Contra ou a favor? Fim do Carnaval na Barra divide opiniões de soteropolitanos
Possibilidade passou a ser discutida recentemente, e o Varela Net foi às ruas perguntar o que o povo pensa sobre o assunto
Foto: Camila Souza/GOVBA
Após o prefeito de Salvador Bruno Reis (UB) e o comandate da Políca Militar (PM) da Bahia, coronel Paulo Coutinho, admitirem a possibilidade do Circuito Dodô (Barra-Ondina) do Carnaval ser transferido para a Boca do Rio, o assunto gerou polêmica e dividiu opiniões da população. Moradores da região, principalmente pessoas de mais idade, se aninam com a chance de mudança, muito por conta da grande mobilização que um evento dessa magnitude gera na Barra, com uma série de transtornos no bairro.
Algumas pessoas, que inclusive vivem na região do circuito, não são a favor da possível transferência. O fator segurança é a principal preocupação de quem não vê a mudança com bons olhos, com a Boca do Rio sendo palco de confrontos entre organizações criminosas, as famosas facções.
O Varela Net foi às ruas do Farol da Barra para entender o que o povo soteropolitano pensa sobre o assunto. Houve muita divergência nas opiniões, entre quem é favorável ou contra a novidade nas festas.
Morador do bairro há cerca de 50 anos, um senhor de 79 anos, que se identificou apenas como Cardoso, disse que mesmo já tendo ganho dinheiro alugando seu apartamento em épocas de folia, prefere que o evento seja realizado em outro local. Ele alega que a região do Centro de Convenções tem "muita área livre", e que a Barra já é muito ocupada por centros comerciais, o que já gera impacto na população do bairro.
"Eu acho que o Farol e Porto da Barra não são locais para um evento desse porte. Primeiro que a via é curta daqui para Ondina e perturba muitos moradores que já estão aqui por tantos anos. Um bairro tranquilo que virou point de Carnaval e de bagunça. Devia se transferir lá para a orla da Boca do Rio, onde fica o Centro de Convenções com muita área livre e se concentrar num lugar de evento. Bares já estão ocupando metade da via oceânica, além de batucadas de madrugada, essas coisas tiram o sossego dos moradores terrivelmente", desabafa.
Criada na Boca do Rio, mas vivendo atualmente na Ribeira, Débora disse gostar do Carnaval, e entende que a alteração pode ser "problemática", por ser uma comunidade com grande ocupação do crime organizado. Para ela, o governo terá uma "questão de segurança pública muito mais preocupante", caso realmente o circuito seja movido para seu bairro de origem.
"Eu acho muito problemática essa mudança do Circuito Barra-Ondina para a Boca do Rio. Guerras e brigas territoriais não acontecem com tanta rotina e insistência na Barra como ocorrem na Boca do Rio. Como eu nasci e cresci neste bairro, eu já sei que existem muitas comunidades com brigas de facções criminosas. Eu acredito que todos esses grupos que já fazem disputas entre si vão aparecer no Carnaval devido a proximidade. Vamos ter uma questão de segurança pública muito mais preocupante se essa mudança acontecer", justifica.
Tradição
Além da questão da segurança, algumas pessoas também pensam no tradicionalismo do Carnaval, que já acontece há muitos anos na mesma região.
"Vendo pela questão da segurança, aqui é um bairro mais nobre, e por isso é mais seguro do que a Boca do Rio, embora todos os bairros devessem ter uma segurança adequada. Também pela tradição, cultura e histórico do Carnaval ser sempre aqui. Eu não acho que tem necessidade dessa mudança. Você vê nas músicas e nas interpretações, sempre citando este circuito. Na minha opinião deveria continuar aqui", disse Tiago, morador da Barra.
Ainda há aqueles que defendem a não saída integral, mas ao menos uma redução no porte da folia, para um Carnaval com trios menores e que cause menos adversidade no bairro.
"Eu acho que o modelo de carnaval em vigor hoje não é apropriado para o bairro. O tamanho dos blocos, o barulho, o tempo... acaba atrapalhando muito a rotina do bairro. Por outro lado eu acho que a gente pode ter um modelo diferente de Carnaval aqui no bairro, com blocos menores. Um carnaval de rua que não cause tantos transtornos para a população local", contou Wendel Antunes, que também vive no bairro.
*Sob supervisão do editor Rafael Tiago Nunes