Dia da Consciência Negra: Lucas sonha em inspirar os mais jovens
Farmacêutico baiano conta sua história de vida, problemas e preconceitos vivenciados, e como conseguiu superar todos para fazer o que ama e ser exemplo para a garotada
Foto: Arquivo Pessoal
Negros em ascensão financeira, intelectual e social estão fazendo parte cada vez mais da nossa realidade, mas ainda estão longe da representatividade esperada e merecida na sociedade brasileira.
Cerca de 54% da população do Brasil é considerada negra, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E apesar da comunidade afro-descente ultrapassar a metade das matrículas no ensino superior público brasileiro em 2018, eles ainda não estão acostumados a se verem em lugares de destaque e ganhando a mesma remuneração dos brancos, pois ainda são minoria nas posições de liderança no mercado de trabalho e entre os representantes políticos, legislativo e judiciário brasileiro.
Essa realidade escancara a existência do racismo estrutural e segregação da população negra dentro do mercado de trabalho, e que precisa ser combatida através de debates e políticas públicas que promovam oportunidades e a igualdade social para os negros.
O Varela Net conversou com Lucas Santos, 30 anos, farmacêutico formado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), sobre representatividade e a importância da comunidade negra se ver atuando em cargos de destaque e liderança, para acreditarem quem também podem ocupar aquele espaço.
“Pra mim é muito importante que em qualquer ambiente que a gente frequente tenha negro para que a gente possa se enxergar naquele papel, principalmente em profissões de nome como médico, engenheiro, advogado ou farmacêutico. Quando você vê um negro exercendo uma dessas profissões, você vê que é possível que um menino ou a menina, negro(a) da comunidade, se enxergue ali e consiga trilhar o seu objetivo”, falou.
Dificuldades
Lucas pontuou que durante sua infância e adolescência não conheceu profissionais negros em lugares de destaque em seu dia a dia. “Eu venho de uma época que eu não via tantos negros nas profissões, mas hoje em dia as crianças e os adolescentes conseguem ver mais isso e eles podem acompanhar de pertinho essa realidade acontecendo, coisas que não tive a oportunidade de ver na minha infância. Por isso é importante a gente ter representatividade para acreditarmos que é possível chegar naquele lugar que é ainda é tido como inalcançável”.
Ele também relatou sobre sua vivência no ensino superior dentro da Ufba e que a presença da população afro-descente e de baixa renda incomodava algumas pessoas. “Apesar de ser um ambiente diverso, tinha muita retaliação contra os negros e sobre o fato de terem vindos de escola pública, principalmente por conta da deficiência no ensino das escolas do Estado. Alguns perguntavam: ‘o que era a Ufba?’, porque depois do Enem começaram a entrar pessoas negras e a ocupar os lugares que eram ocupados somente por pessoas brancas e que tinham uma condição financeira elevada. E isso foi mudado”, pontuou.
Durante o expediente de trabalho, o farmacêutico recebe, apesar de alguns olhares preconceituosos, muitos elogios por parte dos pacientes que atende. “Eu consigo estar na farmácia como farmacêutico, sendo um homem negro, e apesar de perceber o preconceito por parte de um ou outro, a maioria me elogia pela competência e por estar ali atuando na profissão”.
Lucas encerrou a entrevista enfatizando que deseja ser exemplo para que outras pessoas se sintam capazes de chegar onde elas quiserem. “Sempre que vou fazer algo, além da realização pessoal e profissional, penso que vou estar representando a comunidade e quero ser espelho de forma positiva para as futuras gerações, porque eu quero que as pessoas negras se vejam nos lugares que um dia disseram que não eram nosso”, finalizou.