NotíciasCidadeÉ possível? Conheça casal de estudantes baianos que namora a distância há 4 anos

É possível? Conheça casal de estudantes baianos que namora a distância há 4 anos

Maria Júlia Cardoso e Márcio Vinícius Leite revelam táticas para lidar com 677 km que os separam fisicamente

| Autor: Erika Reis*

Foto: Foto/Arquivo Pessoal

Em uma noite de janeiro de 2019, a cidade de Ibiassucê, no interior da Bahia, se preparava para os festejos católicos de São Sebastião, padroeiro do município. A estudante Maria Júlia Cardoso ia de Salvador para passar as férias ao lado da família na região, como habitualmente faz desde pequena. 

Sabendo das tradições de Ibiassucê, a garota, naquela época com 16 anos, foi às ruas para honrar São Sebastião. O que ela mal sabia é que iria conhecer o também estudante Márcio Vinícius Leite, seu futuro namorado. 

"No último dia de festa, ele pediu pra ficar comigo através de um amigo em comum. Na época eu tinha 16 anos, e ele já tinha 20. Eu aceitei, mas na hora minha tia me chamou para voltarmos para casa, e acabou não rolando. No dia seguinte, pedi pra esse amigo em comum falar com ele pra ficarmos, e então ficamos. Um dia depois, voltei para Salvador", conta a estudante ao Varelanet

"Após aquela noite, nós não trocamos números [de telefone]. Mas um amigo meu, que nos apresentou, me passou o contato dela, e então mandei mensagem pouco tempo depois. Conversamos por uma semana e depois morreu o assunto", relata Márcio.

No Carnaval de 2019, os dois se reencontraram quando Maria voltou a Ibiassucê. 

"Ela postou um status no WhatsApp mostrando que já estava lá novamente, e eu aproveitei a oportunidade para entrar em contato e respondi. Eu estava morando em Guanambi na época para estudar psicologia. Conversamos rapidinho e depois marcamos de nos encontrar na casa do primo dela. Foi da mesma forma que da primeira vez. No dia seguinte ela viajou", explica Márcio. 

Pedido de namoro com supresa, refrigerante e frase em inglês

Em meados de abril e maio, os dois já estavam bem próximos.Ligações, mensagens e vídeoschamadas foram as formas que Maria Júlia e Márcio encontraram de manterem a conexão e encurtarem a distância de 615 km que os separava fisicamente.  

"Conversávamos muito mesmo. Até que, em meados de maio, todo mundo perguntava para a gente o que nós éramos, porque estávamos muito ligados e próximos. Então, em conjunto, decidimos que íamos nos denominar namorado e namorada. Em junho, eu pedi ele em namoro oficialmente", conta Júlia, animada. 

"Ela preparou um cantinho do terraço da casa da tia. Estendeu um lençol, colocou um pisca-pisca na parede e, numa cartolina amarela, desenhou uma abelha e escreveu: ‘Do you want to be my honey?’ [Você quer ser o meu amor?, em tradução livre]", descreve Márcio. "Quando eu cheguei no terraço, Júlia me mostrou o cenário, e tinha uma pizza e um guaraná, meu refrigerante preferido. Ela pediu para eu abrir. Estava escrito na pizza ‘quer namorar comigo?’. Fiquei sem reação na hora". 

"Agora, em 30 de junho, nós fazemos 4 anos de namoro", revela Maria. 

“Às vezes é chato”, diz Márcio

Atualmente, Maria está no quinto semestre do curso de Comunicação e Marketing em uma universidade em Salvador. Márcio, por sua vez, trabalha como operador de loja em uma farmácia em Guanambi. Usando a tecnologia a seu favor e aproveitando os momentos presenciais, o casal conseguiu encontrar um jeito de lidar com a distância atual de 677 km. 

"Mês passado [maio], foram as férias dele do trabalho. Ele passou o mês todo aqui em Salvador. Semana que vem eu vou pra lá pra passar as férias da faculdade. E assim a gente vai lidando, vai fazendo dar certo", diz Júlia. 

Mesmo com o esforço de ambos, Márcio confessa que nem sempre se sentiu à vontade com a ideia de ter um relacionamento a distância. 
"Eu nunca fui adepto a relacionamentos a distância. Hoje em dia, apenas ignoro o fato de ter a distância como empecilho. Continuo não gostando, para ser sincero. Às vezes é chato demais", admite. 

Tecnologia ajuda a encurtar distância, diz especialista

Em entrevista ao Varelanet, a psicóloga e terapeuta de casal Isabela Mathias explica como um casal pode construir intimidade mesmo estando a distância. "Algumas tecnologias podem ser usadas também, como a internet, muitas mensagens, áudios, ligações. Para ter intimidade, é necessário ter bastante comunicação, muitas carícias e combinação. Combinados constantes são algo muito importante, para ver o que funciona e o que não. É preciso que o casal se veja em algum momento, que eles tentem se ver o máximo que puder", avalia a terapeuta. 

Isabela Mathias, psicóloga e terapeuta de casal (Foto/Arquivo Pessoal)

A psicóloga também é um exemplo de que, com respeito, diálogo e comunicação, o relacionamento a distância pode dar certo. "Sim, pode dar certo, e sou a prova disso. Hoje eu e meu parceiro somos casados, mas começamos a distância. Nos conhecemos fora do país, em uma viagem que ficamos mais de um mês fora. Durante esse tempo, a gente se conheceu bastante, nos apaixonamos. Quando voltamos ao Brasil e fomos cada um para a sua cidade, queríamos que continuasse dando certo. Ficamos muito inseguros, mas queríamos. Então fizemos dar certo. E realmente deu", relata a terapeuta. 

Por outro lado, segundo a especialista, muita gente rejeita entrar num namoro distante. 

"O relacionamento a distância é muito difícil. Durante um relacionamento, já existem várias inseguranças sobre cada um. E quando é à distância, essas inseguranças se destacam, ficam muito mais evidentes. Então, é necessário ainda mais conversa para que funcione. O relacionamento a distância exige mais do que aquele que está perto. E normalmente as pessoas não têm muita paciência para se dedicar tanto quanto é exigido", pontua Isabela.

“Comunicação é chave de ouro”

De acordo com a  terapeuta, a comunicação saudável é a maior dificuldade em todos os relacionamentos. “Porque a maioria das pessoas não sabe se comunicar sem magoar, sem atingir, sem parecer que está atacando o outro. Isso precisa ser trabalhado. Pode ser com um livro, na terapia individual ou de casal. Um livro que indico bastante é 'Comunicação Não Violenta' [Marshall Bertram Rosenberg]. É essencial que tenha respeito, para entender que o outro vai ser diferente de você. Tem que ter muita paciência e transparência, pois inseguranças vão surgir e o casal precisa conversar sobre essas inseguranças quando necessárias", ensina.

A terapeuta acrescenta: "Outra coisa muito importante é ter previsibilidade de quando essa situação vai poder mudar, para facilitar a intimidade, a conexão. Para que o relacionamento a distância funcione, é preciso que o casal se encontre, se veja em algum momento". 
Mas, assim como a terapeuta Isabela e seu marido, Maria Júlia e Márcio  já têm planos para pôr fim ao formato.

"Sim, pretendemos morar juntos um dia. Com certeza!", garante Júlia. 

*Sob supervisão do editor Alexandre Santos

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