Plataformas de aposta: Governo se reuniu 251 vezes com bets para regular apostas
Apenas cinco reuniões foram feitas com grupos de saúde.
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Durante a elaboração das novas regras para o mercado de apostas no Brasil, o Ministério da Fazenda realizou 251 reuniões com representantes de casas de apostas e suas associações, enquanto especialistas em saúde mental foram consultados apenas cinco vezes. O país enfrenta uma crescente epidemia de dependência de jogos, conforme alertam pesquisadores. A análise de 555 compromissos entre março de 2023 e julho de 2024 revelou que, embora a maioria das reuniões tenha focado na regulamentação do setor de apostas, as questões de saúde mental receberam pouca atenção.
As reuniões com o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) e a Associação Nacional de Jogo Legal (ANJL), que ocorriam semanalmente, foram elogiadas por desenvolver regras semelhantes às de Gibraltar e Malta. No entanto, as novas normas foram criticadas por não contemplarem investimentos adequados em saúde para o tratamento de jogadores patológicos. A Secretaria de Saúde Mental do Ministério da Saúde também fez apenas uma reunião com uma casa de apostas sobre o tema.
Após deixar o governo, José Francisco Manssur e Simone Vicentini assumiram cargos na banca de apostas do escritório CSMV Advogados. Embora a regulamentação tenha criado um marco para o setor, a falta de diálogo com o Pro-Amjo, o único ambulatório especializado no Brasil, levanta preocupações sobre a eficácia das políticas de "jogo responsável”.
Especialistas criticam a falta de investimento em ambulatórios especializados e o treinamento inadequado para profissionais de saúde mental no diagnóstico e tratamento do vício em jogos. O professor Hermano Tavares, do Pro-Amjo, aponta que a ausência de uma rede estruturada para lidar com a epidemia de vício em apostas é uma falha grave do governo.
A Fazenda planeja iniciar campanhas educativas em janeiro de 2025 para enfrentar o problema do jogo, com a participação dos sites de apostas regulamentados. No entanto, Tavares adverte que a regulamentação atual pode não ser suficiente para enfrentar a crise de dependência de jogos, que já afeta gravemente a vida de muitos brasileiros.