NotíciasCidadeGaris sofrem com materiais perfurocortantes e imploram: “Cuidem mais da gente”

Garis sofrem com materiais perfurocortantes e imploram: “Cuidem mais da gente”

Profissionais da limpeza urbana da capital pedem bom senso e conscientização da população no descarte do lixo e cobram EPIs adequados para o trabalho

| Autor: Vinicius Viana

Foto: Igor Santos / SECOM PMS

Palito de churrasco, caco de vidro, lata amassada, seringa com agulha e todos os objetos e instrumentos contendo cantos, bordas, pontos ou protuberâncias rígidas e agudas capazes de cortar ou perfurar o corpo, quando descartados de forma irregular podem causar acidentes que mudam vidas, para pior. E esse é um dos perigos vividos diariamente por garis de todo o Brasil.

E em Salvador não é diferente. Não bastasse conviver diariamente com preconceito, discriminação, indiferença, falta de respeito e invisibilidade pública, os profissionais da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) que trabalham na capital baiana ainda precisam se preocupar a todo momento com o que coletam ao longo do dia, sob o risco de ganhar cicatrizes nada agradáveis ou mesmo ter que ser levado com urgência para um hospital, já a grande maioria da população não faz o descarte correto de matérias perfurocortantes.

O Varela Net conversou com os principais personagens desta história, os garis de Salvador. Eles alertaram sobre o risco do descarte irregular de materiais perfurocortantes e sobre os acidentes que acontecem com frequência durante o expediente nas ruas da capital baiana. Além de reforçar sobre a importância do trabalho deles na cidade.

“Acidentes acontecem diariamente, porque a forma como a população descarta o lixo é completamente errada”, alerta um gari, que preferiu ficar no anonimato por medo de represálias. “Colegas relatam que encontram nas praias centenas de garrafas, cacos de vidro, palitos de churrasco... Alguns banhistas até deixam o palito enterrado na areia da praia com a ponta pra cima e não estão nem aí. Muitas das vezes a gente pisa e perfura não somente a bota, mas o pé”, criticou.

Eles ainda denunciam que bares da “orla de Salvador” descartam materiais fora do horário de coleta e que os moradores de rua acabam misturando esse lixo em busca de alimentos ou latinhas para reciclar. “Quando os profissionais vão recolher, acabam se cortando com cacos de copos e de garrafas long neck que são vendidos nos estabelecimentos”, contaram, indignados.

Os garis ainda pontuaram que eles recebem o equipamento de proteção individual (EPI), mas nem todos são adequados para todo tipo de material descartado nas ruas. “Um colega foi fazer a coleta de lixo e dentro tinha uma seringa. A agulha perfurou a luva e o colaborador se feriu”, explicou um outro profissional, que também não quis se identificar, informando que seria necessário utilizar uma luva anti furos de agulha.

Extremamente chateados com o descaso da população e preocupados com o próprio bem estar, os profissionais finalizaram clamando para que a população ajude a cuidar da saúde e da integridade física deles, para que eles, garis, possam também cuidar da saúde da sociedade soteropolitana. 

“A gente varre, coleta, lava e limpa. A gente faz o pulmão de Salvador bater com força. Queremos pedir à população que cuide mais da gente, dos agentes de limpeza, porque somos muito importantes para que a cidade venha respirar e viver, porque se não fosse a gente.... ai da cidade do Salvador”, afirmou o grupo de garis, que conversou com a equipe de reportagem do Varela Net na região da orla de Salvador.

Por meio de nota, a Limpurb respondeu: “Materiais perfurocortantes, a exemplo de seringas e agulhas contaminadas, quando descartados de forma inadequada diretamente no ‘lixo’ doméstico, podem trazer diversos riscos à saúde dos coletores. Sendo assim, é recomendado que estes materiais sejam depositados dentro de uma caixa e entregue nos postos de saúde, onde, posteriormente, terão uma destinação final segura. Havendo impossibilidade da entrega, antes de descartar na lixeira, depositar dentro de uma garrafa pet ou recipiente plástico com tampa e inserir na parte externa que se trata de material perfurocortante”.

Especialista
O médico infectologista Adriano Oliveira falou sobre as infecções que podem ocorrer em decorrência de ferimentos com objetos perfurocortantes e como os garis devem proceder após um acidente.

“Quando você abre a pele, seja por um corte ou por um furo, você permite a entrada de bactérias e bactérias são frequentes no lixo. Então, o profissional pode adquirir bactérias do meio de onde ele está trabalhando e, com isso, gerar infecções com doenças como Hepatite C e HIV, que são transmitidas pelo sangue”, explicou.

O médico ainda orientou o que deve ser feito após se ferir. “Imediatamente lavar a região, limpar e proteger o local. Se for um material usado em procedimento médico, como agulhas e bisturi, procurar um médico pra poder fazer a sorologia e ver se existe a possibilidade de contaminação pelas doenças que são transmitidas pelo sangue. Uma vez a lesão começando a ficar inflamada, vermelha, aparecendo frente, procurar imediatamente um médico para tratar, porque pode ter tido uma infecção bacteriana”, finalizou.

A Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) e o Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza Pública da Bahia (Sindlimp) foram procurados pela equipe do Varela Net, mas não informaram os dados sobre os números de acidentes registrados no ano ou mesmo no último mês, assim como não se pronunciaram sobre os EPIs utilizados pelos garis nas coletas de materiais preforucortantes.

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