuir as importações em 1,09%.

Na prática, isso significa uma perda de aproximadamente US$ 1,5 bilhão em exportações e uma redução de quase 700 mil toneladas de produção em 2025.

EUA são mercado-chave para o Brasil

O coordenador de Relações Econômicas Internacionais do Ipea, Fernando Ribeiro, destacou a relevância do mercado norte-americano para o aço brasileiro.

"Os Estados Unidos representam um destino crucial para nossas exportações de aço. Em 2024, eles foram responsáveis por mais da metade do volume exportado pelo Brasil. Por isso, essa medida tem um peso significativo para o setor",explicou Ribeiro.

Apesar do forte impacto para a siderurgia, o estudo indica que a tarifa terá pouco reflexo na economia brasileira como um todo, com uma leve queda de 0,01% no PIB e de 0,03% nas exportações totais. Por outro lado, a balança comercial pode registrar um saldo positivo de US$ 390 milhões, já que a desaceleração do setor também reduz as importações (-0,26%).

Negociar ou retaliar?

Diante do cenário, Ribeiro defende que o Brasil busque diálogo com os EUA para reverter a tarifa e evitar prejuízos maiores à indústria nacional.

"Temos uma indústria siderúrgica forte, que exporta majoritariamente produtos semiacabados. O caminho mais adequado é a negociação com o governo americano, para evitar danos ao setor", afirmou o pesquisador.

Ele ressaltou, porém, que o Brasil tem poucas opções diante da atual postura dos Estados Unidos em relação às regras comerciais globais. Segundo Ribeiro, com o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a falta de compromisso dos EUA com normas multilaterais, restam apenas duas alternativas: negociação ou retaliação.

"Negociar é a melhor estratégia, especialmente porque os EUA possuem superávit comercial com o Brasil, o que pode ser um ponto a nosso favor", argumentou o especialista.

Impacto nos EUA e reflexos em outros setores

Nos Estados Unidos, o impacto da tarifa sobre o PIB será modesto (-0,02%), mas deve afetar o investimento (-0,49%), as exportações (-0,39%) e as importações (-0,66%). Ainda assim, a medida pode gerar um aumento de US$ 7,3 bilhões no saldo comercial americano, um valor considerado insignificante diante do déficit de mais de US$ 1 trilhão no comércio de mercadorias.

O estudo do Ipea aponta que as importações americanas de metais ferrosos podem despencar 39,2%, enquanto a produção doméstica aumentaria 8,95%. Outros setores também sofrerão os efeitos da medida devido ao aumento do custo do aço, incluindo:

  • Máquinas e equipamentos (-1,1% de produção e -1,9% nas exportações)
  • Produtos de metal (-0,9% de produção e -4,3% nas exportações)
  • Equipamentos elétricos (-0,6% de produção e -0,9% nas exportações)
  • Veículos e peças (-0,5% de produção e -0,7% nas exportações)

Além disso, o próprio setor de metais ferrosos nos EUA deve sofrer uma queda de 5,3% nas exportações.

Com os impactos já calculados, o Brasil agora precisa decidir como reagir diante da decisão americana. O governo deverá avaliar os próximos passos para mitigar os danos e, possivelmente, abrir canais de negociação com os Estados Unidos.

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