"Tratavam a gente como bicho", diz baiano mantido em trabalho escravo no RS
Cerca de 240 homens que faziam colheita de uvas foram resgatados em situação degradante em alojamento na serra gaúcha
Foto: Divulgação/Ministério Público do Trabalho (MPT-RS)
“A gente saía 4h da manhã e ia para as fazendas trabalhar catando uva. A gente chegava dez, onze horas da noite aqui. Tratavam a gente como bicho.”
O relato é de um dos três trabalhadores baianos que procuraram um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Bento Gonçalves (RS) para pedir ajuda na noite de quarta-feira (22). O motivo: eles eram mantidos em condições análogas à escravidão em um alojamento da cidade, localizada na serra gaúcha.
Aos agentes, eles disseram que eram obrigados a ficar no local e haviam acabado de fugir.
A PRF então acionou o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Polícia Federal (PF) para realizar uma operação conjunta no alojamento. As equipes constataram que havia em torno de 240 homens em situação degradante.
O responsável pelo alojamento, um homem de 45 anos, natural de Valente (BA), foi preso e encaminhado para a Polícia Federal (PF) em Caxias do Sul. O nome dele não foi divulgado. A PRF, porém, não informou se o homem é o proprietário da fazenda.
“Pegava quentinha azeda pra dar a gente”
Os trabalhadores, por sua vez, relataram diversas situações que passavam, tais como atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas de trabalho e alimentos estragados. Também disseram que eram coagidos a permanecer no local sob pena de pagamento de uma multa por quebra do contrato de trabalho.
Esses homens, a maioria proveniente da Bahia, eram recrutados nos seus estados de origem para trabalhar no Rio Grande do Sul. Ao chegar no local, alegam que as condições eram diferentes da prometida pelos recrutadores. Um dos trabalhadores contou que chegaram a comer refeições azedas.
“Ele pegava quentinha azeda pra dar a gente. Dizia: ‘Você tem que comer isso mesmo, porque baiano bom é baiano morto. Baiano tem que se ferrar mesmo. Mas ele tem que saber que nós somos pais de família. Viemos pra trabalhar'”
Trabalhador baiano mantido em condições análogas à escravidão em alojamento no RS
O MTE vai analisar individualmente os direitos trabalhistas de cada trabalhador para a buscar a devida compensação.
