Enfermeiras contam como montaram "armadilha" para flagrar médico estuprador
As profissionais começaram a desconfiar por volta de um mês antes do crime
Foto: Reprodução
As suspeitas levantadas por enfermeiras da unidade de saúde em que trabalhava Giovanni Quintella Bezerra, levaram o médico anestesista a ser preso em flagrante por estuprar uma paciente durante uma cesárea, que foi realizada no Hospital da Mulher Heloneida Studart em São João de Meriti-RJ. As profissionais começaram a desconfiar por volta de um mês antes do crime, segundo a delegada Bárbara Lomba.
No último domingo (10), dia dos abusos, as enfermeiras novamente estranharam o comportamento de Giovanni nas duas primeiras cirurgias que ele participou no dia. Então, a equipe resolveu deixar um celular escondido filmando o terceiro procedimento. O aparelho foi colocado dentro de um armário com o vidro escuro, para o médico não perceber.
A gravação foi divulgada na segunda-feira (11), onde Giovanni é flagrado com o pênis na boca da mulher, que está sedada. É possível identificar que, após o ato, ele limpa o rosto da mulher com um material que parece ser gaze, e depois joga no lixo. O material, que foi recolhido pelas enfermeiras e entregue à polícia, será analisado.
Enfermeiras da unidade revelaram à Rede Globo alguns detalhes que geraram suspeitas de que Giovanni estaria abusando de várias pacientes:
Excesso de sedativos
Em cesáreas, as mulheres costumam ficar conscientes, apenas não vendo os cortes cirúrgicos na região pélvica. Para isso, a equipe médica coloca um pano estendido numa espécie de varal que bloqueia o campo das pacientes. O remédio utilizado na operação anestesia o corpo da mulher da cintura para baixo. Umas das primeiras desconfianças das enfermeiras era justamente o excesso de sedação que as pacientes de Giovanni apresentavam.
Uma das profissionais revelou que o anestesista sedava "de maneira demasiada" e que "as pacientes nem sequer conseguiam segurar os seus bebês" após o parto. Uma das pacientes chegou a relatar uma espécie de alucinação após ser sedada.
"As pacientes [de Giovanni] ficavam complemente fora de si. Quando eram cuidadas por outro anestesista, jamais ficavam dessa maneira", disse uma funcionária.
Proximidade com as grávidas
O médico anestesista normalmente fica ao lado da grávida durante a cesárea, mas as funcionárias estranhavam a proximidade excessiva de Giovanni com as mulheres. Ele ficou o tempo todo próximo da cabeça da mulher, de modo que outros profissionais não conseguissem enxergá-lo
Uma das funcionárias do hospital alegou que "Giovanni usou um capote aberto nele próprio, alargando sua silhueta, e se posicionou de uma maneira que também impedia que qualquer pessoa pudesse ver a paciente do pescoço para cima".
Movimentos suspeitos
No parto da mulher vítima de estupro, outra testemunha também contou ter notado que o anestesista estava posicionado na direção do pescoço e da cabeça da paciente, e que fazia movimentos lentos, pra frente e pra trás, e que, pela posição do braço, pareceu estar segurando a cabeça da paciente na direção da região pélvica dele.
"Giovanni, ainda posicionado na direção do pescoço e da cabeça da paciente, iniciou, com o braço esquerdo curvado, movimentos lentos para frente e para trás", disse a testemunha.
Prisão
Um vídeo feito no momento da prisão mostra que Giovanni parece demonstrar surpresa ao tomar conhecimento de que tinha sido gravado abusando da paciente. Ele foi levado para o presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio, no início da tarde de segunda-feira (11). A audiência de custódia está marcada para a tarde desta terça-feira (12). Ele foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão.
Os advogados que inicialmente defenderiam o médico deixaram o caso. Ele não deu declarações sobre o ocorrido.