NotíciasCidadeEnem 2021: Professora cria cursinho gratuito para alunos do Subúrbio de Salvador

Enem 2021: Professora cria cursinho gratuito para alunos do Subúrbio de Salvador

Criado pela professora Maiane Soares Batizado, o Projedur fica no bairro de Alto de Coutos e também fornece aulas online

| Autor: Dara Medeiros

Foto: Arquivo pessoal

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é o principal meio para a população brasileira ingressar em uma universidade. Entretanto, nem todas as pessoas tiveram as mesmas oportunidades e qualidade de ensino, e isso faz com que o processo seletivo seja ainda mais complicado para uma parte dos inscritos.

Sabendo do abismo entre as realidades, uma professora de uma comunidade de Salvador resolveu criar um projeto gratuito para preparar os alunos periféricos para fazer o Exame e terem mais chances de ingressar em uma instituição de ensino superior.

A idealizadora do projeto é a professora Maiane Soares, de 31 anos. Ela é moradora do Subúrbio Ferroviário de Salvador e estudou em escolas públicas durante toda a sua vida, além de ter feito Licenciatura em Letras Vernáculas e estar no mestrado em Língua e Cultura na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Acreditando no poder da educação, especialmente para transformar a realidade da população menos favorecida, Maiane criou o Projeto Educacional Raízes (Projedur), localizado no bairro de Alto de Coutos. Ela acredita que o projeto é "uma forma de semear os alunos para a sociedade".

Sua trajetória é marcada pelo contato com mulheres fortes, a começar pelo fato de que ela foi criada pelas avó, mãe e tia. Dona Loi, mãe de Maiane, incentivou os estudos da filha desde a infância: "Tive muita dificuldade com algumas disciplinas na antiga 5ª série e para me ajudar, minha mãe começou a pegar os assuntos para estudar e me ensinar em casa. Com isso, ela começou a dar banca para mim. Quando os meus colegas viram minhas notas subirem, começaram a procurar minha mãe para estudar... e daí a 'Banca de Loi' dura até hoje. Graças ao empenho dela em me ajudar, eu estou onde estou", contou ela.

Sendo uma mulher preta, periférica e estudante da rede pública de ensino, Maiane Soares viveu na pele os problemas e dificuldades pelos quais alunos do Projedur enfrentam hoje, incluindo as ansiedades que surgem em época de vestibular. Quando ela ingressou na universidade, não foi através do Enem e sim pelo vestibular da Ufba. Porém, Maiane conta que a experiência também a assustou: "foi a primeira vez e eu não tinha nenhuma noção de que passaria", revelou.

O projeto
O Projeto Educacional Raízes, que agora funciona online, foi criado em dezembro de 2016 e teve a primeira aula em maio de 2017. Na época, era cobrado um valor mensal de R$ 80 para cobrir os gastos com o aluguel da escola na qual o projeto funcionava e o transporte dos educadores voluntários. No primeiro ano, dez alunos faziam parte do Projedur, e esse número foi aumentando com o passar do tempo. Em 2018, o ano letivo começou com 30 alunos e mais estudantes chegaram no segundo semestre. Desta vez, os alunos pagavam apenas o valor da blusa da farda e levavam 1kg de alimento não-perecível no dia da inscrição. A partir disso, quatro famílias de Alto de Coutos foram ajudadas com a doação de uma cesta básica.  

Em 2019, o Projedur precisou mudar as suas atividades e, ao invés de promover um curso pré-vestibular, foram realizadas oficinas de Geografia, Matemática, Redação e Linguagens para a comunidade. Isso aconteceu, porque a maior parte dos professores do projeto passaram em concursos públicos e não puderam conciliar a carga-horária. Naquela época, a possibilidade de um Ensino à Distância (EAD) nem era cogitada. Em 2020, o cursinho enfrentou a pandemia da Covid-19 desta forma. 

"Tivemos que aprender a usar as tecnologias ao nosso favor. Não sabíamos o que daria, então optamos por começar as aulas no 2º semestre e por abrir apenas 35 vagas, a quantidade que a escola havia cedido em 2018, pois pensávamos que retornaríamos ainda em 2020. Não aconteceu. Finalizamos com uns cinco alunos, desanimados com o contexto pandêmico, mas confiantes que valia a pena estar ali nos encontros virtuais, mesmo com internet ruim, barulho de sons e paredões ao redor”, lembrou Maiane, que também falou de como lidar com o contexto pandêmico afetou os docentes: "Além dos alunos, nós professores tentamos entender e assimilar as coisas [...], tentávamos garantir uma educação de qualidade".

Com maior adaptação e experiência, as aulas online foram mantidas em 2021 e isso permitiu que o Projedur alcançasse pessoas de diversos lugares do país. "Confesso que, embora eu prefira aulas presencias, porque gosto do contato direto com os alunos, as aulas on-line permitiram ao Projedur o reconhecimento em diferentes lugares do país, até fora do país soubemos que estavam sendo vistas as publicações de seleção de alunos". Diante disso, 20 vagas foram separadas para alunos de fora da Bahia, sendo 15 para alunos de escolas públicas e cinco para escolas particulares.

Inovações no Projedur
Neste ano, surgiram dois projetos inéditos internos ao Projeto Educacional Raízes: projeto de monitorias e o 'intensivão'. No primeiro, alunos da própria turma ou de turmas do ano anterior viram monitores dos colegas de classe, auxiliando no processo de aprendizagem do conteúdo e organização dos estudos. "Fizemos reuniões para prepará-los e também dividimos por bimestres", contou Maiane.

Já no segundo, o objetivo é trazer novos alunos para o projeto após o período de ingresso no início do ano. Com o 'intensivão', eles podem acompanhar o ritmo dos outros alunos e não se atrasam em relação às matérias.

Para saber mais sobre o projeto, acesse o Instagram deles: Projeto Educacional Raízes (@projedur)

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